🔎 Lente #80: Lupa amplia cobertura sobre desinformação
Boa sexta-feira, 3 de fevereiro. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
Lupa anuncia reposicionamento jornalístico com ampliação para novos formatos;
Twitter vai cobrar acesso à sua API, prejudicando serviços de utilidade pública;
Grupo responsável por implantar nova procuradoria na AGU deve começar os trabalhos no fim de fevereiro.
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Lupa amplia cobertura sobre desinformação
O assunto do dia nesta quinta-feira (2) foi a denúncia ― e o refugo ― pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Antes de mudar de versão, do Val acusava o ex-presidente de ter articulado e coagido o senador a participar de um golpe de Estado. A versão do senador, que prometeu renunciar ao cargo, foi contada em uma longa matéria na revista Veja.
Quem acompanhou o assunto pela Lupa, ficou sabendo que do Val tem um histórico de declarações polêmicas e disseminação de informações falsas ― tanto é que, ainda pela manhã, nossa equipe já suspeitava que o senador não iria cumprir a promessa da renúncia. Ficou sabendo também que ele já chamou o Supremo Tribunal Federal (STF) de “departamento jurídico do crime”, foi condenado a indenizar o ex-deputado federal Jean Willys por difamação e que ainda adotou uma posição dúbia sobre os ataques de 8 de janeiro em Brasília.
Mesmo quem não passou o dia grudado nas redes sociais para acompanhar a repercussão ― mas deu uma espiada na Lupa ― ficou sabendo que a direita adotou um discurso de crucificação do parlamentar, chamado de traidor, enquanto representantes de peso resolveram silenciar sobre o tema. Isso porque Carol Macário e Mikhaela Araújo passaram boa parte do dia de ontem vendo o que estava acontecendo nas redes para compreender o comportamento digital sobre o tema.
Mais cedo, antes de toda a polêmica nas redes sociais, nosso correspondente em Brasília, Chico Marés, já tinha revelado que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro já tem assinaturas suficientes para ser instalada, e que e existe a possibilidade da adesão de novos nomes — incluindo Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que disse à Lupa que assinaria o documento.
Na véspera, a Lupa anunciou oficialmente o reposicionamento do seu jornalismo. O fenômeno da desinformação vem sofrendo mutações para driblar a checagem, e essa capacidade de adaptação fez com que somente colocar selos de verdadeiro e falso não seja mais suficiente. Por isso, o jornalismo da Lupa também vem se adaptando. Desde o ano passado, antes das eleições de 2022, temos produzido muito mais reportagens, análises — especialmente neste espaço da Lente —, notícias etc, que consolidam a Lupa como um hub de combate à desinformação, e não mais apenas uma agência de checagem (e olha que só isso já é muita coisa)
A oficialização desse reposicionamento, que passa a ser um compromisso público com a cobertura completa sobre desinformação, acontece no momento em que a redação decide ter um repórter em Brasília para cobrir o tema da desinformação direto de onde as grandes decisões do país são tomadas.
Muito mais do que o anúncio, o reposicionamento do jornalismo é perceptível muito claramente por quem acompanha a Lupa. Depois desse janeiro interminável, parece justo a gente lembrar que o ano mal começou. E isso significa que vem muito mais pela frente.
Abraço,
Marcela Duarte
Gerente de Produto
API do Twitter passará a ser paga, prejudicando de serviços relevantes a bots de humor
Nesta semana, o Twitter anunciou que irá cobrar por acesso à sua API. Esse serviço, que sempre foi gratuito, é usado por desenvolvedores para acessar, utilizar e criar produtos a partir dos dados gerados pela própria plataforma. Essa medida pode impactar serviços importantes realizados na plataforma, incluindo contas automatizadas que auxiliam o trabalho de jornalistas aqui no Brasil.
Uma das contas que podem ser afetadas é o Projeto 7c0. Essa conta acompanhava, de forma automatizada, tuítes feitos por políticos em cargos eletivos no Brasil — e identificava quando alguém apagava uma publicação. Essa ferramenta era muito usada pelos checadores. O criador do projeto, Lucas Lago, já disse que, dependendo do custo de operação, não terá como manter o projeto no ar.
Outros serviços úteis que podem ser impactados com a mudança são os compiladores de textos — como o Xeulê —, serviços de alerta de terremotos, como o SF QuakerBot (que identifica terremotos na região de San Francisco, nos Estados Unidos) e até mesmo o TweetDeleter, um serviço que apaga automaticamente tuítes em grandes quantidades. Talvez ainda pior, contas automatizadas de humor, como o Paulo Guedes Bot, quase certamente deixarão de existir.
É difícil saber o motivo pelo qual o Twitter tomou essa decisão. Outras plataformas e aplicativos, como o Facebook, o YouTube, o Discord e o Spotify, mantém suas APIs gratuitas, justamente porque usuários usam esse acesso para criar produtos que melhoram a experiência do usuário. A explicação mais simples seria a de que Elon Musk, após pagar uma quantia irreal para adquirir uma plataforma que já não estava bem das pernas, quer tentar fazer com que o Twitter gere dinheiro a qualquer custo — e sem pensar muito nas consequências, inclusive financeiras. Mas sua cruzada contra perfis automatizados, e especificamente contra um bot que usava a API do Twitter para publicar os itinerários de seu avião particular, pode ter pesado na decisão.
O fato é que, com a API paga, o Twitter se torna uma plataforma menos transparente e menos interessante. A empresa deve anunciar mais informações sobre essa mudança na próxima semana. Resta torcer para que Musk mude de ideia nos próximos dias, após a repercussão do caso — o que, considerando seu histórico recente de ideias ruins, parece improvável.
Nesta edição da newsletter, quem assina as notas rápidas é o repórter especial da Lupa, Chico Marés, direto de Brasília.
…no WhatsApp: o grupo de trabalho responsável por definir o funcionamento da Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia deve começar a funcionar entre o fim de fevereiro e o início de março. Esse grupo será dividido em três eixos de atuação temática, incluindo o combate à desinformação. O colegiado será responsável por estabelecer as regras de funcionamento — que passarão por consulta pública antes de entrar em vigor
...na PF: as operações para prender e investigar golpistas que participaram do 8 de janeiro continuam. Nesta sexta-feira (3), a Polícia Federal cumpriu três mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão em cinco estados e no Distrito Federal. Até o fechamento desta newsletter, duas prisões foram confirmadas: Lucimário Benedito dos Santos, conhecido como “Mário Furacão”, de Goiás, e William Ferreira da Silva, ou o “Homem do Tempo”. Os dois transmitiram seus próprios atos terroristas nas redes sociais.
…em Marcos do Val: no mesmo dia em que acusou Bolsonaro — e depois voltou atrás — de participar de uma tentativa de golpe de estado, o senador capixaba publicou em sua conta do Instagram a capa de um suposto relatório bombástico da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que, para ele, faria cair o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o presidente Lula. Contudo, internautas foram rápidos em identificar que o tal relatório era, na verdade, um calendário distribuído pela instituição aos seus funcionários.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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