🔎 Lente nas Eleições #6: Bolsonaro recicla falsidades na ONU
De olho nas eleições, Bolsonaro recicla informações falsas na ONU pelo 4° ano seguido
Assim como em sua passagem pela Inglaterra para o enterro da Rainha Elizabeth II, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU como palanque de campanha. Se na sua primeira participação, em 2019, ele usou da posição privilegiada do Brasil para citar teorias conspiratórias sobre o Mais Médicos e o Foro de São Paulo e criticar lideranças europeias, desta vez, preferiu martelar em temas de sua campanha para a reeleição — embora tenha sobrado tempo para críticas à Venezuela e aos governos que o antecederam. Ele voltou a defender as ações do governo na pandemia, na economia e na proteção do meio ambiente.
Usando um tom menos agressivo do que em outras ocasiões, Bolsonaro usou novamente informações incorretas para tentar recuperar o voto feminino. Mesmo tendo sido desmentido publicamente inúmeras vezes, ele insistiu na falsa informação de que seu governo criou mais de 70 leis visando à proteção da mulher. Essa listagem inclui leis que não têm nenhuma relação específica com mulheres — como a 13.874/2019, que tipifica o crime de calúnia eleitoral —, leis que foram vetadas por Bolsonaro e cujos vetos foram derrubados pelo Congresso — como a lei 14.214/2021, que prevê a distribuição gratuita de absorventes para mulheres carentes — e leis que não têm relação específica com mulheres e, ainda por cima, foram inicialmente vetadas pelo presidente — como a 14.399/2022, de incentivo à cultura.
Ele também voltou a insistir na informação falsa de que o atual governo reduziu o número de feminicídios — quando, na verdade, esse número cresceu em relação ao patamar de 2018.
Boa parte do discurso deste ano repetiu 2021. Bolsonaro voltou a dizer que “eliminou a corrupção” de seu governo — apesar de escândalos como o pagamento de propinas para liberação de verbas do Ministério da Educação e a facilitação da exportação de madeira ilegal pelo Ministério do Meio Ambiente. Ele voltou a citar dados da Operação Acolhida — alguns deles exagerados, como o número de migrantes que ingressa diariamente no Brasil — e da vacinação por Covid-19 — sem mencionar, claro, as vezes que citou informações falsas sobre imunizantes, incluindo a falsa relação das vacinas com o vírus HIV.
A Lupa recuperou as checagens feitas em 2019, 2020 e 2021 e comparou com o discurso desta terça-feira, em uma reportagem publicada após o discurso.
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Vídeos manipulados acendem alerta
Lupa detectou, no fim de semana, o segundo caso de uma manipulação muito bem feita em vídeo nesta eleição. Coincidentemente, tanto o primeiro como o segundo casos são gravações do Jornal Nacional com alterações nos resultados de pesquisa eleitoral e começaram a circular com mais ou menos um mês de intervalo entre eles.
O modus operandi é o mesmo em ambos os vídeos: é feita uma edição ou emulação da voz dos apresentadores do JN, além da manipulação da imagem, invertendo o resultado da pesquisa eleitoral apresentada no noticiário, de modo que coloque o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) em vantagem.
Embora o primeiro vídeo tenha sido rapidamente desmentido, pode ser que a estratégia tenha dado certo em algumas bolhas, levando à produção de um segundo ― o que é extremamente preocupante. Deepfakes são um fantasma que há anos ronda os checadores: estão por aí, mas nunca foram uma preocupação muito grande no oceano de desinformação em que nadamos de braçada.
Esses dois episódios recentes acenderam os alertas dos checadores. Seria o começo de uma nova era para a checagem?
… no Papo Reto no Zap: projeto com a Agência Mural de Jornalismo das Periferias e o WhatsApp intitulado Papo Reto no Zap vai verificar informações enviadas por moradores de territórios de São Paulo. A primeira checagem já foi ao ar e pode ser conferida no site da Mural. A sugestão veio de um morador de Vila Galvão, em Guarulhos, e o tema é muito representativo desta eleição: uma peça que circula nas redes e que aponta que Lula teria dito que vai fechar igrejas evangélicas. O pessoal da Mural foi logo passando o papo reto, explicando que a informação é falsa. Além de Guarulhos, a Mural vai receber sugestões de moradores de Capão Redondo, Cidade Tiradentes e Jardim Fontalis. Um dos objetivos do projeto é fazer fact-checking hiperlocal, entregando informação verificada sobre temas que normalmente as agências de checagem não cobrem. Conhece alguém desses territórios? O formulário de inscrição está aqui.
… na volta das fakes que não foram: percebendo um movimento que tem se acentuado nesta eleição, a Lupa publica, desde segunda-feira (19), a atualização das peças desinformativas já checadas e que não nos deixam em paz. Lula abraçando e beijando Suzane von Richthofen, spray nasal anticovid, “maconhaço” e tombo de Ivete Sangalo são alguns dos conteúdos já desmentidos e que voltaram a circular com força nesta espécie de ataque zumbi.
… nas plataformas: um grupo de mais de cem organizações da sociedade civil e acadêmicas publicou, na sexta-feira (16), um balanço das políticas contra a desinformação nas principais redes sociais durante as Eleições de 2022. As instituições concluíram que, faltando menos de um mês para a realização do primeiro turno, há questões fundamentais a serem resolvidas.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
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