🔎 Lente nas Eleições #12: mentiras repetidas no 1º debate do 2º turno
Bom dia!
Este domingo (16), a exatamente duas semanas da votação em segundo turno das Eleições 2022, foi marcado pelo primeiro debate com a participação somente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
O enfrentamento direto entre os dois candidatos resultou em uma série de ataques, exatamente como vimos acontecer nas redes sociais nas duas últimas semanas. E, certamente, o acirramento dos ânimos não deve arrefecer na reta final da campanha.
Vimos também o retorno de informações falsas já desmentidas, que, pelo visto, seguirão conosco até o dia 30. Até lá, checaremos novamente quantas vezes forem necessárias.
Abs,
Equipe Lupa
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Bolsonaro repete fake sobre CPX; Lula insiste em informações erradas sobre seus mandatos
Neste domingo (16), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se enfrentaram no primeiro debate do segundo turno, realizado por um pool de veículos — Band, TV Cultura, Folha de S.Paulo e UOL. A Lupa checou mais de 30 declarações dos candidatos.
Bolsonaro, mais uma vez, apelou para notícias falsas que circularam nas redes sociais de seus apoiadores ao longo da semana passada. Ele insistiu em relacionar a visita de Lula ao Complexo do Alemão — que chamou de “Complexo do Salgueiro” — com o tráfico de drogas, embora não haja nenhuma evidência disso. Ao longo da semana, bolsonaristas insistiram na tese de que a sigla CPX — presente em um boné que Lula usou durante a visita — seria uma referência ao tráfico. Na verdade, as letras indicam apenas a palavra “Complexo”, e são usadas por moradores como referência ao bairro.
As redes bolsonaristas divulgaram, ao longo da semana, uma foto de Lula com o ator e modelo Diego Raymond dizendo que ele seria um “traficante perigoso”. Raymond esteve envolvido com o crime organizado até 2010, quando foi preso, abandonou a criminalidade em 2011 e passou a trabalhar como ator.
O presidente voltou a insistir em informações falsas sobre a Covid-19. Disse, por exemplo, que o Brasil foi um dos países onde a vacinação aconteceu de forma mais rápida — na verdade, nos primeiros meses de 2021, o ritmo da imunização no país era mais lento do que em dezenas de países. Ele também mentiu ao atribuir a criação do chamado “orçamento secreto” ao ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia — e foi desmentido pelo próprio no Twitter.
Lula, por sua vez, voltou a citar informações falsas ou exageradas sobre o período em que o PT governou o país. Além de alguns destaques já desmentidos pela Lupa — como um número exagerado de vagas de emprego criadas durante os governos petistas —, o ex-presidente disse que não decretou sigilo, ao contrário de Bolsonaro. Porém, reportagem do Estadão de 2010 revelou que o petista escondeu informações triviais, como gastos com hospedagem e alimentação, do público.
O petista também disse, mais de uma vez, que Bolsonaro apenas o elogiava na Câmara quando ele era presidente — chegando a classificá-lo como um “puxa-saco”. A informação não tem qualquer embasamento na realidade. O atual presidente usou o plenário, em inúmeras ocasiões entre 2003 e 2010, para criticar Lula e o governo, e fez oposição durante todo o período.
De canalha a senhor Alexandre de Moraes: o que mudou após vídeo do ‘pintou um clima’
As horas que antecederam o debate da Band, neste domingo, foram de especulações e incertezas, já que pegou muito mal parte de uma entrevista de Bolsonaro a um podcast na sexta-feira (14). No trecho em questão, da entrevista ao canal do YouTube Paparazzo Rubro-Negro, o presidente disse que avistou adolescentes venezuelanas de 14 e 15 anos durante um passeio de moto no ano passado por uma comunidade nas proximidades de Brasília e que “pintou um clima” antes de pedir para ir à casa delas. O presidente sugeriu na entrevista que elas estavam "arrumadas para ganhar a vida".
A repercussão foi imediata e altamente negativa. Hashtags como "Bolsonaro pedófilo" se multiplicaram ao longo da tarde e na noite de sábado, tanto que já passava da meia-noite de domingo quando Bolsonaro decidiu abrir uma live no YouTube e no Facebook para se explicar. O candidato e presidente acusou seus adversários de deturparem o trecho da entrevista.
O PT impulsionou um vídeo com a fala de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas. “Pintou um clima? Com uma menina de 14 anos? É esse homem que diz defender a família?”, dizia a narração do vídeo impulsionado pela campanha de Lula.
Enquanto Michelle e Flávio Bolsonaro lançavam mão da narrativa de que o presidente usa a expressão “pintou um clima” a toda hora, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, determinava a remoção de vídeos postados por perfis da campanha de Lula em redes sociais que reproduziram a fala de Bolsonaro sobre venezuelanas ou qualquer conteúdo relacionado. Moraes ordenou ainda que TikTok, Instagram, Linkedin, YouTube, Facebook e Kwai tirem do ar conteúdo postado pela campanha de Lula sobre o tema.
Com isso, o que se viu no debate foi Bolsonaro destacando a decisão de Moraes, a quem já chamou de canalha e contra quem chegou a apresentar ao Senado um pedido de impeachment. “Você me chama o tempo todo de genocida, miliciano, canibal, e a última: o seu programa, influenciado por Gleisi Hoffmann, me acusou de pedofilia. Tentando me atingir naquilo que é mais sagrado: defesa da família brasileira e das crianças. Ato contínuo, o que aconteceu no dia de hoje? O senhor Alexandre de Moraes dá uma sentença contrária a essas fake news e mentiras”, disse Bolsonaro.
Além da expressão “pintou um clima” e da situação inexplicável, também chamou a atenção que a história escondia uma prevaricação: se o presidente da República testemunhou um crime, que é a exploração sexual de menores, por que não denunciou?
A explicação é simples: isso nunca aconteceu. A história é uma invenção. Bolsonaro, de fato, visitou um abrigo em São Sebastião, nos arredores de Brasília, em 2021. As adolescentes que encontrou, na verdade, participavam de uma ação social para refugiados que oferece curso de estética, maquiagem e corte de cabelo. O encontro foi, inclusive, filmado.
…em Janones: a campanha de Bolsonaro pediu para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspenda os perfis do deputado mineiro nas redes sociais durante as eleições. André Janones (Avante-MG) ganhou notoriedade ao espalhar informações falsas ou sensacionalistas sobre o presidente e seus aliados. É uma situação bastante irônica, já que o próprio grupo de apoiadores de Bolsonaro usa táticas semelhantes contra seus adversários — nesta semana, por exemplo, Flávio Bolsonaro, Carla Zambelli e outros insistiram na informação falsa de que CPX seria uma referência ao Comando Vermelho.
…em Damares Alves: no dia 8, a senadora eleita e ex-ministra de Bolsonaro discursou em uma igreja evangélica em Goiás. Na ocasião, ela “revelou” que, enquanto era ministra, “descobriu” um caso de crianças raptadas na Ilha de Marajó que tinham os dentes arrancados para práticas sexuais, entre outras coisas. Contudo, o jornal O Globo descobriu que a história grotesca contada por Damares era uma reprodução quase idêntica de um texto ficcional publicado no 4chan — fórum anônimo notório por conteúdos extremos. Paralelamente, instituições responsáveis por investigar o caso negaram a existência de qualquer situação semelhante à descrita por Damares — embora, é claro, existam casos de exploração sexual de menores na região. Pega na mentira, a ex-ministra disse que apenas ouviu a denúncia de pessoas na rua — só que, na igreja, ela disse que teve acesso até mesmo a supostas filmagens.
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