🔎 Lente nas Eleições #15: há MUITO a fazer até 2024
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Bom dia!
No Twitter, um meme viralizou dizendo que Joaquin Phoenix treinou para o papel de Coringa trabalhando como jornalista nas eleições brasileiras. Humor à parte, a piada não poderia estar mais longe da verdade. Cobrir eleições é trabalho duro, mas é um prazer imenso para quem gosta de fazer jornalismo. E, agora que chegamos ao fim das eleições, agradecemos você, leitor da Lente e que acompanha o trabalho da Lupa, por participar dessa jornada conosco.
Com 50,9% dos votos, Lula foi eleito, pela terceira vez, presidente do Brasil. Preparamos uma reportagem mostrando, em dados, o país que ele vai governar a partir de 2023. O mesmo fizemos para Tarcísio de Freitas, eleito governador do maior estado do país, São Paulo, com 55,27% dos votos.
A eleição acabou, mas o período pós-eleitoral costuma ser um dos mais férteis em desinformação — e, assim, o trabalho continua por aqui. E esperamos que vocês continuem acompanhando conosco.
Um abraço,
Equipe Lupa
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Durma com um barulho desses
O plantão do fim de semana de votação do segundo turno começou agitado. No sábado (29), começaram a pipocar vídeos nas redes sociais mostrando a deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP) em posse de uma arma perseguindo um homem na rua, no bairro dos Jardins, em São Paulo. O homem entra em uma padaria, e Zambelli vai atrás. No estabelecimento, ela dirige ameaças ao homem, enquanto aponta a arma para ele. O resultado foi que as menções a Carla Zambelli dispararam no Twitter e no WhatsApp, perdendo apenas para menções ao jogo entre Flamengo e Athletico Paranaense que, naquele momento, disputavam a final da Taça Libertadores.
O resultado foi uma divisão entre os bolsonaristas: parte saiu em defesa da deputada, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o chefe da comunicação da campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten; mas houve quem se manifestou contra a deputada, como o deputado federal eleito e ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles (PL).
No domingo (30), foi a vez de ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) virarem alvo de denúncias em redes sociais sob suspeita de impedimento de votação, principalmente no Nordeste. O resultado foi que as blitze impulsionaram termos relacionados ao assunto em redes sociais e, às 17h40, “Nordeste” era o assunto mais comentado no Twitter no mundo e no Brasil, com 2,63 milhões de tuítes. O termo foi impulsionado depois que “Deixem o Nordeste votar” teve um rápido crescimento ao longo da tarde. “Não houve prejuízo aos eleitores, no tocante a eles poderem exercer o seu direito de voto”, garantiu o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, na tarde de domingo.
Ao longo do final de semana, o TSE endureceu as regras contra a desinformação na reta final das eleições. Nas 36 horas que antecederam o fim da votação, a corte removeu 701 links para conteúdos falsos — incluindo posts de congressistas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL). O TSE suspendeu 15 perfis de desinformadores e determinou a remoção de impulsionamento de 354 conteúdos.
Algumas das informações falsas foram checadas pela Lupa. O deputado federal eleito Gustavo Gayer (PP-GO), por exemplo, foi um dos que publicou um panfleto apócrifo com supostas “promessas de Lula”. O santinho tinha identidade visual semelhante a dos materiais de campanha do petista, mas não tinha assinatura e apresentava propostas que Lula nunca fez — como “Estado livre de movimentos cristão” e “liberação gradual das drogas”. A tática de imprimir panfletos falsos do adversário é picaretagem antiga, mas ganhou nova roupagem nas redes — e foi um dos conteúdos com mais engajamento no sábado.
Outra proposta inexistente de Lula que viralizou nas redes sociais e foi excluída por decisão do TSE foi a extinção dos microempreendedores individuais (MEI). No debate da Globo, na sexta (28), ele criticou Bolsonaro por incluir o MEI no novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregado (Caged). Essa fala foi distorcida por diversos bolsonaristas, incluindo o próprio Gayer, Carla Zambelli (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e dois dos filhos de Bolsonaro, Carlos e Flávio.
Na noite deste domingo, enquanto Lula se tornava o primeiro a ser eleito para um terceiro mandato, Bolsonaro se via como o primeiro presidente a perder a reeleição. Um dos principais aliados de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu que o resultado das urnas seja respeitado. O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também reconheceu o resultado das eleições, assim como diversos líderes mundiais, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A Casa Branca enviou uma nota curta em que afirma que as eleições brasileiras foram justas. O presidente da França, Emmanuel Macron, parabenizou o petista e disse que juntos os dois unirão "forças para enfrentar os muitos desafios comuns e renovar o vínculo de amizade entre nossos dois países".
Mesmo aliados de primeira hora de Bolsonaro reconheceram a vitória de Lula. Salles tuitou que o resultado da eleição “traz muitas reflexões e a necessidade de buscar caminhos de pacificação de um País literalmente dividido ao meio”, além de dizer que é hora de serenidade.
Bolsonaro não cumprimentou o vencedor das eleições, como é de praxe, nem falou com seus próprios aliados. Às 22h06, as luzes do Palácio da Alvorada foram apagadas.
Durma com um barulho desses.
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Editorial Lupa: Educação é vital para reduzir impacto da desinformação em 2024 e 2026
A presença inequívoca da desinformação fará com que a eleição de 2022 fique marcada, por muitos anos, como a mais polarizada do recente período democrático brasileiro. Não há dúvidas de que a disseminação de conteúdos falsos foi estratégia das mais relevantes no acirramento dos ânimos no debate político, desnudando um Brasil que resiste à informação verificada. As táticas para conter esses fenômenos precisam ser revistas para 2024 e 2026, e a Lupa aposta, sem titubear, na educação midiática.
Também é necessário estabelecer que as plataformas digitais precisam ser chamadas à sua responsabilidade como atores fundamentais desse processo. Melhores políticas sobre circulação de desinformação em seus ambientes — e a real aplicação delas —, além de mais transparência dos algoritmos e punições exemplares a atores reincidentes precisam ser discutidas e implementadas, a perigo de, em quatro anos, nos depararmos com uma situação ainda mais caótica.
O jornalismo precisa ser fortalecido, aumentando sua atuação nas investigações de cadeias desinformativas e quem as financia. A Lupa já afirmou, no 1º turno, que seguirá checando os eleitos, como faz desde 2015. Reafirma seu compromisso com a checagem, segue desenvolvendo novas ferramentas e ajustando sua metodologia para fazer com que ela seja ainda mais efetiva nas próximas eleições.
A Lupa sabe, no entanto, que apenas a checagem não será suficiente para chegarmos a 2024 e 2026 mais bem preparados para lidar com a desinformação e seus impactos. São necessários investimentos massivos na educação midiática, e a Lupa seguirá atuando na base da educação pública e privada, nos ensinos básico e superior, para torná-la realidade.
Ainda engatinha a capacidade de medir o quanto as fake news mudam votos. Mas é possível afirmar, sem sombra de dúvidas, que, apesar dos esforços de diferentes instituições, elas adquiriram papel central na vivência política dos eleitores. Muito mais se fez em 2022 na tentativa de frear o impacto da desinformação, com ações colaborativas entre checadores e instituições eleitorais. Mas ainda há manchas e dúvidas sobre a credibilidade do processo eleitoral. Isso precisa acabar.
Para a Lupa, a educação midiática é chave para que 2024 não repita 2022. E para que, em 2026, se possa discutir também propostas de Brasil, esquecidas em meio ao mar de conteúdos falsos que invadiu a campanha deste ano. Até lá, a Lupa estará checando, investigando e discutindo esse fenômeno em todos os âmbitos possíveis, na busca por cidadãos mais bem preparados para decisões que impactem suas vidas e a de todos. Sem desinformação.
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…em Bolsonaro: pela primeira vez desde a redemocratização, o candidato derrotado não reconheceu publicamente a vitória do adversário. Ao contrário de Fernando Haddad, Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin e Lula, em três ocasiões, o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou após perder as eleições. Às vezes, a admissão de derrota foi graciosa — como Lula, em 1989, falando em união para recuperar o país após derrota para Fernando Collor. Outras, nem tanto: em 1998, Lula falou da derrota para Fernando Henrique Cardoso em termos de “vítimas votando no carrasco”. Mas não admitir a derrota é inédito. E preocupante. Bolsonaro já está no Palácio do Planalto desde a manhã desta segunda-feira (31), mas não há previsão de entrevistas, nem de pronunciamentos do presidente.
…no que Lula tem pela frente: o cenário econômico é repleto de incertezas no Brasil e no mundo. Ao mesmo tempo em que alguns indicadores comprovam uma melhora da economia pós-pandemia de Covid-19, outros apontam que o reaquecimento econômico ocorre de forma desigual. O novo chefe do Executivo terá que lidar com um choque de realidade em relação aos investimentos previstos para o próximo ano. Na saúde, as taxas de vacinação são alarmantes, enquanto o orçamento projetado para a área será o menor desde 2014. Na educação, o repasse de recursos para os ensinos básico, profissionalizante e superior terá nova queda. No meio ambiente, a Amazônia e o Cerrado batem recordes de desmatamento. Outro setor que precisará de atenção é a segurança. Embora o número de homicídios esteja caindo desde 2018, o Brasil continua sendo um dos países que mais matam no mundo e com uma população cada vez mais armada.
…no que aguarda Tarcísio: nos próximos quatro anos, o governador eleito em São Paulo terá pela frente desafios que incluem o aumento da extrema pobreza no estado, o alto número de furtos e roubos e a defasagem escolar causada pela pandemia. Também terá de lidar com temas que levantaram discussões na campanha eleitoral, como a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a instalação de câmeras nos uniformes da Polícia Militar.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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