🔎 Lente #71: De má-fé, PL tenta anular eleição
Boa sexta-feira, 25 de novembro. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
De má-fé, partido do presidente tenta melar eleição por causa de erro irrelevante;
Desinformador norte-americano que mentiu sobre massacre em escola terá de indenizar vítimas;
Apoiador da vacinação, Richarlison ganha holofotes por atuação dentro e fora de campo.
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PL age de má-fé e tenta anular eleição com base em detalhe irrelevante
Imagine que houve uma pequena falha na produção das bolas Al Rihla encomendadas para a Copa do Mundo. Em um dos lotes, um pequeno elemento gráfico em um dos gomos acabou por não ser impresso. Um detalhe tão insignificante que ninguém percebeu. Todo o resto estava perfeito, todas as outras especificações, especialmente as que realmente importam — o peso, as costuras, o material — estavam dentro do padrão. Assim, elas acabaram sendo usadas nos jogos do grupo H da Copa do Mundo.
Continuando esse exercício de imaginação, o que você acharia se a federação da Sérvia descobrisse esse defeito irrelevante nas bolas e pedisse para que o jogo contra a seleção brasileira da última quinta-feira fosse anulado pela Fifa?
Pois o pedido do PL para anular milhões de votos de brasileiros é, em suma, um paralelo disso.
Uma análise contratada pelo partido constatou que, em alguns modelos de urnas, houve problemas com o código de identificação no log das máquinas. Indo por partes: o log das urnas é um arquivo que registra o histórico de ocorrências durante a votação. Não consta nele o registro dos votos, mas os eventos, em ordem cronológica, que ocorreram durante a votação — a urna foi ligada, o título de um eleitor foi digitado, a biometria foi autorizada etc.
Esse documento serve para analisar possíveis irregularidades ocorridas em um local de votação. Digamos que, em uma determinada seção, as urnas foram desligadas antes do horário determinado, ou que a zerésima não foi emitida. O log serve para que os acontecimentos (ou a falta deles) possam ser revisados.
Além dessas informações, o log também conta com informações sobre a urna utilizada, incluindo um código único que serve para identificá-la diretamente. E, em alguns modelos mais antigos de urnas, esse código não foi registrado. Isso não significa, contudo, que os logs não permitem a identificação da urna. Há outras informações no mesmo documento que podem ser usadas para confirmar que uma máquina foi usada em uma determinada seção. Ou seja, esse erro é absolutamente irrelevante.
E foi com base nesse detalhe que o PL ingressou com uma ação pedindo a anulação de 59% dos votos no segundo turno das eleições presidenciais de 2022 — não há, no pedido, qualquer menção ao primeiro turno, ocasião na qual as mesmas urnas foram utilizadas. O partido do presidente Jair Bolsonaro queria que o voto legítimo de milhões de brasileiros fosse ignorado por conta de uma tecnicidade que não influiu no processo eleitoral em absolutamente nenhum aspecto.
Na quarta-feira (23), o ministro Alexandre de Moraes rejeitou o pedido e determinou uma multa de R$ 22,9 milhões ao partido por litigância de má fé. Não há descrição melhor para essa tentativa inconsequente, irresponsável e patética de melar as eleições: má fé, malícia, desonestidade.
Se o PL apostou alto, o ministro dobrou a aposta.
O Brasil não aguenta mais tanto chororô.
Abraços,
Chico Marés
Coordenador de Jornalismo
Nos EUA, juiz confirma indenização milionária a família vítima de desinformação
Se a multa de R$ 22,9 milhões que o PL recebeu por tentar melar a eleição foi salgada, Valdemar da Costa Neto pode ao menos dormir em paz sabendo que não é o desinformador conspiracionista norte-americano Alex Jones. Proprietário do infame Infowars, site de notícias falsas e teorias da conspiração que ganhou muito destaque na última década, Jones terá que pagar US$ 49,3 milhões à família de uma das vítimas do massacre de Sandy Hook. O motivo: ele passou anos espalhando a mentira de que o caso era uma “farsa”.
Em 2012, um atirador invadiu uma escola em Connecticut chamada Sandy Hook, matou 20 crianças e seis professores e cometeu suicídio. O Infowars passou anos espalhando a falsa informação de que esse massacre nunca teria acontecido e que tudo não passaria de uma farsa do governo americano para desarmar seus cidadãos. Ele acusou pais de crianças mortas no ataque de serem atores, e policiais que trabalharam no dia do acidente de serem parte da suposta conspiração. Influenciados por Jones, pessoas desconhecidas ameaçaram as famílias das vítimas, vandalizaram os túmulos das crianças, entre outras agressões.
Nesta quarta-feira (23), uma juíza do Texas determinou que Jones pagasse US$ 49,3 milhões a uma família que perdeu uma criança de seis anos no massacre. A defesa argumentava que, pela legislação do estado, a indenização estaria limitada a US$ 750 mil, mas a Justiça entendeu que a lei seria inconstitucional. Esse valor representa apenas uma parte do que Jones deve às vítimas.
Essa não é a primeira condenação de Jones por esse caso. Em outubro, um tribunal no estado de Connecticut determinou que o desinformador pagasse quase US$ 1 bilhão a seis famílias de vítimas e a um agente do FBI. Durante o processo, ele finalmente admitiu que estava mentindo o todo o tempo.
…no Richarlison: o jogador foi o responsável pelos dois gols da seleção brasileira na estreia do Brasil na Copa do Mundo do Qatar, em partida contra a Sérvia nesta quinta-feira (24). Com isso, o atacante do Tottenham virou o centro das atenções na cobertura pós-jogo, especialmente por seu posicionamento fora de campo em causas sociais. Em novembro do ano passado, por exemplo, ele fez uma postagem em parceria com o site The Players’Tribune incentivando a vacinação contra a Covid-19. Ele também é apoiador do Projeto USP Vida, programa da Universidade de São Paulo que busca arrecadar verbas para pesquisas e projetos científicos. Em setembro de 2020, se manifestou publicamente em favor do Pantanal e, um pouco antes, também ajudou a divulgar o futebol feminino. Como todo assunto em alta, o jogador pode virar alvo de desinformação.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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