🔎 Lente #101: Por que checamos fakes ‘absurdas’?
Boa sexta-feira, 4 de agosto de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Por que checamos fakes ‘absurdas’?;
Uma semana cheia em Brasília;
As investidas de Elon Musk contra quem combate a desinformação.
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Por que checamos fakes ‘absurdas’?
Vacinas vão transformar pessoas em “antenas” de sinal 5G. Lula vai adotar pronome neutro na Bíblia e retirar o nome de Jesus. Deputada federal propôs criar a profissão de ladrão com direito à aposentadoria. Sim, todas são fakes absurdas já checadas pela Lupa. Mas por que conteúdos assim precisam ser desmentidos se são tão óbvios?
É comum sermos questionados – e até criticados – nas redes sociais ao checarmos histórias como essas. Mas, acredite, é necessário. Esses conteúdos não só viralizaram como levaram muita gente a cogitar que fossem reais. Podemos dizer isso sem hesitar porque a definição do que será produzido pelos nossos jornalistas leva em conta o número de pedidos de verificação recebidos e, claro, dados sobre o quanto estão circulando.
Vale ressaltar ainda que fakes inacreditáveis como estas tocam em dois pontos-chave para ganharem tração. O primeiro é semear a dúvida em quem lê. “Será mesmo? Será que isso pode ser real?”. O segundo é o desconhecimento do usuário sobre o assunto. “Será que tem algo estranho em uma vacina feita às pressas devido à pandemia? Será que Lula pode interferir nas religiões por ser presidente?”.
E isso se conecta ao terceiro ponto crucial: o que é óbvio para mim pode não ser óbvio para você – ou para seus amigos ou colegas de trabalho. A crença é livre, construída por muitos fatores e também passa pelo acesso ao conhecimento, que é pulverizado e desigual no Brasil, assim como muitos outros direitos fundamentais do ser humano.
Em junho, viralizou uma fake de que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, teria se vestido de borboleta azul e participado da Parada LGBT+ em São Paulo (SP). Não é verdade, como mostrou a Lupa. Nas redes, muitas pessoas nos questionaram por que checamos algo que “claramente não era verdade” ou “apenas uma brincadeira”. E a resposta é a mesma: porque viralizou e muita gente estava acreditando.
O próprio Dino comentou sobre isso em entrevista exclusiva à Lupa publicada na quarta-feira (2). “Se fosse uma coisa humorística, claro que não me importaria, mas não era. Na verdade, faz parte de um ecossistema de divulgação de ódio”, afirmou o ministro. E isso traz à tona outro aspecto de uma fake “absurda”: ela leva muita gente a não só acreditar como agir de forma violenta por causa disso.
É por situações como essa que, também, a Lupa verifica conteúdos assim. Não para dar voz a perfis de sátira ou histórias fantasiosas que circulam nas redes sociais, mas porque as consequências destas “brincadeiras” podem ir muito além do civilizado. Então, se você encontrar uma checagem de algo “absurdo” por aí, lembre-se: o óbvio vai muito além da nossa percepção e, às vezes, precisa ser dito para combater a desinformação.
Leandro Becker
Editor-chefe
Uma semana cheia em Brasília
Depois do recesso, a volta aos trabalhos. O Congresso retomou as atividades na terça-feira (1º) e promete dias movimentados. Na próxima terça-feira (8), a CPMI do 8 de janeiro vai ouvir Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Já na quarta-feira (9), pode ser votado na Câmara o PL 2.630, o chamado PL das Fake News.
Na CPMI, a expectativa é grande. Torres é investigado em inquéritos no Supremo Tribunal Federal pelas suspeitas de ter se omitido na proteção à Praça dos Três Poderes, já que em 8 de janeiro, dia da invasão em Brasília, ele estava à frente da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, embora estivesse viajando. Ele teve os sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático quebrados pela CPMI na quinta-feira (3).
Na terça-feira (1º), a CPMI recebeu o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura Cunha, que relatou alertas emitidos pelo órgão sobre riscos de invasão nas sedes dos Três Poderes. Nesta sessão, aliás, o senador Magno Malta (PL-ES) mentiu ao afirmar que o homem acusado de derrubar um relógio histórico no Palácio do Planalto era um infiltrado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) — um boato já desmentido pela Lupa.
Sobre o PL 2.630, a confirmação sobre a possível votação no dia 9 ainda virá, já que depende de uma reunião envolvendo os líderes dos partidos na Câmara. Mas, sem dúvida, esse é o desejo da base governista, como a Lupa já havia mostrado em julho. Este deve ser um assunto bastante discutido nos próximos meses. Então, caso você ainda tenha dúvidas sobre o que está em jogo na proposta, sugerimos a leitura deste explicador sobre o projeto de lei feito pela Lupa.
...nas investidas de Elon Musk contra quem combate a desinformação: a X Corp., ou Twitter, para quem ainda não se acostumou com a mudança, está processando o Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos que pesquisa discurso de ódio e desinformação na internet. No processo, aberto no Tribunal Federal de São Francisco, a empresa de Musk alega que o CCDH quer impedir a liberdade de expressão. Em julho, o centro publicou uma carta enviada pela X Corp. que dizia que a organização era responsável por uma “campanha de intimidação para afastar anunciantes”, além de ameaçá-los judicialmente. O CCDH tem publicado estudos que mostram como o discurso de ódio aumentou na plataforma desde que Musk assumiu seu controle. Outras pesquisas apontam para a mesma conclusão. Em uma nota, o fundador e CEO do CCDH, Imran Ahmed, disse que “Musk está tentando 'atirar no mensageiro' que destaca o conteúdo tóxico em sua plataforma em vez de lidar com o tóxico ambiente que ele criou”.
…na desinformação sobre a nova resolução do CNS: o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou em julho a Resolução nº 715/2023, que possui 59 orientações estratégicas que servem de subsídio para o Ministério da Saúde. O documento foi construído a partir de uma série de conferências pelo país, com a participação de cerca de 2 milhões de pessoas. Nas redes sociais, alguns pontos da resolução provocaram a disseminação de uma série de informações distorcidas que relacionam o governo Lula a temas como aborto e maconha. A resolução existe e, de fato, aborda esses temas, mas isso não significa que o documento partiu do presidente Lula ou do seu ministério e não quer dizer que as orientações serão implementadas integralmente pelo governo. Neste explicador feito pela Lupa, você entende melhor tudo isso.
…nas entrevistas de Arthur Lira: o presidente da Câmara dos Deputados esteve no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (31) e a Lupa checou algumas declarações dele. Durante a entrevista, o deputado fez um balanço de sua gestão, citando como avanços a aprovação de medidas como a Reforma Tributária e o Arcabouço Fiscal. Ao defender o marco temporal, Lira errou ao citar um dado sobre os povos indígenas. O parlamentar também subestimou dados sobre a diferença no número de parlamentares do PP e PT na Casa. Você pode conferir a checagem completa aqui.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
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