🔎 Lente nas Eleições #4: RedeTV! deu palco a (velhas) mentiras
Olá!
Nesta edição da Lente nas Eleições, trazemos a análise da entrevista do candidato-presidente Jair Bolsonaro (PL) à RedeTV! e suas repercussões. E também respondemos a algumas dúvidas surgidas entre a nossa audiência sobre por que checamos algumas frases que parecem ter sido apenas um engano dos candidatos. Se você está entre os que se perguntam isso, essa edição é para você :)
Nos vemos de novo em breve! Ótimo fim de semana!
Natália Leal
CEO
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Jogando em casa, Bolsonaro usa o palanque da RedeTV! para repetir desinformação
Cobrimos ao vivo, na noite desta quinta-feira (1º), a sabatina do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rede TV!, a primeira da série de entrevistas com presidenciáveis do canal. Uma situação engraçada, porque a entrevista em si, na verdade, foi gravada pela manhã e retransmitida às 20h — então, ao vivo, apenas nós.
Como era de se esperar de um canal de televisão cujo dono saiu em defesa de Bolsonaro após seu grotesco ataque à jornalista Vera Magalhães, a entrevista foi um palanque em concessão pública para que o presidente dissesse exatamente o que queria dizer, sem espaço para qualquer tipo de contestação. O título da coluna de Maurício Stycer sobre o evento diz o suficiente: “Na RedeTV!, Bolsonaro realiza o sonho de descrever um governo sem erros”.
Seguindo o script, Bolsonaro tentou reparar os danos que causou a si mesmo no debate da Band e recebeu, logo de cara, uma certamente inesperada pergunta sobre as políticas sobre mulheres de seu governo. E respondeu já com uma peça de desinformação de campanha: a famosa lista das 72 (ou “mais de 60”, nas palavras de Bolsonaro) leis “criadas” por Bolsonaro para as mulheres.
A lista, que viralizou nas redes através da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, inclui leis como a que estabelece limites de gastos de campanha para pleitos municipais e que tipifica o crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral. Apenas 40 tem alguma relação, por menor que seja, com políticas para mulheres. E nenhuma delas partiu do Palácio do Planalto.
Ao longo da entrevista, Bolsonaro repetiu informações falsas já checadas em diversas oportunidades — como, por exemplo, que a Amazônia “não pega fogo” — e voltou a insistir em acusações estapafúrdias como a de que, antes de ele virar presidente, existiam livros didáticos no ensino público que mostravam crianças fazendo sexo.
Em nenhum momento, os entrevistadores questionaram qualquer uma dessas afirmações — nem mesmo quando ele, presidente de um país que teve uma taxa de mortalidade por Covid-19 quatro vezes acima da média mundial, disse não ter cometido nenhum erro na condução da pandemia. O que apenas reforça a necessidade de checarmos esse tipo de entrevista.
Por que checamos os "escorregões" dos candidatos?
Recentemente, tivemos dois casos semelhantes em que seguidores da Lupa nas redes sociais questionaram nossas checagens. O primeiro aconteceu com Ciro Gomes, que, durante sua entrevista ao Jornal Nacional na semana passada, afirmou que “O Brasil tem 11,6 mil policiais apenas”. O segundo aconteceu com Simone Tebet (MDB), também na entrevista ao JN, que disse que "uma mulher candidata à presidência da República (...) é inédito na história".
Evidentemente que, antes mesmo de fazermos a checagem, nos passou pela cabeça que talvez Ciro estivesse pensando no número de policiais federais ou que Tebet quisesse dizer que o feito inédito seria uma mulher candidata à presidência pelo MDB. Por que, então, seguimos com a checagem, se poderia simplesmente ser um lapso?
A resposta é muito simples: independentemente da intenção, se a pessoa proferiu um dado falso vale a checagem, já que muitas pessoas podem acreditar naquilo que foi dito. Não cabe aos checadores avaliar se houve intenção ou não: o fact checking não é feito de informações subjetivas, mas de uma análise fria e objetiva do que foi dito literalmente.
Além disso, narrativas desinformativas, muitas vezes, usam do artifício de pegar um dado verdadeiro e omitir alguma parte da informação. Como, então, garantir que houve ou não a intenção?
De todo modo, candidatos a qualquer cargo político em campanha vão falar centenas, talvez milhares de informações checáveis durante uma campanha eleitoral. É totalmente compreensivo que, eventualmente, haja um erro desproposital. E é por isso também que, o que se espera nesses casos, é que quem é checado simplesmente admita o erro ― e corrija sua fala a partir de então.
...na misoginia: Apoiadores de Bolsonaro voltaram a espalhar informações falsas sobre a jornalista Vera Magalhães depois do debate da Band, no último domingo — quando o presidente ofendeu a jornalista após pergunta que o desagradou. Um vídeo editado acusava a jornalista de ter premeditado o “surto” de Bolsonaro — e a informação falsa chegou a ser citada por uma jornalista da Jovem Pan, ao vivo. O pastor Silas Malafaia também reciclou, no Twitter, uma informação falsa sobre o salário de Vera.
...no Datapovo: A desinformação sobre pesquisas eleitorais continua forte nas redes. Nesta semana, um influenciador bolsonarista “descobriu” que o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) tem o mesmo endereço que o Instituto Lula. Exceto que, obviamente, isso não é verdade: o instituto fica no Jardim Europa, enquanto o instituto fica no Ipiranga, ambos em São Paulo. A fundação do ex-presidente antes se chamava Instituto de Pesquisas e Cidadania, o que motivou a “confusão”.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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