🔎 Lente #57: Musk e a manipulação da direita brasileira
Boa sexta-feira, 27 de maio. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Bilionário Elon Musk manipula direita brasileira com promessa de liberdade de expressão no Twitter;
Inscreva-se no debate sobre combate à desinformação com a equipe da Lupa;
Twitter, Facebook e TikTok lá embaixo no Axios Harris Poll 100.
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Como Musk manipula a direita brasileira com a oferta de compra do Twitter
Elon Musk, considerado a pessoa mais rica do mundo, esteve no Brasil na sexta-feira passada (20) para participar do evento de lançamento de um projeto envolvendo a rede de satélites da SpaceX. Segundo o próprio bilionário, o projeto vai trazer internet de alta velocidade e conectar escolas na zona rural, além de "monitorar a Amazônia".
A visita de Musk gerou comoção entre integrantes da direita brasileira. No fim de abril, o Twitter aceitou sua oferta de compra de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões). O negócio ainda não foi concluído, pode levar o ano todo e precisa da aprovação formal dos acionistas da empresa e dos órgãos regulatórios. Desde então, o bilionário tem visto crescer seu fandom brasileiro.
De Patrícia Abravanel ― filha de Silvio Santos e esposa de Fábio Faria, ministro das Comunicações e articulador da vinda de Musk ao Brasil ― ao presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal), diversos integrantes da direita foram às redes sociais manifestar seu apoio por ocasião da visita. Ainda que o tema oficial da noite fossem os projetos de internet no país, o que inclusive resultou em questionamentos a Bolsonaro sobre as razões para uma parceria com Musk de "monitoramento ambiental" da Amazônia, o que tem gerado comoção em torno do empresário é a possibilidade de que ele se torne dono do Twitter.
Na Lente #53, por ocasião do aceite por parte do Twitter à proposta, o coordenador de Jornalismo da Lupa, Chico Marés, lembrou que o bilionário se autodenominou, recentemente, um “absolutista da liberdade de expressão”. Musk se diz contra qualquer censura que vá além do estipulado por lei e já prometeu fazer o Twitter voltar à sua forma original, caso a negociação seja concluída. Enquanto uma parte do espectro político aplaude o empresário por seu suposto engajamento na ampla liberdade de expressão, a ponta oposta teme que a derrubada de regras na plataforma possa semear discursos de ódio e ameaçar o processo democrático.
O apelo que atrai a direita brasileira é o da irrestrita liberdade de expressão, direito garantido de forma bastante ampla pela constituição americana. No entanto, Musk parece muito mais preocupado com o rumo da sua fortuna do que com a causa. No dia 13 de maio, ele anunciou que a oferta que fez para a compra do Twitter estava temporariamente suspensa e acrescentou que, apesar de seguir comprometido com o negócio, a conclusão da transação depende da entrega pela empresa de cálculos que confirmem que contas falsas e spams representam menos de 5% dos usuários da rede social, como afirma a plataforma. O que o mercado avalia é que Musk quer forçar uma renegociação da oferta diante da recente desvalorização das ações do Twitter.
Para começo de conversa, Musk já oscilou bastante em se tratando de política. Em 2018, chegou a se autodeclarar "socialista" em uma postagem no Twitter. Também já se disse "moderado" e "socialmente progressista e conservador quanto à política fiscal". Segundo a Open Secrets, entidade que monitora lobby nos Estados Unidos, ele doou US$ 1,2 milhão (cerca de R$ 5,8 milhões) para políticos e partidos desde 2002, dinheiro dividido quase que igualmente entre políticos democratas e republicanos. No entanto, cerca de US$ 85 mil foram para duas causas de esquerda locais da Califórnia.
Ele já usou o Twitter para apoiar a causa contra as mudanças climáticas, a redução do consumo de combustíveis fósseis e o desenvolvimento de energias limpas ― muito alinhado com os interesses da Tesla, fabricante de carros elétricos considerados mais sustentáveis do que os movidos a gasolina ou diesel. Além disso, Musk já defendeu a descriminalização da maconha e a libertação de presos pela guerra às drogas, pautas historicamente ligadas à esquerda. Mais recentemente, no entanto, o empresário passou a chamar os democratas de partido do ódio e da discórdia e que, por isso, ele votaria nos republicanos.
Michael Cornfield, diretor de pesquisa do Centro de Gestão Política da Universidade George Washington, chama Musk de "libertário tecnológico". "Quer o mínimo de restrições governamentais possíveis: nada de regulações, impostos, parcerias público-privadas." Mas, ao mesmo tempo, ele aceita subsídios, renúncias fiscais e faz uso de pesquisas financiadas com dinheiro público.
Ou seja, Musk não é um “absolutista da liberdade de expressão”, mas alguém fortemente guiado por seu faro empreendedor. E é inegável que ele viu na direita um filão (rentável, diga-se) que ele quer agradar por interesses comerciais e financeiros com a compra do Twitter. Nas palavras de Cornfield: "em suma, ele vai usar Bolsonaro para obter tudo o que puder".
Abs,
Marcela Duarte
Gerente de Produto
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Inscreva-se no debate sobre combate à desinformação com a equipe da Lupa
Por aqui, andamos muito animados com a possibilidade de voltarmos a ter alguns eventos presenciais, claro que para poucas pessoas e com muitos cuidados. No dia 13 de junho, vamos nos reunir para debatermos o combate à desinformação, as metodologias que norteiam o fact-checking e as perspectivas para o jornalismo neste ano eleitoral. Se você quiser participar, inscreva-se na Conversa sobre Combate à Desinformação, um bate-papo com a equipe da Lupa que acontece no dia 13 de junho, às 18h, no Rio. Os ingressos são bastante limitados e custam R$ 20. Para se inscrever, clique aqui.
O evento será no formato pergunta e resposta e terá a participação de Natália Leal, diretora executiva da Lupa; Raphael Kapa, coordenador de Educação; Chico Marés, coordenador de Jornalismo; Douglas Silveira, diretor de Operações; e Marcela Duarte, gerente de Produto. A apresentação será de Luiz Fernando Carreirão, coordenador de Marketing e Novos Negócios.
A conversa presencial vai marcar o encerramento de um dia inteiro de atividades online sobre combate à desinformação previstas na primeira edição do MisinfoCon Brasil, um movimento global que busca a construção de soluções sobre verificação, fact-checking e experiência do usuário em abordagens sobre desinformação em todas as suas formas. O evento é organizado pelo Hacks/Hackers, uma comunidade internacional formada por jornalistas e programadores, com parceria da Lupa.
A programação online começa com dois painéis com transmissão ao vivo no Youtube da Lupa, a partir das 9h, com convidados de renome. Às 11h50, a Imersão Acadêmica, também transmitida ao vivo, terá a apresentação de três pesquisas sobre o fenômeno da desinformação no Brasil. À tarde, das 14h às 17h30, serão realizadas duas oficinas teóricas e práticas transmitidas via Zoom (oficina 1 e oficina 2). Aqui você pode ler a matéria com todas as informações sobre o MisinfoCon Brasil.
…no Twitter, Facebook e TikTok: as três empresas aparecem lá embaixo no ranking de reputação anual da Axios Harris das 100 empresas de maior visibilidade no mercado dos EUA. Nas posições 98, 97 e 94, respectivamente, as plataformas de redes sociais perdem para empresas como The Trump Organization (100a) e Wish.com (99a). A pesquisa é resultado de uma parceria entre o jornal digital Axios e o centro de análise de dados Harris Poll para avaliar a reputação das marcas mais visíveis da América. O top 5 é formado por 3 companhias do setor de supermercados, uma de vestuário e outra de alimentação. O Axios Harris Poll 100 é resultado de uma pesquisa online realizada de 11 de março a 3 de abril de 2022 com 33.096 norte-americanos.
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