Lente #41: Olavo de Carvalho e o uso do termo ‘fake news’
Boa sexta-feira, 28 de janeiro. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Morte de Olavo de Carvalho e a disputa pelo uso do termo “fake news”
Candidatos começam ano eleitoral se colocando como vítimas de mentiras
A escolha do Spotify por manter conteúdo desinformativo no ar
Morte de Olavo de Carvalho expõe banalização do termo ‘fake news’
“Ninguém, neste Brasil, foi vítima de tantas fake news quanto eu”, afirmou Olavo de Carvalho para seus seguidores no dia 13 de janeiro. O polemista, escritor e guru bolsonarista morreu na última segunda-feira, dia 24.
A estratégia não é nova, mas se mantém com êxito: propagadores de desinformação se intitulando arautos da verdade e apontando que os outros é que propagam “fake news”. Quando as mentiras desses propagadores são apontadas, o volume de informações confunde quem lê e as acusações acabam ganhando o mesmo peso, fazendo com que tanto propagadores de desinformação e como checadores possam ser taxados de produtores de “fake news”.
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump utilizou esse recurso com frequência ao afirmar que sites de checagens e jornais profissionais eram propagadores de “fake news”. Um levantamento mostrou que, na eleição em que perdeu, a cada 19 palavras proferidas por ele, havia três dados falsos em média. Porém, quando Trump acusa a imprensa profissional de “fake news”, tenta trazer o debate para o campo da disputa narrativa.
Em vida, Olavo de Carvalho propagou conteúdos falsos que vão desde apoio da Al-Qaeda a Barack Obama e que a Pepsi usa células de fetos mortos em seus refrigerantes. Ao noticiarem sua morte, as principais publicações trouxeram o termo “fake news” atrelado à biografia do guru bolsonarista ― ora usado por ele para se defender em vida, ora o caracterizando como propagador. O Globo apontou que Olavo de Carvalho era “adepto convicto de teorias da conspiração”; a Folha o nomeou “símbolo do movimento negacionista no país”; o Correio Braziliense sintetizou dizendo que ele “construía teorias conspiratórias com base em fake news”. Postagens de opositores também trouxeram a desinformação como característica de Carvalho. Os deputados Alexandre Frota e Jandira Feghali chegaram a usar o termo “fake news” para descrever sua atuação. O senador Renan Calheiros usou da ironia para dizer que o guru bolsonarista seria “enterrado na Terra Redonda”, em alusão a depoimentos de Carvalho questionando a esfericidade do planeta.
Por outro lado, apoiadores de Olavo de Carvalho o trataram como um defensor da verdade que não é dita. Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente, afirmou que ele tinha um “amor pela verdade”. Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, afirmou que o escritor ensinou a “buscar e proclamar a verdade”. Em um programa de televisão alinhado ao governo, participantes destacaram a honestidade nos textos de Carvalho.
Olavo de Carvalho criou uma escola de seguidores que pregam o chamado “olavismo” e que devem perpetuar as técnicas de produção de desinformação para confundir, chamar a imprensa profissional de “fake news” e desmoralizar a produção científica do conhecimento. A morte do “pioneiro das modernas fake news no Brasil”, como foi chamado pela IstoÉ, não enterra o uso da técnica de criar uma cortina de fumaça para confundir. Por outro lado, evidencia a banalização do termo “fake news” e o quanto isso pode desvalorizar quem realmente se compromete em combater a desinformação.
Um abraço,
Raphael Kapa
Coordenador de Educação
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Ano eleitoral começa com candidatos se afirmando vítimas de desinformação
Apesar da campanha eleitoral só começar em agosto, os principais nomes para a disputa presidencial já começam a fazer peregrinações em programas de rádio, podcasts e por cidades brasileiras. Nas redes, as postagens começam a aparecer trazendo uma diversidade de temas que vão desde economia até educação. Porém, um assunto vem aparecendo nas últimas semanas e deve despontar como estratégia eleitoral: se colocar como vítima de fake news.
O ex-presidente Lula traz em seu site uma série de notícias com a premissa de desmentir postagens sobre ele nas redes sociais. A expressão “fábrica de fake news” aparece para tratá-lo como vítima dessa indústria. Bolsonaro anunciou o lançamento de um aplicativo para as eleições onde centralizará as informações que considera corretas sobre ele. Sérgio Moro se afirmou vítima de desinformação sobre sua atuação na iniciativa privada, onde teria recebido milhões em uma empresa que é administradora judicial da Odebrecht. Moro, como juiz, atuou em processos ligados à Odebrecht e anunciou que apresentará, nesta sexta-feira, declarações de quanto recebeu e que serviço prestou. João Doria fez uma postagem para desmentir uma montagem que estipularia a Lei Seca no estado governado por ele.
Após uma eleição de 2018 em que candidatos foram acusados de propagar desinformação, a de 2022 começa com indicativos de que os postulantes tentarão incorporar o personagem de vítima das mentiras.
…no Spotify, que começou a retirar as músicas de Neil Young do ar, depois que o cantor e compositor canadense acusou a plataforma de espalhar desinformação sobre a Covid-19. Young pedia que o Spotify removesse um episódio do podcast The Joe Rogan Experience, no qual o apresentador conversava com Robert Malone. O médico ganhou notoriedade, inclusive no Brasil, por espalhar informações completamente falsas sobre vacinas de mRNA contra a Covid-19. O Spotify optou por Rogan e seu podcast, o mais popular do Spotify, que tem direitos exclusivos do programa.
…no Youtube: após um pedido de checadores por medidas de combate à desinformação na plataforma, a CEO da empresa, Susan Wojcicki, lançou uma carta detalhando as medidas que serão tomadas em 2022. A declaração mantém as principais políticas do YouTube e destaca mudanças na monetização dos criadores de conteúdo, em inovação e na proteção da plataforma.
…no TikTok: o vlogger americano Hank Green, que possui uma conta no TikTok com mais de 6 milhões de seguidores, fez um vídeo criticando a plataforma. Hank afirma que a monetização dos conteúdos caiu drasticamente e que isso prejudica os criadores.
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