🔎 Lente #92: Ofensiva contra agenda ambiental tem rastro de desinformação
Boa sexta-feira, 26 de maio. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Desinformação é pano de fundo em ofensiva contra agenda ambiental e indígena
Governo erra em conceito na criação de política de educação midiática
Inteligência artificial “causa atentado” nos Estados Unidos
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Desinformação é pano de fundo em ofensiva contra agenda ambiental e indígena
A ofensiva do Congresso contra os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas nesta semana, inclusive com apoio da base do governo, reacendeu uma preocupação que, para muitos, parecia superada desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): o impacto da barganha política em troca de apoio parlamentar sobre políticas públicas de áreas tão sensíveis e que foram desmanteladas no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Na quarta-feira (24) à tarde, uma comissão mista do Congresso aprovou medida provisória que muda a estrutura do governo, fortalece o Centrão e retira poder do Ministério do Meio Ambiente. À noite, o plenário da Câmara afrouxou regras de proteção da Mata Atlântica e aprovou pedido de urgência para um projeto que limita a demarcação de terras indígenas.
A valorização de políticas ambientais e de proteção aos indígenas foi uma bandeira de campanha de Lula, mas encontra resistência em um Congresso de perfil mais conservador. Mas não é só uma ideologia que vem “desde sempre”. Há também um componente que alimenta essa visão de mundo de que preservar o meio ambiente e valorizar os povos originários não é prioridade: a circulação desenfreada de desinformação.
Ela só potencializou nos últimos anos uma desavença histórica que opõe, principalmente, ruralistas, ambientalistas e indígenas. Na corrida eleitoral, um dos exemplos de como as fakes amplificaram o duelo sobre quem é o “inimigo do progresso” foi o negacionismo sobre a Amazônia. E, mais recentemente, a crise dos yanomami, contrapondo quem vê a terra como bênção ancestral e quem a vê como lucro do garimpo.
Uma rixa histórica não se resolve com rapidez, é óbvio. Mas a desinformação pode e deve ser estancada, ainda mais quando o que se vê é que a estratégia de distorcer a realidade não passa de “cortina de fumaça” para confundir a população, como mostrou um relatório apresentado à Câmara nesta semana que mapeou não só quem propaga fakes, mas o impacto da desinformação na Amazônia.
No evento, curiosamente realizado um dia antes da ofensiva do Congresso, chamou atenção uma fala de Juma Xipaia, que representou o Ministério dos Povos Indígenas. Ela disse que o Brasil “foi invadido, construído e desmatado em cima de mentiras” e que “não é o futuro da floresta ou clima que está em jogo, mas as nossas vidas”.
Nesta sexta-feira (26), Lula se reuniu com as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), além do seu núcleo político. Em entrevista após o encontro, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o governo trabalhará para reverter a situação e que este revés não evitará a implementação do projeto prometido pelo petista de proteger a natureza.
As próximas semanas de negociação e votações no Congresso indicarão se haverá, de fato, diálogo possível para isso.
Um abraço e bom fim de semana,
Leandro Becker
Editor-chefe
Governo lança boa iniciativa para criar política de educação midiática, mas erra em conceito
A Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal lançou uma consulta pública para nortear o seu projeto político de educação midiática. As premissas sustentadas pelo órgão da Presidência da República são abrangentes quanto a público-alvo e interlocução entre ministérios, mas erra ao limitar o conceito de educação midiática a somente a esfera digital e indicar diversas iniciativas de maneira abstrata.
Trabalhar com educação midiática é um debate amplo pela essência e o governo explicita que vai tratar de forma geracional trazendo diferenciação de como trabalhar mídia na educação básica para crianças e adolescentes e outra para jovens e adultos. A experiência da Lupa na educação midiática em parceria com a Prefeitura do Rio mostra que esse tipo de esforço, dentro do currículo escolar, articulando com professores que estão no chão da sala de aula e promovendo formações, é fundamental para se ter êxito na criticidade sobre mídia e seus impactos. Da mesma maneira, compreender que a relação de tecnologias em outras faixas geracionais demanda estratégias diferentes é um ponto positivo a ser destacado das premissas levantadas pelo documento.
O problema está exatamente em uma percepção equivocada sobre mídia. Ao longo do documento, a educação midiática é atrelada somente ao campo digital, o que limita a abordagem e o impacto sobre a ação. Durante a pandemia, percebeu-se que outras mídias – consideradas mais tradicionais – foram eficazes no combate à desinformação em regiões que digitalmente não tinham tanto acesso à informação. Uma política nacional menosprezar que mídias e tecnologias vão além do digital é um erro nessas premissas.
Da mesma maneira, o documento está repleto de boas intenções em, pelo menos, 15 pontos consecutivos que tratam de parcerias com “organizações da sociedade civil”, só que em termos bastante abstratos como “projetos de mídia escolar”, “formação de rede de colaboração” e “estudos e pesquisas”. Evidente que, por ser um documento para consulta pública, é importante deixar espaços para escutas de diferentes setores, mas há de se ter mais norteamento no que se espera ouvir para que se tenha efetivamente uma política de educação midiática em nível nacional.
…na inteligência artificial causando “atentado” nos EUA: um post viralizou nas redes sociais nesta semana mostrando a imagem de uma explosão em um prédio próximo ao Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A Lupa apurou que era falso. O que mais chamou a atenção nesta desinformação, porém, foi o uso perverso da inteligência artificial. Assim como o caso da jaqueta do Papa Francisco, a geração de imagens falsas adiciona uma camada a mais de risco para proliferação de fakes e um desafio extra para o combate à desinformação.
…nos exageros do ministro da Agricultura: a Lupa segue de olho no que gestores públicos têm dito por aí. Nesta semana, fizemos a checagem da entrevista do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ao Roda Viva. Ele exagerou ao citar dados sobre o andamento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em seu estado, Mato Grosso, e sobre a quantidade de pastagens degradadas no país. Clique aqui para conferir todas as nossas checagens.
...na falta de diálogo que empaca o PL 2.630 no Congresso: após o recuo pedido pelo relator, o “PL das Fake News” empacou na Câmara e não tem previsão de retorno a plenário. Mas o que mais chama atenção é que não tem funcionado nem mesmo a estratégia de fatiá-lo para acelerar sua aprovação, separando os temas mais polêmicos. Neste vaivém, resta saber se o Supremo Tribunal Federal (STF), que adiou uma votação que poderia impactar na regulação das redes, decidirá intervir. Nos EUA, como explicou a nossa colunista Cristina Tardáguila, a Justiça poupou as big techs de responsabilização. O que fará o STF no Brasil? A previsão é que o tema volte à pauta em junho.
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