🔎 Lente #102: Transfobia e omissão no YouTube da Câmara e Senado
Boa sexta-feira, 11 de agosto de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Transfobia e omissão no YouTube da Câmara e Senado;
A CPMI ouviu, o Torres falou e a gente checou;
O retorno da polêmica (e não comprovada) ozonioterapia.
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Transfobia e omissão no YouTube da Câmara e Senado
Estava acompanhando a CPMI do 8 de janeiro pelo canal no YouTube da TV Senado quando notei, nos chats da transmissão ao vivo, uma série de ataques transfóbicos: "saiu de qual zona?, "se ela é mulher, eu sou um astronauta", "traveco".
Naquele momento, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) questionava um dos depoentes convocados pela comissão. Mas grande parte dos comentários no chat não dizia respeito às perguntas feitas pela parlamentar ou sua atuação política. Elas atacavam sua identidade de gênero e desrespeitavam direitos garantido pela Constituição: o da igualdade e da não discriminação.
A partir disso, eu e Nycolle Moraes decidimos analisar algumas das transmissões de sessões anteriores nos canais da Câmara e do Senado e mapear os comentários que eram feitos quando Hilton e a também deputada Duda Salabert (PDT- MG) se manifestavam. As duas são as primeiras e únicas mulheres trans a ocuparem cadeiras da Câmara dos Deputados, neste país que é o que mais mata pessoas transgênero no mundo.
O resultado deste levantamento assusta. Conforme mostrou reportagem publicada esta semana pela Lupa, foram identificados 1.170 comentários transfóbicos em cinco sessões. Quando consideramos o tempo em que as parlamentares falaram na CPMI, a média é de 21 ataques por minuto. São comentários feitos por 596 usuários — alguns deles praticando atos de transfobia reiteradamente nos chats.
Choca não apenas a quantidade de pessoas que, atrás de uma tela, desrespeitam as deputadas pelo que elas são, mas a recusa desses usuários em tratar Erika Hilton e Duda Salabert, e consequentemente toda a população trans, como pessoas. Em 91 comentários, elas foram chamadas por “isso”, além de terem sido nominadas como “anomalia”, “ETs”, “coisa” e “aberração”.
Apesar dos alertas de transfobia, feitos pelos próprios usuários no chat, nada foi feito. Os comentários continuam disponíveis, mesmo após a publicação da reportagem. A deputada Duda Salabert disse à Lupa que vai solicitar que as duas Casas Legislativas adotem medidas para coibir esses atos, além de acionar a esfera criminal.
O Senado e a Câmara dizem moderar as mensagens para evitar esse tipo de ofensa, mas alegam que o volume de interações é muito grande. Por outro lado, reportagem publicada pela Lupa nesta sexta-feira (11) mostra que as Casas mantêm 100 contas bloqueadas em seus canais no YouTube — número que soa insuficiente diante dos quase 600 perfis que publicaram as mensagens transfóbicas em apenas cinco transmissões.
As Casas Legislativas têm o dever de promover um ambiente saudável em todos os seus espaços, para que nenhuma pessoa fique de fora do debate. Responsabilidade que também se estende ao YouTube, que se compromete a remover todos os conteúdos com discurso de ódio, mas não parece estar se esforçando o suficiente para isso.
No fim das contas, sabemos que o chat infestado de transfobia nada mais é do que um duro reflexo da sociedade brasileira, que ainda reluta para tratar seus preconceitos. No entanto, assim como a tecnologia, que avançou a ponto de criar esse novo problema, a sociedade também precisa dar novos passos. E, para isso, atitudes discriminatórias não podem ser toleradas.
Iara Diniz
Repórter
A CPMI ouviu, o Torres falou e a gente checou
Na terça-feira (8), Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro, foi ouvido na CPMI do 8 de janeiro. Em uma sessão que durou por volta de 8 horas, Torres respondeu às perguntas dos integrantes da comissão, mas nem sempre com toda verdade. A equipe da Lupa acompanhou o depoimento e checou algumas das falas do ex-ministro. Ao citar resultados da sua atuação como gestor de segurança no Distrito Federal, ele errou números sobre redução de feminicídio e crimes violentos contra a vida. Também se contradisse ao garantir que confia nas urnas eletrônicas.
Informações imprecisas, contradições e dados que não se sustentam, infelizmente, não são novidade na CPMI e nem exclusividade de Torres. A Lupa já tinha checado o depoimento do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, em junho. Na CPMI, Vasques citou dados falsos sobre a fiscalização de veículos no Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022, bem como sobre a apreensão de armas na região. Aliás, foi justamente a fiscalização de veículos no Nordeste que motivou a prisão dele na quarta-feira (9), em Florianópolis (SC).
Quem mente ao depor em uma CPI, como esta que apura as responsabilidades na invasão em Brasília, pode até ser preso porque a comissão tem poderes de autoridades judiciais. Mas, infelizmente, isso não parece inibir alguns convocados de faltarem com a verdade. Se você quer entender melhor tudo que uma CPI (ou CPMI, neste caso, por ser mista já que envolve deputados e senadores), dá uma olhada neste explicador que fizemos recentemente. Além de entender todos os detalhes desse instrumento de investigação, você vai viajar no tempo e relembrar algumas comissões que já deram o que falar no Brasil.
...na polêmica decisão sobre ozonioterapia: a semana começou com a notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei, aprovada em julho no Congresso, que autoriza o uso do ozônio medicinal para fins complementares no Brasil. Entidades médicas e especialistas criticaram a lei e a decisão do presidente de sancioná-la. O tratamento, que durante a pandemia de Covid-19 já havia sido debatido, embora ineficaz, voltou à pauta. Apesar de haver experimentos com ozônio no contexto da saúde há muitos anos, ainda não existem evidências científicas que comprovem benefícios e descartem efeitos colaterais. Neste outro explicador, a Lupa detalha como funciona o tratamento, os riscos envolvidos, estudos disponíveis até o momento e o que especialistas dizem sobre eles. Já adiantamos que todos os pesquisadores ouvidos pela reportagem convergem no entendimento de que não há evidências científicas de qualidade sobre os benefícios do ozônio medicinal.
…nas novidades sobre PL 2.630: na quarta-feira (9), artistas e representantes de emissoras estiveram reunidos com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), para discutir pontos do PL 2.370. O projeto, que é um dos fatiamentos do “PL das Fake News”, passou a carregar trechos polêmicos do PL 2.630 que foram retirados da proposta que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O objetivo é facilitar a sua aprovação. Depois das negociações dos últimos dias, o PL 2.370, que inclui o pagamento de direitos autorais nas redes sociais, remuneração de material jornalístico nas redes e, agora, publicidade digital, pode ser votado na próxima semana. E aí o caminho para que o PL 2.630 entre na pauta da Câmara ficará mais curto. Pelo menos essa é a expectativa em Brasília. Então, seguimos de olho.
…na reformulação da Lente: há duas semanas, divulgamos este formulário para coletar as impressões e sugestões dos nossos assinantes sobre esta newsletter. Recebemos muitas respostas e ótimas sugestões, mas ainda esperamos novas contribuições para nos ajudar na reformulação da Lente; afinal, é para você que escrevemos. Por isso, queremos reforçar que a sua opinião é muito importante para nós. Queremos te pedir para preencher o formulário, caso ainda não tenha respondido. É bem rapidinho e vai nos ajudar bastante!
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