🔎 Lente #97: Desinformação vira estratégia perversa para venda de suplementos
Boa sexta-feira, 7 de julho de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Desinformação vira estratégia perversa para venda de suplementos;
Dueto criado por inteligência artificial acende alerta para fakes;
Mauro Cid vai depor na próxima semana na CPMI do 8 de janeiro.
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Desinformação vira estratégia perversa para venda de suplementos
Uma série de reportagens publicada nesta semana pela Lupa mostrou que o uso de desinformação de forma estruturada e intencional nas redes sociais é peça-chave da estratégia de empresários para enganar consumidores com a venda de suplementos que prometem tratamento eficaz para doenças como o diabetes.
A investigação também apontou que a divulgação de notícias falsas e a criação de perfis fake são cruciais na elaboração de narrativas que, inclusive, utilizam de forma indevida a marca da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E isso alimenta uma rede de revendedores que replica o passo a passo fraudulento atrás da promessa de dinheiro com vendas online – alguns influenciadores de marketing digital movimentaram, ao menos, R$ 57 milhões pelas plataformas de pagamento Braip e Monetizze.
A Lupa também constatou que os scripts de venda, espalhados também por aplicativos de mensagem como WhatsApp e Telegram, mesclam a utilização de depoimentos forjados com uma linguagem de intenso apelo emocional. “Imagina sua vida sem picadas? Sem depender de remédios? E podendo comer o que quiser?”, afirma um texto que promete resultados contra sintomas do diabetes já na primeira semana.
É importante observar que a venda de suplementos alimentares é legal, mas esses produtos não podem ser ofertados como medicamentos ou prometer qualquer finalidade terapêutica. E isso está no Código de Defesa do Consumidor, que prevê punições por comunicações que induzam o consumidor a acreditar em falsas curas ou tratamentos.
Espalhar desinformação para praticar golpes, infelizmente, não é uma novidade. O que esse caso revela, entretanto, é uma camada adicional de complexidade e desfaçatez que inclui até mesmo o treinamento de fraudadores para, por exemplo, configurar os perfis nas redes onde serão feitos os anúncios, de forma a evitar possíveis bloqueios por comportamento inautêntico por parte das plataformas.
Blindar a reprodução deste sistema perverso não é só uma questão de polícia ou Justiça. Passa, também, por as big techs atuarem proativamente para preencher as brechas em suas estruturas para impedir que a desinformação corra solta a ponto de grupos mal intencionados estruturarem redes criminosas de forma pública. E aqui o cerne da questão não é regular, mas simplesmente vigiar – um dever que não pode cair no colo apenas do usuário.
Um abraço,
Leandro Becker
Editor-chefe
Da jaqueta do Papa ao encontro de Elis e Maria Rita
O uso de inteligência artificial para permitir um dueto entre Elis Regina, que morreu há mais de quatro décadas, e sua filha, Maria Rita, deu o que falar nos últimos dias. Na campanha publicitária, lançada na terça-feira (4) pela Volkswagen, as duas interagem enquanto cantam o clássico “Como nossos pais”.
De um lado, houve muitos elogios sobre a capacidade do recurso para recriar voz e imagem de artistas que já morreram. Do outro, porém, a ação recebeu críticas ferrenhas, entre elas o fato de, apesar do aval da própria filha, Elis não poder ser consultada sobre o assunto, ainda mais em se tratando do uso de sua imagem para fins comerciais.
Não é a primeira vez que a utilização de inteligência artificial causa frisson. A reação foi a mesma em casos como a criação digital de fotos do Papa Francisco vestindo uma jaqueta estilosa ou do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump sendo preso. E isso ocorre por uma razão bem simples: a semelhança com a realidade é tamanha que faz muitas pessoas cogitarem que, de fato, seja real.
Episódios como esse só reforçam uma tendência que, fora dos comerciais ou da viralização nas redes sociais, preocupa muito: o potencial devastador da tecnologia caso seja utilizada com propósitos nefastos, como propagar desinformação. Mais do que desafiar checadores, isso traz o risco de que a dificuldade de buscar a informação verdadeira seja tamanha que, no fim das contas, a até então distorção possa se tornar uma realidade paralela indomável.
Diante desse cenário, como bem destacou o coordenador da área de Educação da Lupa, Raphael Kapa, em artigo publicado em março deste ano, treinar o olhar, de maneira constante é o passo necessário para uma mediação com as novas formas de produção de conteúdo imagéticos.
…nos depoimentos da CPMI do 8 de janeiro: A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas em Brasília vai ouvir na terça-feira (11) o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). Cid, que está preso há mais de dois meses, é suspeito de articular uma intervenção militar contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após as eleições do ano passado. Além de falar sobre os atos, há expectativa que ele explique as desinformações envolvendo o cartão de vacinação do ex-presidente da República.
…na desinformação circulando no Threads: A Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, lançou na quinta-feira (6) uma nova rede social. Inspirado no Twitter, o Threads é focado no compartilhamento de textos. A novidade gerou engajamento entre os usuários, mas, por outro lado, especialistas alertam que o sistema capta dados bancários e viola a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Nas próximas semanas, também ficará mais claro o potencial de a rede se tornar alvo de propagação de desinformação – e como a Meta lidará com isso.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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