🔎 Lente #64: A contradição do YouTube com lives de Bolsonaro
Boa sexta-feira, 22 de julho. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
YouTube se contradiz ao manter no ar reunião de Bolsonaro com embaixadores;
Equipe da Lupa protagoniza série educativa no TikTok;
Checadores se mobilizam para que Meta não desligue ferramenta de monitoramento.
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YouTube abre precedente (muito) perigoso ao manter live em que Bolsonaro mente a embaixadores
Não é de hoje que o YouTube é cobrado para implementar políticas ― efetivas ― de combate à desinformação. Mas, ao que tudo indica, a plataforma pode ter atingido nesta semana um perigoso limite. E o pior: no Brasil.
Como já é sabido, o presidente Jair Bolsonaro (PL) promoveu na última segunda-feira (18) uma reunião com embaixadores estrangeiros e usou os microfones do Palácio do Planalto para atacar o sistema eleitoral brasileiro com uma coleção de dados falsos, enganosos e/ou imaginários.
A Lupa checou o conteúdo da fala do presidente, e o resultado desse trabalho não só foi traduzido para o inglês como também difundido mundo afora pela Transparência Internacional - Brasil (TI BR). O fato de a organização ter emitido uma nota afirmando ser “extremamente importante documentar sistematicamente a conduta do presidente em exercício” por acreditar que ela “pode constituir responsabilidade criminal no ordenamento jurídico brasileiro" gerou comoção. E a dobradinha Lupa + TI BR foi noticiada por CNN, UOL e Estadão.
Nesta semana também vimos o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, reagir em alto e bom tom às falas de Bolsonaro. Fachin não engoliu a nota emitida pela Secretaria de Comunicação da Presidência afirmando que, com o evento para os embaixadores, o presidente pretendia “aprimorar os padrões de transparência” das eleições. Em discurso feito na OAB do Paraná, o ministro afirmou que é hora “de dizer basta à desinformação e ao populismo autoritário que coloca em xeque a Constituição de 1988”. Depois ressaltou que os ataques feitos por Bolsonaro às urnas eletrônicas nesta semana foram ainda mais graves que os anteriores por envolverem política internacional e Forças Armadas. “É importante a sociedade civil e o cidadão entenderem que esse tipo de desinformação, como a de hoje, pode continuar, uma vez que ao negacionismo não interessam as provas incontestes e os fatos. Portanto, precisamos nos unir e não aceitar sem questionarmos a razão de tanto ataque.”
E Fachin continuou seu contra-ataque. Na quinta-feira (21), deu cinco dias para que o presidente se manifeste nas ações interpostas por diversos partidos que questionaram na Justiça o conteúdo repassado ao embaixadores. O PDT, por exemplo, solicitou que o TSE determine a retirada do ar dos vídeos da reunião com embaixadores ― publicados nas páginas do presidente ― e pede que Bolsonaro seja multado por propaganda antecipada. A Rede e o PCdoB também solicitam a retirada de conteúdo, mas focam no canal da TV Brasil no YouTube. O PT requer que Bolsonaro seja obrigado a retirar o vídeo de suas páginas e mais: solicita que ele se abstenha de fazer outras publicações com o mesmo teor anti-democrático.
É claro que, nas redes sociais, já pipoca a narrativa da censura. Aguardemos cenas do próximo capítulo.
E como se isso tudo não bastasse, ainda vimos na quinta-feira (21) que o YouTube decidiu manter no ar a transmissão da nefasta reunião. Em nota divulgada pela Folha de S.Paulo, a plataforma informou que, após revisão, não encontrou “violações às políticas de comunidade do YouTube” e que suas equipes trabalham para garantir o equilíbrio entre liberdade de expressão e segurança de quem se informa na plataforma.
A Lupa apurou que o sangue borbulhou nos corredores do TSE. Vem aí uma resposta contundente.
Vale lembrar que, no mesmo dia da apresentação aos embaixadores, o YouTube tirou do ar uma live feita por Bolsonaro em 29 de julho de 2021. A gravação também continha alegações falsas de que as urnas eletrônicas brasileiras haviam sido hackeadas e que os votos tinham sido adulterados.
É fato que a política do YouTube prevê a retirada de vídeos referentes a 2018, mas fica difícil sustentar que é a antiguidade de uma informação falsa que define se ela fica ou não no ar.
Bom fim de semana,
Marcela Duarte
Gerente de Produto
Equipe da Lupa passa para a frente da câmera em série no TikTok
A Lupa colocou no ar, na semana passada, uma nova série, pensada exclusivamente para o TikTok. Com o apoio da plataforma, vamos criar vários conteúdos sobre educação midiática. A ideia é se valer de recursos e da linguagem do TikTok para desenvolvermos uma espécie de minicurso de combate à desinformação para quem segue a Lupa. Nossa intenção é que seja tão divertido e orgânico que os usuários nem percebam que se trata de educação ― talvez tenha até dancinha para falar de desinformação.
Uma das novidades é que várias pessoas da Lupa vão se revezar em frente à câmera do celular. O que está por trás dessa decisão é que precisamos falar para as mais diversas audiências, onde quer que elas estejam.
Por isso, colocamos nosso coordenador de Educação, Raphael Kapa, trocando de roupa para contar por que a Lupa evita usar o termo fake news. A analista de Audiência e Engajamento, Mikhaela Araújo, personifica três grandes vilãs. O repórter Bruno Nomura foi superdidático para explicar como descobrir se uma informação é falsa em cinco passos. E nossa estagiária Nycolle de Moraes conversou com seu "tio" para mostrar que o diálogo é o melhor caminho.
Quem continua ― por ora ― atrás das câmeras liderando o trabalho é a analista de Projetos Editoriais, Nathália Afonso, e a coordenadora de Audiência e Engajamento, Raquel Moura.
Não esqueça de seguir a Lupa no TikTok para acompanhar os próximos episódios da série, que vai ao ar até janeiro.
…no CrowdTangle: checadores do mundo todo estão se mobilizando para tentar convencer a Meta a não interromper o serviço. O CrowdTangle é uma ferramenta importantíssima de monitoramento de redes sociais ― muito usada na Lupa e por vários outros checadores brasileiros. Segundo o Rappler, veículo da vencedora do Nobel Maria Ressa, desligar a ferramenta de monitoramento de mídia social iria contra os compromissos do Facebook sob o novo Código de Prática contra a Desinformação, que pede mais transparência sobre o que as plataformas estão fazendo contra a desinformação;
…no Supremo Tribunal Federal: o ministro do STF Alexandre de Moraes atendeu a um pedido do PT e concedeu liminar para que bolsonaristas e sites que publicaram notícias falsas que ligam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e ao sequestro e assassinato de Celso Daniel apaguem as publicações. Em decisão assinada durante o plantão de domingo (17), Moraes também determinou que sejam removidos conteúdos que tiraram de contexto uma fala do petista, dando a entender que o ex-presidente teria comparado a população pobre a papel higiênico.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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