🔎 Lente #49: YouTube anuncia medidas contra desinformação
Boa sexta-feira, 25 de março. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Medidas do YouTube para combater desinformação nas eleições não incluem boa parte das informações falsas sobre política;
Após suspensão judicial, Telegram apresenta propostas para combater desinformação na plataforma;
Debate sobre desinformação cresceu em popularidade desde 2019.
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YouTube anuncia medidas contra desinformação, mas exclui temas relevantes
Na terça-feira (22), a gerente de Políticas Públicas do YouTube, Alana Rizzo, publicou um texto sobre as medidas que a plataforma pretende tomar para combater a desinformação nas eleições de 2022. O texto lista medidas importantes — e que, em alguns casos, já estão em vigor — para restringir a circulação de vídeos que afetem diretamente a segurança do pleito. Contudo, ainda falta ao YouTube uma política mais clara sobre como vai lidar com conteúdos desinformativos que não se encaixem nessa definição, mas que podem alterar o resultado das urnas.
No texto, são destacados quatro tipos de conteúdo que serão passíveis de remoção: supressão de eleitores, qualificação de candidatos, interferência em processos democráticos e integridade das eleições.
O primeiro tipo é uma categoria bastante ampla e envolve todo tipo de conteúdo que incite o eleitor a não votar a partir de informações enganosas. Isso inclui desde vídeos que mintam sobre horários e locais de votação até publicações que façam falsas acusações de fraude eleitoral. O segundo trata, especificamente, de vídeos que dêem falsas informações sobre a elegibilidade de candidatos — um vídeo que diga, por exemplo, que um candidato não vai estar na urna. O terceiro tipo envolve conteúdos que incitem eleitores a atrapalhar o processo eleitoral de alguma forma. E, por fim, o quarto tipo inclui falsas alegações de fraude no passado, algo que já vem sendo difundido pela extrema-direita no país desde o ano passado.
Essas medidas são positivas e necessárias. Mas não englobam toda a desinformação que deve circular nos próximos meses.
Um exemplo muito anterior à existência do YouTube ajuda a explicar o problema. Em 1990, dois candidatos disputavam o segundo turno das eleições para o governo do Paraná: Roberto Requião, até hoje ativo na política, e José Carlos Martinez, morto em 2003. Na última semana da campanha, o programa eleitoral de Requião trouxe o depoimento de um sujeito identificado como Ferreirinha, que dizia ser um pistoleiro de aluguel contratado para matar adversários da família do outro candidato. A história ajudou Requião a vencer sua primeira eleição para governador.
O problema é que Ferreirinha não existia. O homem que “confessou” ter matado pessoas a mando da família Martinez era um motorista desempregado, que inventou toda a história. Mas a verdade só veio à tona depois das eleições.
Caso um vídeo como o de Ferreirinha apareça no YouTube, não está claro o que a plataforma vai fazer. Uma história caluniosa contra um candidato não se enquadra em nenhuma das quatro categorias que podem tornar um vídeo passível de remoção — embora a Justiça Eleitoral possa determinar sua retirada, caso provocada.
Acusações graves contra candidatos já estão acontecendo. Nos últimos meses, a Lupa verificou um vídeo manipulado que dava a entender que o presidente Jair Bolsonaro (PL) teria dito que se alistaria no exército nazista e outro em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “assumia ser possuído pelo demônio”. O que o YouTube pretende fazer a respeito de vídeos como esses?
Combater falsas acusações de fraudes eleitorais e tentativas de atrapalhar o direito alheio ao voto é muito importante. Mas essas narrativas são construídas e ganham credibilidade, muitas vezes, a partir de conteúdos que não se enquadram diretamente nos critérios definidos pelo YouTube como desinformação de risco.
Um abraço,
Chico Marés
Coordenador de Jornalismo
Após suspensão, Telegram apresenta propostas para combater desinformação em grupos públicos
Poucas horas depois de mandarmos nossa newsletter semanal, na última sexta-feira (18), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu bloquear o aplicativo de mensagens Telegram, alegando descumprimento de decisão judicial — e por isso, você não leu sobre essa decisão na edição passada. Coisas do jornalismo. Essa demora, no entanto, nos permitiu acompanhar o desenrolar do processo: no domingo, o Telegram informou ao STF que as decisões tinham sido cumpridas e o bloqueio do aplicativo foi suspenso.
Após todo o imbróglio, a empresa se comprometeu a tomar algumas medidas em relação à desinformação. Entre as medidas está o monitoramento do conteúdo disponível nos canais públicos mais populares e a inclusão de etiquetas de marcação em conteúdos desinformativos. Nesse último ponto, o Telegram diz que buscará parcerias com checadores de fatos brasileiros.
As medidas, se implementadas de fato, podem ser bastante positivas. A inclusão de etiquetas informativas que explicam aos usuários porque determinado conteúdo é falso, por exemplo, pode ser mais efetiva do que a simples remoção dessas publicações — especialmente em grupos que não são dedicados à política, que são a maioria dos canais mais populares do Telegram. A melhor maneira de combater a desinformação é repassando informação de qualidade. Ao remover sem explicações, quem compartilhou e acreditou na notícia falsa muitas vezes fica sem entender o que aconteceu e pode acreditar que foi, de alguma forma, “censurado”. Política similar é adotada por outras plataformas, como Facebook, Instagram e, mais recentemente e de maneira limitada, Twitter.
Porém, ainda não está claro como e quando isso tudo será colocado no ar, nem mesmo se existe a viabilidade técnica. Portanto, todas essas mudanças devem ser encaradas com uma certa dose de ceticismo — ainda mais se considerarmos a rapidez com a qual o Telegram foi de ignorar completamente a Justiça brasileira para propor medidas efetivas de combate à desinformação.
Outro ponto bastante importante é que não foram apresentadas medidas para mitigar o impacto da desinformação em mensagens privadas. Lógico, não é possível — e muito menos desejável — que o Telegram tenha acesso a esse tipo de comunicação. Mas medidas como restrição no número de encaminhamentos de qualquer mensagem, como o WhatsApp adota já há algum tempo, também poderiam ajudar a reduzir o impacto de disparos em massa.
…no TikTok do STF: de todos os poderes da República, o Judiciário é, de longe, o mais formal — e isso vale ainda mais para o STF, o topo dessa pirâmide. Nos últimos meses, a instituição tem tentado se aproximar do público e mudar um pouco essa imagem. Desde julho do ano passado, a corte tem conta no TikTok. E, no final de semana passado, uma de suas publicações viralizou. No vídeo, a apresentadora explica à moda do TikTok — fazendo uma dancinha ao som de “Everybody (Backstreet’s Back)”, imortalizada pelos Backstreet Boys — porque os ministros não se posicionam sobre todo e qualquer tema que polemiza nas redes sociais. Se ficou bom ou não, cabe a você decidir, leitor. Mas que fez sucesso, fez.
…na desinformação: o site norte-americano Axios publicou um levantamento feito pela empresa de mídias sociais Zignal Labs sobre a quantidade de menções a desinformação em conversas no Twitter desde 2019 — os termos usados, em inglês, foram "misinformation" e "disinformation". A conclusão é que, entre 2019 e 2020, o interesse pelo assunto mais que triplicou e continua crescendo desde então. Foram identificados três picos: o início da pandemia de Covid-19, as eleições norte-americanas de 2020 e o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Uma leitura positiva desse dado é que mais pessoas estão engajadas nesse debate — e que isso, por si só, já ajuda a combater o problema.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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