🔎 Lente nas Eleições #11: após contagem, fakes atacam pesquisas
Oi!
Foi um fim de semana alucinante aqui. Estamos cansados, mas entusiasmados para a cobertura do segundo turno, que começou ontem mesmo.
Não sabemos desde quando estamos em “estado de plantão”. Agora é aproveitar esses dois ou três dias em que as campanhas também estão se reorganizando para recuperar as energias e partir para mais um mês de cobertura eleitoral.
Desde a cobertura do debate da Globo, na noite de quinta-feira (29), foram dezenas de frases checadas, diversas verificações de peças desinformativas que circularam nas redes sociais, matérias analíticas, live no TikTok, Space no Twitter, newsletters, listas de transmissão, atualizações no Telegram, entre outros. E podem esperar que vamos repetir a dose com ainda mais atrações no segundo turno.
Um abraço,
Equipe Lupa
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Divergências entre pesquisas e resultados viram gasolina na fogueira da desinformação
O domingo de eleição foi cheio de surpresas, mas a realização de um segundo turno nas eleições presidenciais não é uma delas. No sábado antes da eleição, os principais institutos de pesquisa colocavam o segundo turno em suspenso — tanto Datafolha, que apontava o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 50%, quanto o Ipec, cuja pesquisa mostrava 51%, deixavam a segunda volta na margem de erro. Com 99,9% das urnas apuradas, Lula marcava 48,4% — dentro da margem do primeiro, e 0,6% abaixo do segundo.
Esse, porém, foi o único “acerto” dos institutos. A pontuação real de Bolsonaro ficou bastante acima do indicado: 43,21%, sete pontos percentuais acima do Datafolha e seis do Ipec. Consequentemente, Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) também pontuaram abaixo do esperado.
Mais grave, porém, foi a divergência das últimas pesquisas nas corridas de governador e senador, especialmente no Sul e no Sudeste. O segundo turno no Rio de Janeiro parecia algo muito próximo, mas o que ocorreu, de fato, foi uma lavada do incumbente Cláudio Castro (PL). Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) apareceram em posições praticamente espelhadas. E, no Senado, Márcio França (PSB), que parecia próximo de ser eleito senador, viu suas chances irem para o espaço com uma votação expressiva — 49,68% — do ministro-astronauta Marcos Pontes (PL).
Metodologicamente, não é possível falar em erros e acertos de institutos, uma vez que não houve realização de pesquisas de boca de urna no dia da votação — os últimos levantamentos capturaram somente a situação de quinta-feira e sábado. Aliás, diga-se de passagem, os contratempos na apuração de estados-chave deixaram muita gente pensando que elas fizeram falta. Ainda assim, as divergências são bastante significativas e mostram uma dificuldade das pesquisas em estimar o tamanho real do eleitorado bolsonarista.
Essas divergências ajudam a corroer a credibilidade dos institutos. Nas últimas semanas, toda sorte de desinformação sobre pesquisas circulou nas redes sociais, o que instigou inclusive atos de violência e ameaça contra pesquisadores de campo. E é certo que, a partir de amanhã, apoiadores de Bolsonaro virão à forra contra eles — o próprio presidente já disse, em sua primeira entrevista pós-primeiro turno, que eles têm que “parar de fazer pesquisas”.
Há uma certa ironia nisso, visto que, apesar de tudo, as previsões do Datafolha e Ipec foram muito mais próximas da realidade do que a pesquisa Brasmarket que mostrava vitória de Bolsonaro no primeiro turno, ou, pior ainda, as tresloucadas enquetes de redes sociais com centenas de milhares de votos que pipocaram na internet ao longo de toda a campanha.
As pesquisas, especialmente dos institutos mais tradicionais, são ferramentas importantíssimas para a análise do cenário político, mas suas metodologias precisam ser reavaliadas à luz de tudo o que aconteceu neste domingo.
Fenômeno em 2018, vídeos gravados em sessões de votação não viralizaram em 2022
Apesar das acusações de fraudes nas urnas continuarem bastante vivas, o fenômeno dos vídeos em sessões de votação com falsas acusações não se repetiu em 2022. A eleição passada foi marcada por uma enxurrada de vídeos de eleitores que diziam que Bolsonaro “não estava na urna”, além de uma notória gravação manipulada que mostrava uma urna que se “autopreenchia”. Não só o volume foi imenso, mas a viralização desses conteúdos — impulsionados, aliás, por diversos candidatos que vieram a ser eleitos naquele ano — foi fora da curva.
Isso não se repetiu em 2022. Alguns vídeos chegaram a pipocar nas redes sociais, mas com bem menos compartilhamentos — embora o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tenha compartilhado uma acusação falsa contra mesários no Pará, cobrando explicações do TSE.
Há três possíveis explicações não excludentes para isso. Por um lado, as plataformas de redes sociais (Meta, Twitter e YouTube, principalmente) estabeleceram critérios mais rígidos para conteúdos que coloquem em risco o processo eleitoral, o que pode ter desincentivado influenciadores mais estabelecidos a compartilhar esse tipo de material. Por outro, a Justiça Eleitoral, ainda que com três anos de atraso, cassou um deputado paranaense que compartilhou esse tipo de conteúdo. Como muitos desses influenciadores hoje dobram como políticos, o medo de receber uma punição da Justiça talvez tenha ajudado a maneirar os ânimos.
Por fim, a mais simples de todas: neste ano, o TSE determinou que os celulares ficassem guardados com os mesários durante a votação — o que reduz as possibilidades de gravação.
Isso, porém, não significa que checadores, plataformas e TSE devam baixar a guarda no dia 30. Ainda mais se os institutos de pesquisa e trackings apontarem para uma derrota de Bolsonaro — visto que nenhum dos vídeos de 2018 acusava a ausência de Fernando Haddad (PT), ou outro candidato de esquerda, das urnas.
…na Lupa: nesta segunda, sai do forno uma matéria especial com o monitoramento que fizemos das redes sociais a partir da abertura da apuração. Spoiler: as pesquisas foram fortemente atacadas, especialmente pela direita — que pede uma “CPI” dos institutos de pesquisa, mas também pela esquerda. Fique de olho no site e nas redes sociais da Lupa.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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