Lente #61: O fechamento do veículo da Nobel da Paz
Boa sexta-feira, 1º de julho. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Fechamento do Rappler: "o fundamental é que vamos continuar reportando";
Menos da metade de religiosos convidados assina acordo contra desinformação;
Meta pretende acabar com ferramenta de monitoramento.
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O fundamental é que vamos continuar reportando
Na noite de sexta (24) para sábado (25), aconteceu um ataque a um bar gay em Oslo, capital da Noruega. Um homem abriu fogo, matou duas pessoas e deixou ao menos dez feridas. A cidade vivia, até então, uma atmosfera festiva por causa do verão e das atividades relativas à Parada Gay, que aconteceria no sábado. Por conta do atentado, a parada foi suspensa, gerando questionamentos se essa era a decisão correta e se não seria exatamente isso que o atirador queria. Além de um desrespeito com a família e amigos das vítimas e com quem presenciou o ocorrido, não havia clima na cidade, onde estávamos para o GlobalFact, principal evento sobre desinformação do mundo. Nosso hotel ficava a cerca de 50 metros do pub, e o entorno foi tomado por uma penumbra de choro e abraços silenciosos.
Chegando de volta ao Brasil, na terça-feira (28), o governo das Filipinas determinou o fechamento do site de notícias Rappler, da vencedora do prêmio Nobel da Paz Maria Ressa, conforme noticiado pela Lupa. Cinco dias antes, tive a oportunidade de debater desinformação nas eleições com a coordenadora de estratégia digital do Rappler, Gemma Mendoza, justamente em Oslo, no GlobalFact. Na ocasião, Gemma detalhou as estratégias adotadas pela redação do Rappler para prevenir ataques contra seus jornalistas.
A decisão aconteceu dois dias antes do fim do governo de Rodrigo Duterte, encerrado na quinta (30). "É ultrajante e vergonhoso que o governo do presidente Rodrigo Duterte, nos últimos dias de sua presidência, ataque a liberdade de imprensa de forma tão flagrante ao tentar fechar uma das maiores publicações das Filipinas", destacou a Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN) em nota. O site continua sendo atualizado mesmo assim.
O Rappler tem um histórico de mostrar corrupção e irregularidades por parte de pessoas poderosas nas Filipinas. "Por essa lente, a ação legal contra o Rappler pode e deve ser vista como retaliação", acrescentou a IFCN. Resta ainda a expectativa que o novo governo volte atrás na decisão de revogar a licença de operação do Rappler. Veículo independente de jornalismo investigativo, o Rappler é alvo de perseguição legal do governo filipino desde 2018.
O que Gemma contou à Lupa algumas horas depois de a medida do governo filipino vir a público é que há recursos de acordo com a lei, e que o Rappler fará uso de todos os que estiverem disponíveis. "Se eles tomarem medidas para fazer cumprir, estamos preparados. Temos planos de A a Z. O fundamental é que vamos continuar reportando. Como Maria sempre disse, é muito importante que continuemos mantendo a linha e nos mantendo firmes como jornalistas independentes."
Uma ocasião exigiu que se desse um passo atrás para que o coletivo se mantivesse unido; na outra, que se desse um passo à frente em nome da liberdade de imprensa, ainda que o time do Rappler estivesse consciente das possíveis ameaças à segurança. Refletindo sobre essas formas de calar, sobretudo no exercício de informar, impossível não pensar também em Brasil, em Bruno Pereira e Dom Phillips. Como signatária da IFCN e do comunicado, a Lupa se mantém firme no mesmo propósito do Rappler: "o fundamental é que vamos continuar reportando".
Abraços,
Marcela Duarte
Gerente de Produto
Menos da metade de religiosos convidados assina acordo contra desinformação
Dos 33 líderes religiosos convidados pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, a assinar um acordo contra a disseminação de informações falsas, somente 13 aceitaram. A informação foi publicada com exclusividade pela Folha de S.Paulo, que obteve o dado via Lei de Acesso à Informação (LAI). Quem acompanhou o MisinfoCon, realizado pela Lupa no dia 13, sabe que essas parcerias e colaborações são uma das apostas do TSE para as eleições deste ano – e foram abordadas por Thiago Rondon, integrante da assessoria especial de enfrentamento à desinformação do TSE.
A ideia do tribunal era receber a assinatura de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), como o empresário Carlos Wizard, além do líder da bancada evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (União Brasil-RJ), mas eles não endossaram o acordo.
Entre os que recusaram assinar estão importantes líderes evangélicos, como o bispo Eduardo Bravo, presidente da Unigrejas, que disse que não assinou o acordo devido a “temas sensíveis”, como “o chamado combate à desinformação” – justamente o mote do acordo.
…no Crowdtangle: na última quinta-feira (23), a Bloomberg publicou uma reportagem dizendo que a Meta planeja encerrar o Crowdtangle. Trata-se de uma das ferramentas mais importantes para o monitoramento de desinformação, discurso de ódio e de outros tipos de conteúdos dentro do Facebook e do Instagram. O fim dessa ferramenta seria extremamente preocupante para pesquisadores e checadores de fatos. À Bloomberg, a Meta informou que está desenvolvendo ferramentas “ainda mais valiosas” e que o Crowdtangle seguirá operando, pelo menos, até o fim das eleições de 2022 nos Estados Unidos, em novembro.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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