🔎 Lente #38: Será este o ano da virada do Twitter no Brasil?
Boa primeira sexta-feira de 2022, 7 de janeiro. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
#TwitterApoiaFakeNews que chegou nos mais comentados do… Twitter
Os desafios da Lupa em mais um ano eleitoral
Primeira oficina da Lupa de 2022 abordará humor e desinformação
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Twitter Brasil e o ano da virada?
O ano não começou bem para o Twitter Brasil. Na última quarta-feira (5), usuários subiram a hashtag #TwitterApoiaFakeNews nos assuntos mais comentados na rede no país. O movimento surgiu por causa do grande volume de conteúdo falso que circula no Twitter, que ainda não disponibilizou no país a ferramenta de denúncia de desinformação em potencial sobre Covid-19.
Cristina Tardáguila, fundadora da Lupa, tuitou cobrando o Twitter Brasil para que aplicasse por aqui as mesmas políticas contra desinformação já adotadas nos Estados Unidos. Também em funcionamento na Austrália e Coreia do Sul, a ferramenta contra a propagação de desinformação estreou em agosto passado para denunciar publicações que tenham informações falsas relacionadas à pandemia do novo coronavírus. A diferença de tratamento a negacionistas de Covid-19 no Brasil e em outros países ganhou repercussão e muita gente começou a exigir o mesmo.
No dia 5, o Sleeping Giants Brasil publicou um tuíte dizendo que o Twitter Brasil “precisa ouvir os usuários de sua plataforma que não aguentam mais tanta desinformação” e também cobrou que haja uma opção na plataforma para denunciar desinformação. Foi nesse tuíte que a hashtag #TwitterApoiaFakeNews apareceu, para, horas depois, chegar aos trending topics (TTs).
A disseminação da hashtag contou com mais um empurrãozinho. Também no dia 5, veio a público que a blogueira bolsonarista Bárbara Destefani havia recebido a verificação do Twitter na virada do ano. O check azul no perfil parece uma afronta, já que o perfil de Bárbara foi apontado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como parte de um mecanismo de criação e divulgação de notícias falsas contra instituições, entre elas o próprio STF. Bárbara também é citada no relatório final da CPI da Covid entre blogueiros que ajudaram a disseminar desinformação durante a pandemia.
Como bem lembrou o jornalista e professor do Insper Guilherme Felitti, Bárbara Destefani não é a primeira investigada por fake news que o Twitter Brasil verifica: um ano atrás, a conta de Tércio Arnaud Tomaz, apontado como membro do "Gabinete do Ódio", cujo nome consta no inquérito do STF que apura atos antidemocráticos, também ganhava o selo azul.
Diante da repercussão, o Ministério Público Federal (MPF) entrou em ação. Na quinta (6), o procurador da República Yuri Corrêa da Luz enviou ofício ao Twitter Brasil pedindo esclarecimentos sobre a ausência de um canal de denúncias de conteúdos falsos sobre a pandemia de Covid-19 na plataforma. A empresa tem agora 10 dias úteis para responder e ainda foi questionada sobre os critérios para conferir verificação de conta a usuários no país.
Em um fio publicado nesta quinta (6), o Twitter disse que avalia internamente revisões em processos e análises. Entre os esclarecimentos que prestou, a empresa afirmou que, desde março de 2020, tem uma “política para tratar informações enganosas sobre Covid-19”. “Ela não prevê a atuação em todo conteúdo inverídico ou questionável sobre a pandemia, mas em Tweets que possam expor as pessoas a mais risco de contrair ou transmitir a doença.” Além disso, explicou que sua abordagem contra a desinformação “vai além de manter ou retirar conteúdos e contas do ar. O Twitter tem o desafio de não arbitrar a verdade e dar às pessoas que usam o serviço o poder de expor, contrapor e discutir perspectivas”, acrescentando que, para o Twitter, “isso é servir à conversa pública”.
Sobre a ferramenta para denunciar conteúdo falso, o Twitter afirmou no fio que recentemente iniciou um teste de de denúncia de informações enganosas em diferentes categorias, incluindo Covid-19, nos EUA, Austrália e Coreia do Sul, e que “a eventual implementação em todo o mundo dependerá dos resultados aferidos”. Sobre a verificação de contas, a empresa informou ter lançado uma nova política e que o selo azul tem como objetivo confirmar a autenticidade de perfis de alto alcance e engajamento.
Isso tudo na primeira semana do ano, então imagine o que vem por aí.
Um abraço,
Marcela Duarte
Coordenadora de Produto da Lupa
2022 não será leve, mas podemos dividir o peso
Ano de eleição nunca é fácil. Vai ter muito trabalho, muita desinformação para checar, muito desafio e aprendizado. Não acredito que será leve, mas isso não desmerece meu mais sincero desejo para todos nós: que 2022 seja um ano leve.
Um rápido balanço de 2021 já nos dá indicativos suficientes para calcularmos o fardo que vem pela frente. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), em três décadas, nunca tantos profissionais de imprensa estiveram presos em razão de seu ofício. Pelo menos 293 jornalistas encontravam-se encarcerados em todo o mundo no fim do ano, 13 a mais do que em 2020. O Brasil aparece na lista com a condenação de um jornalista a cinco meses de prisão em regime semiaberto por difamação.
Essa não foi a única forma de agressão ao jornalismo no país. Uma das mais notórias é a reiterada prática do presidente Jair Bolsonaro (PL) em atacar jornalistas e veículos em sua live às quintas-feiras. Levantamento feito pela repórter da Lupa Nathália Afonso aponta que Bolsonaro atacou a imprensa em 42 de 49 transmissões ao vivo feitas ao longo do ano. Foram pelo menos 78 afirmações do presidente criticando veículos de comunicação.
No finzinho do ano, Nathália se juntou a Plínio Lopes e eles mostraram por A mais B que deputados bolsonaristas usam informação falsa para desacreditar a vacinação de crianças contra a Covid-19. Com todo esse arsenal para disseminar conteúdo enganoso, não é à toa que, entre as dez notícias mais lidas no site da Lupa em 2021, três eram sobre Covid-19 e pelo menos outras três eram desinformações usadas por membros do governo. Isso, para nós, é o mais importante: perceber que a informação verificada produzida tem relevância e, portanto, é consumida, funcionando como um antídoto contra a desinformação.
Diversos comentários em uma postagem de 22 de dezembro, em que perguntávamos qual era o boato mais absurdo de 2021, corroboram essa ideia. Muitos de nossos seguidores se mostraram perplexos com a crueldade em espalhar desinformação sobre Covid-19. Nós também ficamos, mas o que podemos garantir é que não vamos nos furtar do dever de seguir combatendo essas desinformações.
E por falar sobre nosso dever, a Lupa já começou a checar os possíveis candidatos a presidente. Nathália, Plínio e Bruno Nomura analisaram falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de Bolsonaro, do ex-ministro Sergio Moro (Podemos), do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
E isso realmente é só o começo porque, daqui até as eleições, vai ter muito, mas muito mais trabalho. Como eu dizia, não vai ser fácil, já sabemos, mas vamos cumprir nosso dever até o fim, entregando checagens de assuntos relevantes que te ajudem a refletir, especialmente em um ano eleitoral. Além de contar conosco nas checagens, você pode dar um passo além e colocar nas suas metas de 2022 combater a desinformação, fazendo parte do Contexto, o nosso programa de membros. Não vai ser leve mas, se formos numerosos, podemos dividir o peso.
O ano mal começou e já temos pelo menos um meme sobre política no Brasil: o camarão. Mas 2022 é ano eleitoral, e você já pensou sobre o impacto desses memes aparentemente inocentes no resultado das eleições? Esse é um dos pontos que serão debatidos na primeira oficina no ano da Lupa, que será ministrada pelo jornalista Roberto Kaz, que assinou por muitos anos o The piauí Herald, seção satírica da revista piauí. Ele ganhou um prêmio Esso de Reportagem quando trabalhava nO Globo, além de um Prêmio Jabuti pelo "O Livro dos Bichos", publicado pela Companhia da Letras.
Outro tópico importante que Kaz promete abordar é a sátira ― sempre um tema polêmico para nós da Lupa. Se um grupo de pessoas acredita em uma sátira, é desinformação? E qual a responsabilidade sobre o conteúdo de um programa de humor ao utilizar elementos do jornalismo? Certamente será um debate interessantíssimo, já que o humor faz parte das nossas vidas e, apesar de já ter sido muito usado para informar, denunciar e divertir, hoje em dia também serve para desinformar e manipular.
A oficina é no dia 18 de janeiro, terça-feira, às 18h30 via Sympla Streaming. Clique aqui e garanta sua vaga.
...na explosão de casos de Gripona: em inglês Flurona (gripe + corona), a coinfecção vem crescendo no Brasil, como resultado das festas de fim de ano. Com o aumento do número de pessoas viajando e encontrando familiares, os casos tanto de Influenza como de Covid-19 saltaram. Enquanto isso, os dados sobre casos e mortes em decorrência do novo coronavírus ficaram muito tempo artificialmente mais baixos por causa do ataque hacker de dezembro ao sistema do Ministério da Saúde. Ou seja, estamos finalmente começando a sair do apagão de dados, o que nos deixa sem uma base confiável de comparação dos números.
…Birds Aren’t Real: o New York Times publicou uma matéria em dezembro sobre a teoria da conspiração “Pássaros não são reais” e que, apesar de não ser nova, vem conquistando a geração Z. Como? Admitindo que pássaros são reais sim, mas tratando como uma paródia de movimento social com um propósito. Ou seja, é como se eles estivessem em uma grande piada. Vale ler a matéria completa do NYT. Vários outros veículos deram também, como a Dazed e o Washington Post.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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