🔎 Lente #78: O impacto de 'Lupa nos Golpistas'

Boa sexta-feira, 20 de janeiro. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Lupa nos Golpistas conta histórias da tentativa de golpe e ajuda investigações;
Jornalista Maria Ressa, Nobel da Paz, é absolvida de 4 acusações nas Filipinas;
Foco dos jornais por suas mentiras, George Santos vira tema de podcast no Brasil.
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Lupa nos Golpistas mapeia o passado e nos desafia no olhar para o futuro
Desde o dia 8 de janeiro, a Lupa está imersa em uma grande quantidade de conteúdo sobre a tentativa de golpe que o Brasil testemunhou naquele domingo. Parte desse conteúdo veio da base de dados colaborativa Lupa nos Golpistas, que abrimos para que, através de um formulário anônimo, nossa audiência pudesse denunciar publicações antidemocráticas feitas em redes sociais. Nosso plano era mapear a origem dos atos de terrorismo da ultra-direita, quem os financiou e quais eram os objetivos por trás dos ataques ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal.
Em menos de 48 horas, recebemos mais de 3 mil denúncias. E, com base nelas, conseguimos contar algumas histórias sobre o que nos levou aos fatos daquele dia. O material que nossos leitores compartilharam conosco nos permitiu mapear o financiamento via Pix dos atos golpistas, por exemplo. Com base nisso, o Ministério da Justiça pediu que a Polícia Federal rastreie as transferências junto ao Banco Central durante a investigação para mapear a origem e o destino do dinheiro, além do montante arrecadado.
Entre os nomes mapeados pela Lupa que receberam dinheiro via Pix para organizar caravanas aos atos golpistas em Brasília estava um homem conhecido como Ramiro Caminhoneiro. Mostramos que ele foi peça-chave na organização do movimento terrorista e, na manhã desta sexta (20), Ramiro foi preso pela PF na operação Lesa Pátria. Outros dois financiadores da tentativa de golpe também foram detidos – alguns mandados de prisão ainda estavam sendo executados no momento em que escrevo este texto.
Também a partir do material que recebemos, mostramos que pelo menos quatro pastores donos de igrejas estavam entre os presos em flagrante durante os ataques de 8 de janeiro. Dois dias depois, o ministro Alexandre de Moraes converteu em preventiva a prisão em flagrante de um deles, o que significa que não há prazo para que ele deixe a cadeia, pois a Justiça entende que, caso posto em liberdade, ele representa risco às investigações.
Das denúncias recebidas pela Lupa, 38 vídeos tinham sido feitos dentro dos prédios atacados naquele domingo. Em pelo menos seis deles é possível identificar quem está gravando. A Polícia Federal e o Ministério da Justiça solicitaram esse material e confirmaram que irão usar os vídeos na investigação daqueles que depredaram o patrimônio público com base em uma realidade paralela forjada na desinformação.
Há outras histórias, desde deputados reeleitos que fizeram publicações golpistas no dia dos ataques ou antes, inflando ainda mais os ânimos dos apoiadores, até um mapeamento das instruções fornecidas em grupos para que provas do terrorismo fossem apagadas, tentando desfazer o rastro do golpismo que se espalhou pelas redes sociais. Mesmo assim, 10 dias depois dos ataques, as principais plataformas mantinham no ar 76% das publicações denunciadas à Lupa pelos leitores.
Ainda há muito o que analisar e muitas histórias para contar. O impacto do que fizemos — comprovado pelas denúncias constantes que ainda recebemos, pelo uso do nosso material nas investigações e pelo engajamento e audiência dos conteúdos que produzimos no site e em redes sociais — nos mostra que a luta por um ambiente digital mais saudável e menos desinformativo rende bons frutos.
Nosso desafio, agora, é olhar para o futuro. Seguiremos monitorando grupos, publicações, trends e conteúdos para identificar novas ameaças à democracia brasileira. Contaremos cada vez mais histórias sobre o impacto da desinformação e seu papel na divisão social e política que vivemos. E acreditamos que isso depende de ações colaborativas e de um esforço coletivo.
Por isso, a nossa base de dados Lupa nos Golpistas seguirá aberta e recebendo denúncias. Sabemos que, por mais que tenham ocorrido prisões, que as imagens daquele dia sejam chocantes e que haja investigações em curso, os conteúdos que incitam o terrorismo da ultra-direita no Brasil seguem sendo compartilhados. O bolsonarismo não acabou com o fim do mandato de Jair Bolsonaro como presidente. Ele é uma fissura social da qual vamos sofrer impactos por muitos anos. Mas se pudermos contar essas histórias, podemos também contribuir com a História. E fortalecer a nossa democracia.
Contamos com você. Apenas começamos.
Um abraço e ótimo fim de semana,
Natália Leal
CEO

Jornalista Nobel da Paz vence batalha em guerra contra a Justiça filipina
A jornalista Maria Ressa, que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2021, foi absolvida nesta semana de quatro acusações de evasão de divisas feitas pelo ex-presidente das Filipinas Rodrigo Duterte. O caso é um dos mais emblemáticos da perseguição a jornalistas que investigam e combatem a desinformação como estratégia política. Ressa é cofundadora do Rappler, veículo de jornalismo investigativo com sede no país asiático.
A vitória, no entanto, não é definitiva. A jornalista e a empresa que mantém o Rappler ainda enfrentarão três acusações judiciais, incluindo um pedido de fechamento do site. A repórter da Lupa Carol Macário conversou com Gemma Mendoza, coordenadora de serviços digitais, pesquisa e fact-checking do site, que contou que o assédio promovido pelo ex-presidente era intenso e também feito por influenciadores, que espalhavam desinformação sobre Ressa e o Rappler.
Mendoza diz esperar que a absolvição garantida pelo Tribunal de Recursos Fiscais das Filipinas nesta etapa do caso seja uma esperança para jornalistas que sofrem esse tipo de assédio em outros lugares do mundo. “O suporte e solidariedade de jornalistas de todo o mundo nos ajudou a continuar. Mas é isso, liberdade nunca é dada num prato dourado, você tem que conquistar”, afirma ela.
Leia a entrevista completa de Mendoza e mais informações sobre o caso no site da Lupa.

…no governo federal: fake news sobre ações do Executivo não serão toleradas no mandato de Lula. É o que afirma o ministro-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Paulo Pimenta. Segundo ele, o governo federal vai encaminhar à AGU (Advocacia Geral da União) e ao Ministério da Justiça publicações comprovadamente falsas sobre atos do governo, para que quem deu origem ao boato ou compartilhou seja investigado e punido. Em entrevista à Folha, Pimenta confirmou o que já havia dito à Lupa na posse presidencial: o governo quer aumentar a responsabilização das bigtechs pela propagação de desinformação e de discurso de ódio e pretende atualizar o Marco Civil da Internet.
…na AGU: uma portaria normativa do órgão, publicada no Diário Oficial desta sexta (20), estabeleceu as diretrizes para a criação da Procuradoria Nacional da União em Defesa da Democracia. Um grupo de trabalho, com jornalistas e pesquisadores, além de integrantes do poder público, vai discutir como a Procuradoria deve atuar em casos envolvendo desinformação que atentam contra a democracia. O problema: não há consenso sobre o conceito de desinformação, nem qualquer ordenamento jurídico que respalde decisões sobre isso no Brasil. Além disso, causa espanto que o corpo acadêmico do grupo de trabalho seja composto apenas por homens, quando sabemos que há inúmeras mulheres que investigam o tema no país.
…em George Santos: o filho de imigrantes brasileiros, assumidamente gay e de origem humilde que se elegeu deputado pelo partido republicano para representar um dos distritos mais ricos de Nova York ganhou as páginas dos jornais americanos recentemente. Não pelo sucesso de Santos, mas por suas mentiras. Uma checagem rápida no currículo dele mostrou que boa parte do que estava lá era falso ou distorcido. "Castelo de Cartas", primeiro ato do episódio 9 do podcast Rádio Novelo Apresenta, conta a história. E se você curtir a temática "mentiras no currículo" pode tentar também a série "Inventando Anna", disponível na Netflix, que conta a história da russa que se fingiu de socialite e enganou grande parte da elite nova-iorquina. Parece que Nova York não resiste a uma mentira bem contada.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
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Vândalos convidaram para ‘festa da Selma’, com ‘tudo pago’, em Brasília
Quem consome desinformação política arrota golpismo. E o mundo teve neste domingo (8) a segunda prova cabal disso.
Alimentados por centenas e centenas de mensagens que vêm colocando em xeque a lisura do processo eleitoral brasileiro, sempre com base em informações falsas, uma horda de terroristas vestindo verde-amarelo invadiu e depredou o Congresso Nacional, a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, em Brasília.
As imagens, vindas da Praça dos Três Poderes, em tudo lembram o ataque feito ao Capitólio americano em 6 de janeiro de 2020. Mas o episódio brasileiro foi maior e mais preocupante do que o americano. Nesta segunda-feira (9), Natália Leal, CEO da Lupa, publica artigo em que esmiúça isso.
Assim como nós, é bem possível que você tenha passado as últimas horas se perguntado como foi possível que o horror tomasse conta da capital federal. Levantamento feito neste domingo nas principais redes sociais e aplicativos de mensagem do país nos dá algumas respostas.
"Festa da Selma". Esta foi a expressão usada pelos vândalos para driblar possíveis monitoramentos e convocar para os atos antidemocráticos que assistimos no domingo. Nossa equipe identificou referências a essa suposta celebração tanto no WhatsApp como no Twitter, no Facebook e no TikTok ― o que indica uma coordenação.
Levantamento feito a pedido da Lupa pela Palver, empresa que monitora cerca de 17 mil grupos públicos de WhatsApp, mostra que a expressão "Festa da Selma" começou a ser usada em 27 de dezembro e viralizou em 2 de janeiro. Ou seja, houve tempo para que a horda golpista se organizasse.
Uma leitura desse material sobre "Selma" revela ainda a clara existência de financiamento para os ataques a Brasília. Uma das muitas mensagens que viralizaram em grupos de Telegram prometia "Tudo pago. Água, café, almoço, janta" aos que topassem participar do terror.
Transmissões de YouTube feitas ao vivo ajudaram a chamar mais revoltosos para a Praça dos Três Poderes. Mostrando a presença de caminhões pipa e gerador, muitos desses canais também lucraram com os ataques ao poder constituído. Foi uma enxurrada de Pix para lá e para cá. Mas também houve a tradicional monetização digital, por meio de anúncios. No fim da tarde deste domingo, a AGU chegou a pedir que as redes sociais fechassem essa torneira. Ninguém respondeu oficialmente.
E qual a lição que tiramos desse triste domingo? Que precisamos de dados para realmente entender o que aconteceu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Justiça, Flávio Dino, prometem encontrar e punir tanto os arruaceiros como seus financiadores. E, pensando nisso, decidimos abrir um formulário para coletar todas as postagens golpistas que circularam nas redes nos últimos dias.
Trata-se de um trabalho colaborativo ― algo concreto com o qual você pode contribuir. O formulário é este aqui. Basta que você indique o link ou compartilhe o arquivo com conteúdo antidemocrático que passou por suas mãos. Mantendo anônimos os denunciantes.
Coletamos esse material com um objetivo simples: entender padrões e conexões. E faremos uso jornalístico do que conseguirmos reunir, sem nunca nos negarmos a apoiar eventuais investigações. A democracia em primeiro lugar sempre.
Abraços,
Marcela Duarte
Gerente de Produto

…em Bolsonaro: o ex-presidente Jair Bolsonaro demorou 6 horas para comentar o ataque golpista à Praça dos Três Poderes. Em 2 de janeiro, a Lupa alertou que, em seus perfis nas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter, Bolsonaro ainda se apresentava como presidente do Brasil. Isso não mudou até a noite deste domingo.
…na internet: é falso que o ministro Alexandre de Moraes, do STF e do TSE, mandou "desligar a internet" devido ao horror de ontem.
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