🔎 Lente #99: Erros de Lula contradizem esforço para combater desinformação
Boa sexta-feira, 21 de julho de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Erros de Lula contradizem esforço para combater desinformação;
Desenrola é o alvo da vez da onda de golpes que viraliza nas redes;
Deputados usam dados falsos para defender armas na Câmara.
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Erros de Lula contradizem esforço para combater desinformação
Com um discurso crítico à proliferação desenfreada da desinformação desde a campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem enfrentado desafios para ir da retórica à prática nos primeiros sete meses de governo. É claro que há questões complexas, como a regulação das redes sociais, que demandam aval do Congresso. Por outro lado, iniciativas como a confusa campanha “Brasil Contra Fake” se somam a exageros e erros de informação cometidos pelo próprio petista em discursos e entrevistas.
Uma delas foi na semana passada, quando o presidente afirmou à Record TV que seu governo iniciou a reconstrução de “186 milhões de residências” do Minha Casa, Minha Vida que estavam paralisadas. O correto são 186 mil casas. Mas o que poderia ser apenas um deslize não é exceção, pois Lula já havia cometido gafe semelhante dois meses antes.
Em maio, durante a cerimônia de assinatura do decreto de regulamentação da Lei Paulo Gustavo em Salvador (BA), ele disse que 700 milhões de brasileiros morreram durante a pandemia de Covid-19. Na verdade, foram pouco mais de 700 mil. É um erro que soa passível de se relevar, até porque o país nem tem tantos habitantes assim, mas o grande problema é o efeito que isso provoca além das críticas pelo erro: a desconfiança. Afinal, o próximo dado compartilhado será, de fato, certo ou haverá algum engano?
Isso também se soma a um histórico de exageros do presidente, tanto na campanha de 2022 quanto no exercício do terceiro mandato. Na estreia de suas lives semanais, por exemplo, Lula errou números de obras paradas e de inscritos no Enem. Além disso, análise recente feita pela Lupa do primeiro mês de transmissões virtuais apontou que o presidente também se contradisse sobre o agro e omitiu o pagamento recorde de emendas.
Diferentemente de seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010, o Lula de hoje enfrenta a instantânea – e fiscalizadora – repercussão nas redes sociais. É claro que isso exige muito cuidado, especialmente com os desinformadores contumazes que buscam distorcer a realidade e espalhar inverdades. Mas é necessária, também, uma autocrítica e mais cuidado. Afinal, hoje e sempre, uma coisa é certa: a informação precisa é um antídoto para não só se blindar de ataques como ser um exemplo daquilo que tanto quer combater.
Um abraço,
Leandro Becker
Editor-chefe
Desenrola é o alvo da vez da onda de golpes que viraliza nas redes
A semana foi marcada pelo início do Desenrola Brasil, o programa de quitação de dívidas lançado pelo governo federal. Mas quase tão grande quanto a divulgação do programa foi a enxurrada de tentativas de golpes usando o nome dele. A Lupa mostrou logo na segunda-feira (17), primeiro dia do Desenrola, que o programa estava sendo usado por golpistas em posts patrocinados no Facebook.
Naquele dia, a Lupa encontrou na biblioteca de anúncios da empresa ao menos 50 posts que deram origem a diversos anúncios pagos, criados para enganar usuários e roubar informações como CPF e dados de cartão de crédito. Em geral, as publicações têm a mesma estratégia: copiam o layout de um portal de notícias para dar mais credibilidade ao anúncio. Ao abrir o link, o usuário é levado a uma página falsa, que é semelhante à da Serasa, onde são solicitadas informações pessoais para acesso ao desconto na dívida.
Em nota, a Meta disse que não permite atividades fraudulentas ou quaisquer ações que violem os padrões da comunidade ou de publicidade. Já a Serasa reforçou que a renegociação das dívidas ocorre somente nos canais oficiais da empresa, como o site. Enquanto isso, o Ministério Público de Minas Gerais resolveu investigar os crimes.
O Desenrola foi o alvo da vez, mas nos últimos 10 dias a Lupa revelou outros golpes com estrutura semelhante, como sobre a venda de eletrônicos retidos na Alfândega, um site para restituir ICMS cobrado na conta de luz e outro site para leilão da Receita Federal.
Por tudo isso, não é de estranhar que o crime de estelionato tenha disparado em 2022 no país, de acordo com o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quinta-feira (20). O levantamento mostrou que ao menos três brasileiros foram vítimas de golpes a cada minuto no ano passado. Para a diretora executiva do Fórum, Samira Bueno, nos últimos anos, os criminosos se “profissionalizaram” mapeando vítimas mais vulneráveis e diversificando as narrativas. Narrativas quase sempre desinformativas e que buscam confundir para roubar.
...nos deputados que usam dados falsos para defender armas na Câmara: nesta sexta-feira (21), o governo federal editou um novo decreto que restringe acesso a armas e munições e o tema voltou a ser pauta nos veículos de imprensa. Mas isso nunca deixou de ser assunto na Câmara, como mostra um levantamento feito pela Lupa que analisou mais de 100 menções ao tema ao longo do primeiro semestre. Deputados da oposição erraram em discursos que relacionaram índices de criminalidade ao número de armas entre civis, criticaram o Estatuto do Desarmamento e superdimensionaram o tamanho do setor na economia brasileira.
…na desinformação sobre os ataques a Moraes: a notícia de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua família foram agredidos no aeroporto de Roma, na Itália, no fim da semana passada, desencadeou o compartilhamento de desinformação nas redes sociais. A Lupa mostrou dois exemplos disso: um que resgatou um vídeo antigo ocorrido em Nova Yorque como se fosse na capital italiana e outro alegando que um jornal do país não confirmou que as agressões haviam, de fato, ocorrido. Além disso, como analisou a colunista Cristina Tardáguila, a agressão a Moraes alimentou ações bolsonaristas para desinformar no WhatsApp.
…nos ataques a indígenas nas redes sociais: não é novidade que circula muita desinformação sobre povos originários, mas nesta semana a Lupa mostrou que conteúdos irônicos e de humor produzidos por criadores de conteúdo indígenas estão sendo usados por grupos de extrema-direita para desqualificá-los. Os vídeos são tirados de contexto e, muitas vezes, associam os indígenas a uma suposta vida de "mordomias" com uso de dinheiro público – o que é falso. A Lupa conversou com criadores que têm os conteúdos compartilhados de forma distorcida. Um deles, Kauri Waiãpi, o Daldeia, contou que faz os vídeos para ironizar as críticas que os povos indígenas recebem e que eles vão além da sátira. "Eu não faço só vídeo de humor, eu trago também a realidade do meu povo dentro das minhas redes sociais”. As mensagens distorcendo os conteúdos circulam cheias de preconceito e só mostram a visão caricata sobre os povos originários que alimenta a desinformação no Brasil.
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