🔎 Lente #74: A importância dos discursos de Lula e Moraes
Boa sexta-feira, 16 de dezembro. Esta é a última edição de 2022 da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa. Após o recesso de fim de ano, voltamos em janeiro. Veja os destaques desta edição:
Lula e Moraes falaram sobre riscos da desinformação, enquanto bolsonaristas dão aula prática;
PL e Ministério da Justiça fizeram dobradinha para perseguir institutos de pesquisa;
“Absolutista” da liberdade de expressão, Musk suspende conta que monitora informações sobre seu avião particular.
Curte a Lente? Envie este link e convide seus amigos para assinarem a newsletter
Vândalos munidos de narrativas mentirosas mostram por que é importante combater desinformação
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na segunda-feira (12). Na cerimônia, a desinformação foi tema de discurso tanto do petista como do presidente do tribunal, Alexandre de Moraes. Como se fosse ensaiado, no mesmo dia, vândalos se apoiaram em mentiras sobre o processo eleitoral para queimar carros e tentar invadir a sede da Polícia Federal, deixando claro que esse tema é, sim, uma questão fundamental para a sociedade brasileira em 2023.
No seu discurso, Lula apontou para o aspecto transnacional da desinformação, falando em inimigos da democracia em todo o mundo usando “mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável”. Ele também apontou a necessidade de discutir o tema “nas trincheiras da governança global”.
O aspecto internacional do ecossistema de desinformação é, de fato, um ponto importante. Está bastante claro que os extremistas brasileiros copiaram e colaram o manual de estratégia de Donald Trump nas eleições de 2020. Primeiro, inventar toda a sorte de acusação de fraude, sem nenhuma preocupação com a verossimilhança ou coerência da narrativa. O importante é manter a ideia de que as eleições foram “roubadas”.
Depois, usar um grupo de pessoas radicalizadas e imbecilizadas pela torrente de mentiras para criar o caos na sociedade — indo desde os bloqueios de estrada até as cenas grotescas promovidas por bolsonaristas em Brasília na segunda-feira.
Mais que inspiração, está nítida a participação de atores estrangeiros nessa estratégia. O exemplo mais óbvio é o argentino Fernando Cerimedo, que desde as eleições tenta fazer colar alguma mentira sobre o processo eleitoral — a última foi um tosquíssimo site no qual eleitores poderiam “consultar seu voto”, como se a urna fizesse o registro nominalmente.
Moraes foi mais incisivo. Assim como Lula, criticou movimentos internacionais “extremistas, criminosos e antidemocráticos [que] pretendem, a partir da desinformação, desacreditar a própria democracia”. O ministro também disse que esses grupos organizados “serão integralmente responsabilizados para que isso não retorne nas próximas eleições”.
Horas depois da diplomação, grupos de extrema-direita inflamados pela narrativa desinformativa tentaram invadir a sede da Polícia Federal, vandalizaram carros e ônibus, bloquearam o trânsito. O estopim foi a prisão, determinada pelo próprio Moraes, de um falso cacique, que teria convocado manifestantes armados para impedir a diplomação. E o que mais chamou a atenção é que, além do pseudo-cacique, ninguém foi preso, mesmo cometendo crimes e mais crimes registrados em vídeo.
As cenas dantescas em Brasília demonstram por que Lula e Moraes estão certos ao dizer que os desinformadores precisam ser punidos. Mas fica uma dúvida: se, para punir crimes comuns fartamente documentados, o Estado brasileiro (incluindo as polícias militares) não age, é possível acreditar que os mentores intelectuais da baderna serão responsabilizados?
Abraços,
Chico Marés
Coordenador de Jornalismo
Ministro fez dobradinha com campanha de Bolsonaro para perseguir institutos de pesquisa
Mais uma vez, um ministro de estado agiu abertamente sob os comandos da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL). Reportagem do UOL publicada nesta quinta-feira (15) mostrou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, pediu que a Polícia Federal (PF) investigasse institutos de pesquisa com base em um pedido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
As “evidências” usadas por Torres para embasar o pedido se limitavam a uma planilha de Excel que comparava o resultado das urnas com as pesquisas realizadas em dias anteriores ao pleito. Na Lupa, já explicamos como as pesquisas funcionam e por que esse tipo de comparação é cientificamente incorreta. Para piorar, Torres ignorou solenemente as pesquisas que apontavam Bolsonaro na liderança, como Brasmarket, focando somente nos institutos que apontavam a liderança de Lula. A investigação foi arquivada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, por falta de justa causa e por extrapolar a competência da PF.
Ao longo das eleições de 2022, os institutos de pesquisa foram constantemente alvo de perseguição e desinformação por parte de bolsonaristas, que chegaram a tentar emplacar uma CPI contra os institutos. Houve registro, inclusive, de agressões contra pesquisadores de campo.
…nos aviões: Elon Musk, dito militante da “liberdade de expressão absoluta”, encontrou, enfim, o limite da liberdade. E o limite é quando atingem os seus interesses pessoais. O novo dono do Twitter mandou suspender a conta ElonJet, que monitorava os voos do seu jatinho particular — essas informações são públicas e estão disponíveis para consulta em sites especializados. Além disso, contas que divulgam informações públicas sobre voos de aeronaves particulares passaram a ser consideradas contra as políticas da plataforma. Na quinta-feira (15), o bilionário também suspendeu a conta de jornalistas que noticiaram esse fato.
…no recesso: o fim de ano está chegando, e esta será a última edição da Lente em 2022. Nossa equipe estará de recesso e volta em janeiro. Desejamos um ótimo ano novo para você, leitor, e agradecemos sua companhia nesse ano tão movimentado. Até 2023!
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
Não sabe o que a Lupa faz com seus dados?
Conheça nossa Política de Privacidade aqui
Enviamos este email porque você assinou nossa newsletter.
Se quiser parar de recebê-la, Clique aqui.