🔎 Lente #94: Golpismo cresce no zap e exige rigor da CPMI contra a desinformação
Boa sexta-feira, 16 de junho. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Golpismo cresce no zap e exige rigor da CPMI contra a desinformação;
Musk ataca checagem de fatos em meio à omissão do Twitter;
Lula erra números sobre obras e Enem na estreia de live semanal.
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Golpismo cresce no zap e exige rigor da CPMI contra a desinformação
Cinco meses depois dos atos de 8 de janeiro, a origem, a estratégia e as motivações dos ataques golpistas voltam aos holofotes justamente em um dos alvos de depredação: o Congresso. A partir da próxima terça-feira (20), a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) começa a investigar e ouvir em sessões públicas transmitidas ao vivo algumas das pessoas-chave para o que culminou no perverso ataque à democracia do país.
O primeiro a falar e ser questionado será o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e investigado pela operação nas estradas do país – sobretudo no Nordeste, região sabidamente apoiadora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – realizada em 30 de outubro de 2022, dia da votação do segundo turno das eleições.
O duelo eleitoral e o investigado uso ilegal de instituições públicas para favorecer Bolsonaro são parte importante desta história. Afinal, foi a partir da derrota do então presidente que se intensificou a narrativa desinformativa de que houve fraude no pleito, o que levou a acampamentos de apoiadores em frente aos quartéis e, por meio das redes sociais e aplicativos de mensagens, à proliferação de teorias da conspiração que insuflaram milhares de golpistas a invadirem Brasília meses depois.
Coincidência ou não, a largada da CPMI no Congresso ocorre em meio a uma preocupante constatação: mensagens de cunho golpista voltaram a circular com força, como mostrou reportagem exclusiva da Lupa, demonstrando que a resistência antidemocrática é real e perigosa. Levantamento realizado pela Palver, empresa que monitora mais de 25 mil grupos, mostra que termos como “Fora STF” e manifestações favoráveis a uma paralisação geral no Brasil cresceram no último mês.
Esse cenário é um forte indicativo de que a desinformação promete rodear – e contaminar ainda mais, infelizmente – o ambiente de polarização política e guerra de narrativas sobre o que originou e motivou os ataques golpistas de 8 de janeiro. Ao mesmo tempo, a discussão às claras e ao vivo significa uma oportunidade de direita e esquerda enfim dialogarem.
Por isso, será vital que a condução da comissão de inquérito seja pautada com rigor no combate à desinformação. É claro que toda CPMI é um embate político, sujeito a valorizar mais frases de efeito do que evidências e informações relevantes. Mas também é um palco em que, costumeiramente, máscaras caem e contradições vêm à tona. Logo, trabalhar para estabelecer a verdade dos fatos é uma premissa crucial para haver, de fato, debate.
Comprometida com a reflexão e a democracia, a Lupa acompanhará de perto cada sessão no Congresso a partir de terça-feira (20). Esperamos que, ao produzir conteúdos focados em combater a desinformação, que está nos meandros do que originou e ainda alimenta esse discurso antidemocrático inaceitável, possamos contribuir para que essa discussão tão importante para o futuro do país seja baseada mais em fatos do que em opiniões.
Um abraço,
Leandro Becker
Editor-chefe
Musk ataca checagem de fatos em meio à omissão do Twitter
O debate sobre regulação das plataformas digitais esfriou no Brasil em meio à indefinição e falta de consenso no Congresso sobre a proposta – em especial quanto à fiscalização, como mostrou reportagem da Lupa. Enquanto isso, porém, a desinformação ganha cada vez mais espaço diante da omissão de quem deveria trabalhar – e agir na prática – para justamente tornar o ambiente online menos confuso e mal-intencionado.
Lançado em março no Brasil, o recurso Notas da Comunidade do Twitter tem aberto brecha para que usuários comuns adicionem avisos enviesados — e, muitas vezes, desinformativos — a publicações de terceiros. Embora o recurso tenha sido bem-sucedido, especialmente para apontar erros em conteúdos publicados em perfis de fofoca, por exemplo, falta transparência sobre como e por quem essas avaliações são feitas.
Não bastasse isso, o dono da big tech não esconde sua aversão à checagem de fatos. Na terça-feira (13), Elon Musk fez um ataque direto ao responder uma mensagem na rede social. “Os chamados verificadores de fatos são grandes mentirosos e incrivelmente tendenciosos”, escreveu. O posicionamento é apenas mais uma polêmica entre as várias envolvendo a rede desde que ele assumiu a gestão.
Fato é que o problema da desinformação no Twitter não é uma realidade apenas do Brasil ou dos Estados Unidos. É global. Um exemplo disso é que, recentemente, a empresa abandonou o Código de Prática da União Europeia contra Desinformação. Isso tem elevado a preocupação não só dos usuários, mas mobilizado especialistas a cobrarem que a plataforma desenvolva mecanismos para filtrar as intervenções que buscam distorcer a realidade dos fatos, como mostrou reportagem do Chequeado.
Episódios como esse só reforçam que, mais do que uma questão de negócios, a regulação das plataformas tem um aspecto social que vai além do uso de tecnologia e precisa desmistificar com rapidez, transparência e urgência a crença de alguns – inclusive o dono de uma das mais populares big techs – de que o meio virtual é um espaço de liberdade sem responsabilidade.
…nas lives do presidente Lula: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estreou, na terça-feira (13) uma live semanal para divulgar ações do governo. Durante a transmissão, chamada pelo Planalto de “Conversa com o Presidente”, o petista fez um breve panorama dos primeiros meses de sua gestão. A Lupa checou algumas das falas e mostrou que o petista errou números de obras paradas e de inscritos no Enem. Seguiremos de olho nas próximas.
…nas estratégias de Trump e Bolsonaro para escapar da Justiça: na terça-feira (13), o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump virou réu 37 vezes por manter documentos secretos após deixar a Casa Branca. Sua defesa revisitou teorias conspiratórias e alimentou as redes sociais de desinformação sobre o caso. Análise da nossa colunista Cristina Tardáguila mostra que a estratégia é semelhante à de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil às vésperas do início da CPMI do 8 de janeiro.
…no contexto por trás das notícias: as redes sociais nos levam a simplificar o complexo e, muitas vezes, isso alimenta a desinformação. Nas últimas semanas, a variedade de temas no noticiário tem mobilizado a Lupa a não apenas informar, mas produzir conteúdos que ajudem a contextualizar questões relevantes. É o caso de explicadores sobre jabutis na política, programa Mais Médicos, marco temporal, trabalho análogo à escravidão e a pouco conhecida, mas perigosa febre maculosa. Entender o contexto nunca foi tão importante.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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