🔎 Lente #55: As falácias usadas para justificar desmatamento
Boa sexta-feira, 13 de maio. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Com dados distorcidos, Bolsonaro cria falácia ambiental — e por que isso é perigoso;
Inscrições para oficinas e Imersão Acadêmica do Misinfocon estão abertas;
Tribunal do Texas considera válida lei que limita moderação em redes sociais.
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Com dados distorcidos, Bolsonaro cria falácia para esconder falhas na gestão ambiental
Nesta segunda-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilhou em suas redes sociais um vídeo no qual busca “rebater” as críticas que sofre por causa dos efeitos de sua gestão no meio-ambiente. Dados foram profundamente distorcidos para encaixar em sua narrativa, e publicamos uma checagem para contextualizá-los. Contudo, a maior desinformação do vídeo não é a porcentagem de área preservada ou quanto do território nacional é usado para o quê. É, sim, uma falácia perigosa: a de que, se temos uma porcentagem significativa da Amazônia ainda de pé, é porque estamos fazendo um bom trabalho em protegê-la.
Se a área que temos preservada de floresta hoje é relativamente alta, isso não é uma evidência de sucesso das políticas ambientais do atual governo — ou dos seus antecessores. Trata-se apenas de um reflexo da história da ocupação do nosso território. Na Europa, o processo de destruição das florestas originais levou séculos — e foi reproduzido em boa parte do Brasil, a partir de 1500. Por diversas razões, geográficas, demográficas, culturais e tecnológicas, isso não aconteceu na Amazônia até meados do século passado — e nenhuma dessas razões, destaco, foi o desejo de preservar.
Logo, não faz sentido discutir a atuação de um governo ou de outro olhando para os números estáticos — quanto ainda temos de floresta preservada. A comparação com outros países simplesmente não faz sentido. O que precisa ser analisado é o quanto estamos destruindo agora — e, aí, os números são aterrorizantes.
Desde 1970, o Brasil já desmatou cerca de 20% da Floresta Amazônica, mais de 800 mil km² — área maior que qualquer país europeu, exceto a Rússia. Entre 1990 e o início dos anos 2000, destruía-se entre 15 e 25 mil km² de floresta por ano. Essa tendência foi reduzida a partir de 2005, e caiu progressivamente até 2012, para 4,5 mil km² — um número ainda alto, mas uma melhora mesmo assim. E desde então, o desmatamento não para de subir. Desde 2019, voltamos a desmatar mais do que 10 mil km² por ano. Apenas no último mês de abril, mil km² foram destruídos — para fins de comparação, o município do Rio de Janeiro tem 1,2 mil km². E há, ainda, mais uma fatia significativa de floresta que, se não foi totalmente desmatada, já está degradada pela atividade humana.
É verdade que esse mesmo processo já ocorreu em outros lugares no passado. Mas nós não temos o benefício da ignorância: nos mesmos anos em que desmatávamos a Amazônia, o conhecimento científico sobre o impacto dessa devastação cresceu exponencialmente. Hoje temos muito mais noção do que aconteceria — ou acontecerá — com o país se continuarmos nesse ritmo de devastação. O impacto econômico e social seria — ou será — catastrófico, sem falar no impacto na biodiversidade.
Um detalhe curioso é que o vídeo publicado por Bolsonaro claramente foi feito com uma audiência estrangeira em mente. Não foi feito para ser consumido como parte do debate eleitoral brasileiro e, sim, como mais um “argumento” em sua infrutífera briga com instituições e personalidades estrangeiras — da qual também falamos na edição passada da Lente.
Esse é um indício de que a preservação do meio ambiente não é um tópico prioritário no debate público brasileiro em ano de eleições, pelo menos na visão da classe política. Ao mesmo tempo em que cometemos suicídio ambiental em câmera lenta, preferimos debater qualquer outra coisa. E esse, talvez, seja o dado mais assustador.
Abraços,
Chico Marés
Coordenador de Jornalismo
Inscrições para oficinas e Imersão Acadêmica do MisinfoCon já estão abertas
No dia 13 de junho, a Lupa e o Hacks/Hackers realizarão a primeira edição do MisinfoCon no Brasil. O evento contará com duas oficinas ministradas pela Lupa sobre a teoria e prática da desinformação e com a Imersão Acadêmica, programação dedicada à produção universitária sobre o fenômeno da desinformação. As inscrições para participar das oficinas e apresentar trabalhos acadêmicos foram abertas nesta semana. Ambos serão realizados de forma remota.
A primeira oficina começa às 14h e será uma aula prática sobre como checar informação em eleições com Nathália Afonso, analista de projetos editoriais da Lupa. Neste curso, falaremos sobre os principais temas e as principais ferramentas usadas durante a cobertura eleitoral. O segundo workshop, às 16h, será sobre educação midiática, com o coordenador de Educação da Lupa, Raphael Kapa. A oficina propõe um pensar crítico sobre como a educação vai além da lógica da sala de aula e deve ser pensada também para plataformas de redes sociais e redações. O valor da participação é de R$ 30 cada e as inscrições devem ser feitas no Eventbrite (oficina 1 e oficina 2). Inscrições abertas até o dia 3 de junho.
Na Imersão Acadêmica, que será realizada às 12h, serão apresentadas três pesquisas sobre o tema da desinformação. A diretoria da Lupa será responsável pela escolha dos três estudos que serão apresentados virtualmente no evento. Cada pesquisador terá 10 minutos de exposição, seguida de 15 minutos de debate sobre cada tese ou artigo. As inscrições vão até o dia 3 de junho, e o anúncio dos selecionados será no dia 8. Não há custos de participação.
Além desses eventos, também haverá a apresentação de dois painéis no período da manhã, e um bate-papo com a equipe da Lupa à noite. Não perca!
…no Texas: na quarta-feira (11), a corte de apelações do estado norte-americano considerou válida uma lei que proíbe que plataformas de redes sociais moderem conteúdos com base “no ponto de vista do usuário”. Embora não proíba a moderação de desinformação de forma explícita, a lei pode colocar em xeque medidas de gigantes da tecnologia para reduzir esse problema, além de prejudicar o combate ao discurso de ódio. Entidades representativas das empresas já anunciaram que vão recorrer da decisão.
…no TSE: o Tribunal publicou na segunda-feira (9) a resposta para sete sugestões feitas pelas Forças Armadas sobre o processo eleitoral. Todas elas foram rejeitadas. Três das propostas já são parte do protocolo da Justiça Eleitoral. Além disso, nas outras propostas, há erros de cálculo e conceituação sobre o processo.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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