🔎 Lente #104: Qual é o problema, Bolsonaro?
Boa sexta-feira, 25 de agosto de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Qual é o problema, Bolsonaro?;
As cientistas e o pastor que combatem desinformação;
Fakes sobre “pílula do câncer” e doença do Faustão.
Curte a Lente? Envie este link e convide seus amigos para assinarem a newsletter
Qual é o problema, Bolsonaro?
“Eu mandei para o Meyer, qual o problema?” perguntou, na quarta-feira (23), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o repórter da Folha de S.Paulo ao ser questionado sobre a ordem que ele deu, em junho de 2022, ao empresário Meyer Nigri. Bolsonaro queria que ele repassasse “ao máximo” uma mensagem com conteúdo falso sobre o sistema eleitoral brasileiro e com ataques a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). O material foi encontrado pela Polícia Federal no celular de Nigri, investigado por "ilícita defesa de um golpe de Estado".
Para começar, o problema para o próprio Bolsonaro é que, por causa da mensagem, ele foi intimado a prestar mais um depoimento à Polícia Federal, dessa vez sobre o envio de fake news na investigação deste caso dos empresários alinhados ao governo que mantinham conversas golpistas via WhatsApp. De acordo com relatórios produzidos pela PF, a polícia identificou ao menos 18 mensagens com ataques ao Judiciário e mentiras sobre urnas eletrônicas e vacinas contra a covid-19 disparadas por Bolsonaro a empresários em 2022.
Outro problema é que a fake disparada por ele, obviamente, foi replicada por aliados em páginas que somam milhares de seguidores, além de chegar a canais extremistas. Meses depois, muitos pediram um golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Talvez Bolsonaro não veja problema no que fez porque está acostumado a fazer. Afinal, não é novidade que ele já publicou e disseminou muita desinformação, como a Lupa já havia mostrado ao listar, ainda em janeiro de 2023, ao menos 50 ataques feitos por ele ao STF e ao sistema eleitoral desde 2018.
Quem se preocupa com os efeitos da desinformação entende o problema e as consequências possíveis para um país que tem um presidente da República, agora ex, incentivando e assumindo o envio de conteúdos falsos. Inclusive, não dá para esquecer que foi justamente por usar indevidamente os meios de comunicação e a estrutura do Estado para difundir uma mensagem mentirosa que o próprio Bolsonaro hoje está inelegível.
Luciana Corrêa
Editora
As cientistas e o pastor que combatem desinformação
Nesta semana, a Lupa trouxe reportagens sobre quatro pessoas que combatem a desinformação na internet e fora dela, fazendo trabalhos muito interessantes e importantes.
A física Gabriela Bailas, a química Kananda Eller e a bióloga Mari Krüger usam evidências científicas para combater fakes e pseudociência nas redes sociais. Elas estão na internet criando conteúdo com uma linguagem acessível para explicar a ciência – ou a ausência dela – nas informações que consumimos no dia a dia.
As três fazem parte de um grupo de profissionais que usa as redes para derrubar crenças que não se baseiam na ciência. Algumas destas ideias parecem inofensivas e são repassadas de geração para geração, como o uso do vinagre para desinfetar frutas (não, ele não funciona para essa finalidade e a Mari já enfrentou muito “hater” por explicar isso). Outras estão amparadas no racismo, como a ideia de que a mulher negra suporta mais dor, por exemplo. Se você ainda não conhece o trabalho dessas três mulheres, vale acompanhar. Talvez você descubra algum hábito, crença ou produto que você consome e que na verdade não tem o benefício que te disseram que tem.
Outra história que vale a pena conhecer é a do pastor André Melo. Ele também é jornalista e combate desinformação no meio evangélico. O teólogo de 53 anos colabora com o Coletivo Bereia, primeira agência de fact-checking religioso do Brasil. O Coletivo acompanha diariamente portais de notícias gospel, discursos e pronunciamentos de políticos e lideranças cristãs com o objetivo de verificar fatos.
André contou à repórter Carol Macário que faz o trabalho como checador de fatos “um pouquinho como jornalista, mas 95% como pastor” porque, segundo ele, a desinformação torna o trabalho de qualquer pastor impossível. “Você prega uma coisa no domingo e, durante a semana, o rebanho é bombardeado por mensagens completamente distantes daquilo que se ensina na igreja. A desinformação gera fragmentação, divisão interna e toda uma cultura de ódio”, explicou.
...nas fakes sobre saúde que estão circulando: um vídeo em que um homem diz que a fosfoetanolamina supostamente curaria qualquer tipo de câncer circulou nas redes sociais nos últimos dias. A publicação ainda cita aprovação de um órgão dos Estados Unidos. A “pílula do câncer”, como a substância ficou conhecida, continua sem comprovação científica de eficácia e não tem aprovação da Food and Drug Administration (FDA). Também vale esclarecer que não foi a vacina contra a Covid-19 que causou o problema cardíaco do apresentador Faustão, que aguarda na fila por um transplante de coração. Essa foi outra informação falsa que circulou durante a semana e já foi desmentida pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
…no cada vez mais improvável PL dos Fake News: entre idas e vindas na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 2.630, que regulamente as redes sociais, está estagnado. Nos últimos dias, a estratégia de facilitar a aprovação do “PL das Fake News” por meio de fatiamento, transferindo “temas espinhosos” para outro PL (2.370), também não tem funcionado. A falta de acordo faz com que não haja qualquer previsão de o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), botar o texto original e o fatiado em votação. O repórter André Borges explicou os problemas nesta reportagem para a Lupa.
…nas entrevistas dos ministros de Lula: o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), esteve no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (21). Ele falou sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os planos para o setor. Mas Renan Filho acabou errando a nota de seu estado em rankings que medem a transparência das contas públicas e se equivocou ao comentar sobre a má qualidade da malha rodoviária do Brasil. Você pode conferir a checagem completa feita pela Lupa aqui.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
Não sabe o que a Lupa faz com seus dados?
Conheça nossa Política de Privacidade aqui
Enviamos este email porque você assinou nossa newsletter.
Se quiser parar de recebê-la, clique aqui.