🔎 Lente #98: CPMI vira fonte para discurso de ódio e desinformação nas redes sociais
Boa sexta-feira, 14 de julho de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
CPMI vira fonte para discurso de ódio e desinformação nas redes sociais;
O Bard chegou, mas ele também não tem resposta para as fake news;
Governo articula PL 2.630 ‘mais enxuto’ e com órgão regulador.
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CPMI vira fonte para discurso de ódio e desinformação nas redes sociais
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas em Brasília, entra em recesso até o fim de julho, assim como todos os trabalhos legislativos. Foram 8 reuniões até agora, algumas com um certo tumulto, parlamentares discutindo, depoentes que faltaram com a verdade, outros que nem responderam perguntas e você pode pensar: o que se descobriu de relevante até agora? Bom, ainda é cedo para falar sobre avanços. Mas tem uma coisa que não faltou: ataques nas redes sociais à relatora da CPMI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Ela tornou-se alvo frequente de campanhas de ódio e desinformação, como mostrou um levantamento realizado pela Lupa, em parceria com a Escola de Comunicação, Mídia e Informação (ECMI) da FGV-SP.
Palavras como “burra”, “boçal” e até mesmo termos capacitistas como “retardada” têm sido usados para se referir a ela nas redes sociais. Os ataques buscam desqualificar a parlamentar e questionar sua capacidade intelectual para assumir a função de relatora da comissão. Desde a instalação da CPMI, em 25 de maio, até o dia 11 de julho, data da sessão mais recente, o levantamento mostrou que o nome de Eliziane foi mencionado 35.100 vezes no Twitter. O número é 171% superior ao de citações ao presidente da Comissão, deputado Arthur Maia (União-BA).
E se por algum momento você cogitar pensar que isso está relacionado a atuação dela nas reuniões, eu preciso te dizer que, logo na sessão de abertura, antes mesmo que depoentes fossem ouvidos, a posição de Eliziane como relatora já incomodava – a ponto de a parlamentar ter sido chamada de “analfabeta” e “incompetente” e ter sua presença no Congresso questionada. As mensagens são de embrulhar o estômago de qualquer um, especialmente das mulheres.
Isso sem falar nos parlamentares que reforçam essa narrativa e acabam incentivando quem está do outro lado do computador a destilar ódio e reproduzir desinformação, como a de que Eliziane Gama tinha 140 funcionários em seu gabinete que recebiam salários de R$ 30 mil. A Lupa mostrou que a informação é falsa.
Por meio de nota enviada à Lupa, a senadora lamentou os ataques que vêm recebendo e atribuiu as campanhas de ódio e desinformação ao fato de “extremistas não tolerarem que uma mulher ocupe espaços de poder”.
Eliziane não é alvo por não saber conduzir uma sessão na CPMI. Ela é alvo por ser uma mulher em um papel de destaque em uma comissão. Esse pode ser um “detalhe” que passa despercebido para muitos, mas não deveria. O Congresso passará uma péssima mensagem se seguir os trabalhos na CPMI ignorando o fato de que parlamentares mulheres são alvos fáceis para campanhas de ódio e desinformação, independentemente de seus partidos ou posições ideológicas.
Um abraço,
Luciana Corrêa
Editora
Bard chega ao Brasil sem resposta para combater fake news
Parece que a cada semana temos novos motivos para falar sobre o espaço que o uso de inteligência artificial (IA) toma na nossa vida. Desta vez, é a chegada de mais uma ferramenta, o Bard, o robô de conversa do Google e concorrente do ChatGPT, da OpenAI. Três meses depois de ser lançado no Reino Unido e nos Estados Unidos, o Bard foi disponibilizado na quinta-feira (13) no Brasil e em mais 27 países da Europa, e fez as ações da Alphabet, dona do Google, dispararem.
Algumas curiosidades: o nome tem origem nas línguas celtas e significa Bardo, que na Europa antiga era um contador de história profissional. E apesar de rivalizar com o ChatGPT, os dois têm algumas diferenças, como o acesso, que no Bard só pode ser feito através de uma conta Google.
O robô está disponível em 40 idiomas e, segundo o Google, “usa criatividade e disposição para ajudar você e pode dar asas à sua imaginação”. Porém, o próprio Google faz questão de reforçar que a ferramenta é um experimento que “pode apresentar respostas imprecisas ou inadequadas”.
Fizemos um teste aqui e perguntamos se o Bard pode detectar discursos desinformativos. A resposta foi: “Não sou capaz de detectar desinformação. A informação pode ser disseminada por uma variedade de meios, incluindo mídias sociais, sites e até as mesmas fontes tradicionais de notícias. Pode ser difícil identificar a desinformação, pois muitas vezes é semelhante à informação verdadeira”.
É claro que a resposta não surpreende, o mesmo ocorre no ChatGPT. A pergunta serve apenas para lembrar que, com o avanço do surgimento de ferramentas de IA com objetivos diferentes, é importante avançar também na discussão sobre elas e seus impactos.
No Brasil, o assunto já está em pauta, ainda de forma tímida, através do PL 2.338/202, de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que propõe a regulamentação dos sistemas de inteligência artificial no país. A proposta cria regras e estabelece os direitos das pessoas afetadas por seu funcionamento. Especialistas acreditam que o Brasil pode liderar a regulamentação da inteligência artificial. Resta saber se o parlamento será ágil o suficiente para acompanhar o rápido surgimento de tantas novas tecnologias.
...no trabalho da base governista no Congresso para aprovar o PL 2.630: O relator do “PL das Fake News” na Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), contou à Lupa que a nova versão do texto será apresentada com a definição sobre a estrutura do órgão que terá a responsabilidade de fiscalizar a internet. Essa decisão é um dos grandes impasses em relação ao projeto que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. As negociações no Congresso seguem acontecendo para aprovar a proposta no segundo semestre e têm total apoio do Palácio do Planalto. A assessora especial de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Estela Aranha, enfatizou à Lupa que o governo “não desistiu de nada”.
…nas consequências das mudanças constantes no Twitter: A última delas limitou o número diário de posts e parece não ter durado muito. Mas uma mais antiga teve consequências que vão além da confusão entre os usuários. A Lupa conversou com pesquisadores que contaram que algumas medidas estão prejudicando estudos de comportamento online e desinformação. É o caso do PegaBot, que está fora do ar desde que o acesso à Interface para Programação de Aplicações (API) do Twitter passou a ser pago. Já na Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), um monitoramento de narrativas desinformativas sobre debate ambiental, que era possível por meio do acesso a dados que eram públicos, também foi descontinuado. Para os pesquisadores, falta transparência nos dados.
…na novidade da Meta no Brasil, o Threads: A nova rede social chegou chegando para concorrer diretamente com o Twitter e fez sucesso. O aplicativo foi o mais baixado no país nos últimos dias, atraindo mais de 100 milhões de usuários. É claro que o fato de ser uma rede vinculada ao Instagram ajuda, mas os números são mesmo impressionantes. A chegada de uma nova rede social levanta algumas discussões. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), responsável por fiscalizar o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil, está de olho e vai fazer um estudo técnico para examinar a política de privacidade da ferramenta. O objetivo é verificar como os dados dos usuários estão sendo tratados pela Meta. Outro ponto importante a acompanhar é como um problema bem conhecido nas redes sociais mais antigas será tratado: a desinformação.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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