🔎 Lente #68: Fake news em grupo é amostra do bolsonarismo
Boa sexta-feira, 19 de agosto. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Grupo de empresários bolsonaristas é amostra do efeito da desinformação;
Lupa amplia parcerias, equipe e canais para ser aliada do eleitor em 2022;
Pesquisa falsa em vídeo manipulado expõe perigo das imagens editadas.
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Fake news em grupo de empresários é extrato do Brasil de Bolsonaro
São sintomáticas do momento que vive o Brasil as revelações do colunista Guilherme Amado, no portal Metrópoles, sobre o teor das conversas que circulam em um grupo da elite empresarial brasileira no WhatsApp. Desde a última quarta-feira (17), Amado e seu time de jornalistas mostram que a desinformação corre solta entre uma seleta parcela de bem-sucedidos empresários de diferentes regiões do país. Em comum, eles têm ideias bastante equivocadas sobre democracia, processo eleitoral e liberdades constitucionais, entre outros assuntos.
Não é novidade que os grupos de WhatsApp são terreno fértil para os conteúdos falsos de toda sorte. A figura do "tio do zap" se popularizou no Brasil, como uma metáfora para quem, a despeito da realidade, espalha "informação" sem checar (por mais absurda que ela possa parecer). E apesar de, nas rodinhas progressistas, soar como ataque, não ofende àqueles que, fechados em suas próprias câmaras de eco, só ouvem o reverberar de seus próprios absurdos.
Ancorados na criptografia, os aplicativos de mensagem acabam sendo um desafio para quem monitora conteúdos falsos. Capturar o que se discute em grupos privados depende, muitas vezes, de se ter um aliado entre os alvos ou um infiltrado que possa passar despercebido. Obviamente, já há monitoramento em grupos públicos, e eles são um termômetro do que se encontra nos grupos particulares. Porém, nesses espaços fechados e protegidos (e, muitas vezes, inacessíveis a quem combate a desinformação), é fácil encontrar uma fotografia inequívoca dos efeitos da desinformação e do discurso de ódio no debate público.
Em tempos nos quais se faz necessário reeditar uma carta em defesa do estado democrático de direito, parece surreal que um grupo de homens endinheirados não sinta constrangimento em incitar um golpe de Estado. Ou que algum deles cogite presentear, com bônus em dinheiro, funcionários que deem seus votos ao preferido do patrão, sem imaginar que, ao levantar essa possibilidade, esteja se encaminhando para cometer um crime eleitoral.
As conversas reveladas por Amado e sua equipe são também um atestado de que a crise da desinformação no Brasil é, mais do que tudo, educacional — e isso não está ligado à condição financeira ou à falta de oportunidades. Da mesma forma que a crença em teorias conspiratórias parece independer do acesso a fontes de informação confiáveis e estar mais ligada, nesse caso, a uma opção consciente por um lado da narrativa.
Em meio a essas e outras discussões, há empresários que defendem o uso de mentiras descaradas para vencer aquilo que classificam como uma "guerra", mas que não passa de um processo constitucional, garantido por lei, no qual vale o exercício do direito coletivo à escolha. Também há muita contradição: um desrespeito total pela liberdade de imprensa, com ataques direcionados a jornalistas usando palavras de baixo calão, em oposição ao clamor constante pela liberdade de expressão (facilmente confundida com uma permissão total e irrestrita para travestir de opinião ataques a grupos minoritários e diferentes).
Num grupo fechado, como o que deu origem às reportagens do Metrópoles, há menos pudor, menos restrição. É um quarto isolado, no qual se normalizam muitos absurdos, estejam eles baseados em informações verdadeiras ou não. A sociedade, com seus códigos (não apenas os legais, mas também os morais, éticos, de convivência e civilidade), sempre foi o contraponto a isso. O perigo reside em deixar de ser.
Manifestações baseadas em inverdades precisam ser sufocadas, seja nos ambientes particulares, seja nos ambientes públicos. Combater a desinformação é também contribuir para que amostras condensadas de ódio, mentiras e falta de educação — como as que nos dá a elite empresarial brasileira retratada na reportagem — não apenas não se espalhem, mas sejam desfeitas na sua origem.
Um abraço,
Natália Leal
CEO
Acompanhe a campanha eleitoral com a Lupa
A campanha eleitoral começou oficialmente nesta semana, e a Lupa anunciou uma série de ações para estar ao lado dos eleitores no combate à desinformação nesse período. Com uma equipe maior e parcerias tecnológicas, vamos monitorar diferentes plataformas de redes sociais e levar informação verificada à nossa audiência em mais de uma dezena de espaços e formatos diferentes.
Para nossos leitores mais fiéis, o grande destaque é que teremos uma ombudsman analisando a nossa cobertura ― e, principalmente, criticando-a com total independência. Esse trabalho ficará a cargo da jornalista Paula Cesarino Costa, que já foi ombudsman da Folha. A primeira coluna dela sai nesta sexta-feira.
A Lupa aumentou seu investimento em ferramentas de monitoramento. Por meio de parcerias estratégicas, a empresa chega à eleição sendo capaz de analisar dados de publicações feitas no Facebook, Instagram, Twitter, TikTok e YouTube. A Lupa também dispõe de monitores desenhados por especialistas acadêmicos para entender o fluxo de informações de WhatsApp e Telegram.
O investimento em ferramentas e em equipe viabilizará aumentar a produção da Lupa, seja em conteúdos no lupa.news, seja nas redes sociais. Além de checar entrevistas e debates de presidenciáveis, a equipe produzirá verificações sobre candidatos a governador. Reportagens especiais analisarão o ambiente de desinformação nas redes. Conteúdos de Educação também abordarão temas relacionados às eleições. As informações serão distribuídas aos nossos leitores pelas redes sociais, inclusive em projetos especiais ― um deles você já pode conferir no TikTok. A Agência Mural levará conteúdo verificado a espaços em que a Lupa não chegava.
Até o fim do ano, serão dezenas de iniciativas. Acompanhe a cobertura da Lupa nas Eleições 2022:
Site: lupa.news
Facebook: facebook/LupaNews
Instagram: @agencia_lupa
LinkedIn linkedin.com/company/agencialupa
TikTok: @agencialupa
Twitter: @agencialupa
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…na desinformação em vídeo: alguns dizem que é a primeira "deepfake" da campanha eleitoral de 2022, outros que é apenas uma edição simples. O fato é que tomou conta das redes sociais na última semana um vídeo do Jornal Nacional manipulado digitalmente, no qual o presidente Jair Bolsonaro aparece em primeiro lugar em uma pesquisa eleitoral — o que não é verdadeiro, e a Lupa mostrou isso na quarta-feira. Os resultados falsos estão na voz da jornalista Renata Vasconcelos, que apresenta o principal telejornal da TV Globo ao lado de William Bonner. A emissora confirmou que o conteúdo é mentiroso e denunciou o material ao Ministério Público Eleitoral e ao sistema de alertas de desinformação do Tribunal Superior Eleitoral.
…no ministro Alexandre: depois de tomar posse como presidente do TSE — e fazer um discurso duro em defesa das urnas eletrônicas, tomado como muitos como um verdadeiro ataque ao presidente Jair Bolsonaro —, o ministro Alexandre de Moraes teve sua primeira vitória no comando da corte. Ontem, o tribunal decidiu liberar novamente dados que haviam sido considerados sigilosos, sobre os bens dos políticos que concorrem nas eleições deste ano. As informações haviam sido protegidas com base na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), mas a Corte voltou atrás. Ainda há uma polêmica na mesa: se a LGPD será aplicada também aos dados daqueles que doam para as campanhas. O tribunal ainda não tem data para tomar essa decisão.
…no Facebook: que nesta semana foi tema de uma matéria do Global Witness que concluiu que a plataforma não está conseguindo detectar desinformação relacionada a eleições. A reportagem aponta que as tensões são altas no Brasil, com a crescente ameaça de desinformação – que prejudica os resultados eleitorais e pode levar à violência – ofuscando o período de campanha. O que acontece por aqui é semelhante ao que já havia sido detectado em Mianmar, Etiópia e Quênia, onde o Facebook não conseguia detectar discurso de ódio em ambientes políticos voláteis. Só que a diferença é que, aqui no Brasil, os anúncios têm informações eleitorais totalmente falsas (como a data errada da eleição) e conteúdo produzido para desacreditar o processo eleitoral.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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