🔎 Lente #84: Discurso de ódio expulsa mulheres da política
Boa sexta-feira, 10 de março. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Como o discurso de ódio expulsa mulheres da política;
ChatGPT inventa dados biográficos e falha em testes sobre desinformação;
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Discurso de ódio afasta mulheres da política
Em janeiro deste ano, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardner, renunciou ao cargo. Menos de um mês depois, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, decidiu deixar o posto que ocupou por mais de oito anos. Em 2022, Manuela D’Ávila (PCdoB), que em 2018 concorreu para vice-presidente da República na chapa de Fernando Haddad (PT), decidiu que não disputaria a eleição. O mesmo aconteceu com a deputada federal de Minas Gerais Áurea Carolina (PSOL) e a deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho (PSOL).
Chama a atenção que todas essas mulheres ― que expressaram publicamente seu “cansaço” ― foram alvo de campanhas de ódio online e desinformação de gênero, um problema ainda pouco discutido no Brasil e no mundo, mas que tem afastado mulheres da vida pública.
Em entrevista à Lupa, a pesquisadora norte-americana Kristina Wilfore, co-fundadora da organização #ShePersisted e uma das referências mundiais no assunto, apontou que a desinformação de gênero usa convenientemente o sexismo e a misoginia preexistentes na sociedade como “uma tática para minar a integridade eleitoral, a própria democracia e a confiança nas instituições”.
Essa tática vem sendo colocada em prática em todo o mundo. Em 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) já havia alertado sobre o crescente número de campanhas sexistas de desinformação contra mulheres com atuação na política. Relatório elaborado pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e publicado pela Lupa em primeira mão comprovou isso. A atual e a ex-primeira-dama do país, Rosângela da Silva, a Janja, e Michelle Bolsonaro foram alvos de conteúdos misóginos que evocam uma feminilidade “ideal”, viés tão combatido por nós, mulheres.
Quando mergulhamos na análise da desinformação de gênero, vemos uma relação direta com a violência política que mulheres sofrem no exercício de seus mandatos, principalmente mulheres negras. Esse recorte racial, sempre necessário, inspirou a terceira edição do SobreElas, que trará, durante o mês de março, entrevistas com mulheres negras que ocupam ou já ocuparam cargos públicos no Brasil.
A primeira conversa, publicada no dia 8 em vídeo nas redes sociais e no site da Lupa, foi com a cientista política e ex-deputada federal Áurea Carolina, de Minas Gerais. As próximas entrevistas serão publicadas ao longo do mês, quando também se completam 5 anos da morte de Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018, vítima da violência política de gênero no Brasil. Para ler todas as reportagens do projeto SobreElas 2023, basta acompanhar as redes sociais e o site da Lupa.
Um abraço,
Carol Macário, Catiane Pereira, Evelyn Fagundes, Iara Diniz e Nathália Afonso
Repórteres da Lupa
ChatGPT inventa dados biográficos de famosos e anônimos
Perguntado se informações falsas verificadas pela Lupa estavam corretas, o ChatGPT acertou apenas 30 de 51. O dado consta em reportagem publicada pela Lupa nesta segunda-feira (6).
Durante a semana, resolvi fazer alguns experimentos com a ferramenta perguntando dados biográficos de pessoas, para ver quão imprecisas são as informações repassadas pelo robô. Todas as perguntas foram feitas de forma neutra, citando apenas o nome da pessoa — “explique quem é fulano”, “o que você sabe sobre ciclano”.
Para pessoas universalmente conhecidas, geralmente as imprecisões são poucas. Pedi para que ele me explicasse quem era Luiz Inácio Lula da Silva e quem era Jair Bolsonaro, e os dados factuais citados estavam quase todos corretos — exceto a cidade de nascimento de Bolsonaro, citada como Campinas (SP), quando na verdade é Glicério (SP).
Quanto menos conhecidas as pessoas, maiores os erros — mesmo considerando pessoas que estão no noticiário quase diariamente. Perguntei, por exemplo, sobre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. O ChatGPT me informou que ela exercia mandato de senadora “entre 2019 e 2027” — Gleisi foi senadora entre 2011 e 2019, e exerce o cargo de deputada federal — e que foi presidente do PT entre 2011 e 2013 — ela preside o partido desde 2017. Já Onyx Lorenzoni foi citado como ex-deputado do PP e do PSDB — partidos aos quais ele nunca foi filiado.
Sobre Orlando Silva, a conversa ficou ainda mais interessante. Há duas pessoas conhecidas com esse nome: o deputado federal do PCdoB e o cantor, morto em 1978. Em vez de me informar que havia dois homônimos ou me pedir para ser mais específico na pergunta, a inteligência artificial construiu uma biografia com base na vida de ambos. Saiu de lá um cantor que entrou para a política nos anos 2000, mas largou o parlamento para voltar aos palcos.
Com pessoas menos conhecidas, geralmente o robô diz que não as conhece. Perguntei para ele — é lógico! — quem era Chico Marés, mas ele disse não conhecer. Fiquei um pouco aliviado porque, embora geralmente o ChatGPT não invente fatos sobre pessoas desconhecidas, às vezes ele cria biografias completas sem nenhuma relação com a realidade.
Isso aconteceu quando perguntei sobre um amigo meu, chamado Adriano, cujo sobrenome não é muito comum. O ChatGPT me respondeu que se tratava de um cantor. Resolvi ir mais fundo. Perguntei da discografia, quais os maiores hits, perguntei a letra de uma dessas músicas e até a ficha técnica de um desses discos — que, obviamente, não existem. Ele respondeu tudo. Segundo o chat, o Adriano fez um disco de muito sucesso em 1999, chamado “Simples”, que foi produzido por ninguém menos que João Marcello Bôscoli.
É possível, claro, manipular o chat para que invente biografias. Perguntei sobre meu colega Leandro Becker, e ele também disse desconhecê-lo. Mas quando perguntei especificamente se ele conhecia o cantor Leandro Becker, o chat foi rápido em me informar que se tratava de um ex-integrante da boy band Br’oZ — o que, infelizmente, não é verdade.
O ChatGPT não é o Google e não tem como função primária informar dados corretos sobre fatos e personalidades — ou mesmo anônimos. Inclusive, esse alerta está — em inglês — na página inicial do produto. Mas isso não impede que muitas pessoas interpretem de forma incorreta a função desse produto e eventualmente acreditem em informações falsas produzidas por ele.
Um abraço,
Chico Marés
Correspondente em Brasília
Desconto de 15% em pós sobre educação midiática
Quem se inscrever até 25 de março no programa de pós-graduação em Educação Midiática lançado pela Lupa em parceria com a Unisinos receberá desconto de 15% sobre o valor total do curso.
A especialização tem por objetivo formar profissionais conscientes e aptos para atuarem com informação e mídias de maneira ética e responsável. A formação é aberta a profissionais de comunicação com interface na educação e profissionais de outras áreas que desejam expandir conhecimentos em educação para as mídias e combate à desinformação.
As aulas ― todas online e ao vivo ― começam no dia 14 de abril e vão até 18 de novembro, sempre nas noites das sextas-feiras e manhãs e tardes de sábado. Entre os professores do curso, há vários integrantes da Lupa, como o coordenador de Educação, Raphael Kapa, e a gerente de Produto, Marcela Duarte.
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…na volta do “PL das Fake News”: o debate sobre a regulamentação das mídias sociais e o combate à desinformação voltou a ganhar força em Brasília. A expectativa é que o projeto de lei nº 2.630/2020, uma das bases de discussão sobre o tema no Congresso, volte aos holofotes nas próximas semanas, informa Chico Marés, correspondente da Lupa em Brasília. Executivo e Judiciário também têm se articulado para apresentar sugestões, sinalizando um consenso entre os poderes para que o Brasil tenha uma legislação específica sobre o tema.
…na desinformação sobre vacina: o início da aplicação da vacina bivalente contra a Covid-19 em uma campanha nacional liderada pelo governo impulsionou o compartilhamento de desinformação sobre a importância e eficácia dos imunizantes. Desta vez, um dos focos de fakes é a nova tecnologia usada nas vacinas, capaz de proteger contra a cepa original e a variante ômicron. Para tirar dúvidas e combater a desinformação, confira o explicador feito por Lupa sobre o que é e como funciona o novo imunizante.
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