🔎Lente #67: Bolsonaristas rivalizam com carta pela democracia

Boa sexta-feira, 12 de agosto. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Bolsonaristas rivalizam com carta pela democracia, mas não conseguem;
YouTube volta atrás e tira do ar reunião de Bolsonaro com embaixadores;
Deputados federais do PL-SP mantêm "demônios de Michelle" na boca do povo.
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Bolsonaristas falham ao tentar rivalizar com carta pela democracia
Enquanto a carta pela democracia era lida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) na quinta-feira (11), as redes bolsonaristas se articulavam para tentar se impor na internet. A estratégia do dia era transformar a hashtag #ADemocraciaÉDeTodos em um dos tópicos mais comentados do Twitter do dia. Mas isso não aconteceu.
Foram escalados para essa tarefa os melhores soldados do bolsonarismo, entre eles a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o cantor Netinho, pré-candidato a deputado federal pelo PL da Bahia. No fim da manhã, ambos resgataram um tuíte do presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizando o manifesto.
O empresário Luciano Hang também se esforçou. Convocou militantes a assinarem "presencialmente uma carta pela democracia nas ruas” no dia 7 de setembro. E foi seguido pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Como a repórter da Lupa Carol Macário e a analista de Audiência e Engajamento Mikhaela Araújo mostraram em matéria publicada no final da tarde de ontem (11), a estratégia fracassou. A dupla identificou dois movimentos muito claros nessa tentativa. Um foi esse, de levantar a hashtag #ADemocraciaÉDeTodos. O outro foi o de tentar viralizar um manifesto contrário à carta, o Manifesto à Nação Brasileira - Defesa das Liberdades, assinado pelo Movimento Advogados de Direita Brasil (ADBR).
Entre os dias 28 de julho e 11 de agosto, só no Facebook, 332 publicações sobre o tema viralizaram, angariando mais de 140,3 mil interações. Mais de 860 mil pessoas assinaram esta petição virtual até ontem. Não é pouco.
E quem estuda as armas usadas nessa guerra virtual vê que elas são um tanto questionáveis. Esse manifesto contrário à carta da democracia, por exemplo, foi compartilhado por páginas de Facebook já denunciadas por propagar desinformação. Também há claros indícios de uso de bots para incentivar pessoas a assinarem esse manifesto. Segundo reportagem da Pública, gastaram dinheiro para “turbinar” esse texto paralelo.
Por outro lado, há um nítido descompasso entre a era das redes sociais e o que vimos ontem do lado de dentro da faculdade de Direito da USP. No primeiro ato da manhã, a leitura do manifesto "Em Defesa da Democracia e da Justiça" (apelidado de "carta dos empresários"), chamou a atenção a quantidade de homens brancos. A diversidade brasileira ficou do lado de fora, na leitura da carta da democracia, amenizando o mal estar.
A inspiração era o que aconteceu em outro 11 de agosto, o de 1977, quando alunos e professores reunidos no mesmo prédio saíram em passeata contra a ditadura militar. Faltou trazer para os dias de hoje ou, para falar uma linguagem condizente, o esprit du temps, que a rede bolsonarista tão bem sabe explorar ― vide o compartilhamento de vídeos curtos feitos a partir da entrevista de Bolsonaro ao podcast Flow na segunda-feira (8).
Há falas empoladas, a leitura em jogral da carta e o hino nacional ― nada compartilhável. Daniela Mercury cantando à capela "o canto da diversidade sou eu" e dando um beijo na esposa ficou de coadjuvante no ambiente digital, depois que o ato já havia sido encerrado e a multidão se dispersava.
Um abraço,
Marcela Duarte
Gerente de Produto

YouTube volta atrás e tira do ar reunião de Bolsonaro com embaixadores
Na Lente #64, de 22 de julho, escrevi sobre a contradição do YouTube com lives de Bolsonaro. Na véspera, dia 21, o YouTube havia decidido manter no ar a transmissão da reunião do presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores estrangeiros em que usou os microfones do Palácio do Planalto para atacar o sistema eleitoral brasileiro com uma coleção de dados falsos e enganosos. Apesar de ter dito que "não foram encontradas violações às políticas de comunidade do YouTube no vídeo em questão", o YouTube revisou sua posição 20 dias depois e tirou do ar a gravação do evento.
Segundo nota do YouTube divulgada nesta quarta (10), "a política de integridade eleitoral do YouTube proíbe conteúdo com informações falsas sobre fraude generalizada, erros ou problemas técnicos que supostamente tenham alterado o resultado de eleições anteriores, após os resultados já terem sido oficialmente confirmados. Essa diretriz agora também se aplica às eleições presidenciais brasileiras de 2014, além do pleito de 2018".
Ou seja, nada justifica a decisão anterior do YouTube. É muito bom que a política tenha sido, de fato, aplicada, mas é necessário que haja rigor e coerência.

…na primeira grande peça desinformativa dessa eleição: Cristina Tardáguila, fundadora da Lupa, aponta em sua coluna no UOL que bancada do Partido Liberal de São Paulo com parte da mídia bolsonarista são os principais responsáveis por manter ativa a conversa nas redes sociais sobre "os demônios de Michelle Bolsonaro". Eles foram invocados pela primeira-dama no domingo passado, em Belo Horizonte, onde disse que, antes de seu marido ocupar o Palácio do Planalto, o local era "consagrado a demônios". Não fossem Marcos Feliciano, Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, a primeira grande teoria conspiratória da eleição deste ano não teria viralizado tanto. As informações são do monitoramento de postagens feitas no Twitter e YouTube por acadêmicos da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) entre domingo e quinta-feira (11).
…no hacker da Vaza Jato: a campanha de Bolsonaro se encontrou com o hacker Walter Delgatti, conhecido como hacker da Vaza Jato, para saber a opinião dele sobre a segurança das urnas eletrônicas. A informação é do advogado Ariovaldo Moreira, que defende Delgatti. O hacker foi o responsável pelo vazamento de dados de contas do Telegram usadas por autoridades. Ele chegou a ser preso em 2019 e está em liberdade.
…na Meta: entre 26 de junho e 31 de julho, ao menos 21 anúncios com desinformação sobre processo eleitoral foram autorizados no Facebook e Instagram. Há, por exemplo, conteúdos que põem em dúvida a apuração do pleito de 2020, afirmam que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já conhecem os resultados da votação que ocorrerá em outubro e lançam teorias da conspiração sobre as urnas eletrônicas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) veda que postulantes a cargos eletivos disseminem fatos “sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados” a respeito do sistema eleitoral.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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