🔎 Lente #105: Fakes não poupam nem a fila de transplante
Boa sexta-feira, 1º de setembro de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
As fakes não poupam nem a fila de transplante de órgãos;
Nova política no YouTube, antigas mentiras circulando;
Novidade para detectar imagens criadas por IA.
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As fakes não poupam nem a fila de transplante de órgãos
Primeiro foi o choque com a notícia de que um dos apresentadores mais conhecidos no Brasil estava na fila de transplante à espera de um coração. Depois, o estranhamento com a velocidade com que Fausto Silva, o Faustão, de 73 anos, fez o transplante. Essa combinação foi suficiente para a disseminação de perigosas informações falsas que descredibilizam o Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
A falta de informação ou a má-fé fizeram circular recentemente publicações que acusavam Faustão de ter furado a fila do transplante. Foram identificadas pela Lupa mais de 70 publicações entre os dias 26 e 28 de agosto com os termos “furou fila” e “Faustão” só no Facebook.
“Faustão furou a fila do SUS, o dinheiro sempre fala mais alto”, diz uma das postagem que ilustram a reportagem que a Lupa publicou desmentindo as desinformações e esclarecendo dúvidas sobre transplantes no Brasil. No texto, especialistas que conhecem profundamente o sistema negaram que isso tenha acontecido – inclusive uma profissional que integra a equipe que cuida do paciente que é o próximo receptor na lista. O Ministério da Saúde desmentiu, a família desmentiu, mas é provável que ainda tenha quem duvide.
O Brasil tem o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo e, ainda assim, muita gente está na fila. Se você clicar neste link, vai ver o número exato no momento em que lê esse texto (na manhã desta sexta-feira, o número era de 40.358 pessoas). Levantar dúvidas sem fundamento e sem provas sobre o SNT só serve para dificultar o tratamento de todas essas pessoas e de quem, no futuro, ainda vai precisar de um transplante. A decisão da doação é feita pela família em um momento muito difícil. Juntar dúvidas à dor só torna tudo mais complicado.
Faustão, que ficou cerca de 20 dias na fila, recebeu o órgão por causa da gravidade de seu estado e de critérios técnicos. E o caso dele não é único. Em 2023, para quase 30% dos pacientes que precisavam de um transplante de coração, o tempo de espera também foi menor que 30 dias. Para quem ainda acredita que o dinheiro fez diferença, vale ouvir a história da Michelle. No caso dela, que precisou de um transplante de fígado, o órgão chegou em menos de 24 horas.
Luciana Corrêa
Editora
Nova política no YouTube, antigas mentiras circulando
Na metade de agosto, o YouTube anunciou uma atualização da sua política de combate à desinformação médica. O objetivo: “Garantir que, quando se trata de áreas de consenso científico bem estudadas, o YouTube não seja uma plataforma para distribuição de informações que possam prejudicar as pessoas”. Na prática, a plataforma se comprometeu a remover conteúdos com informações falsas sobre prevenção e tratamento de algumas condições de saúde — entre elas, o câncer.
Porém, no começo desta semana, a Lupa publicou reportagem mostrando que, apesar da promessa, dezenas de vídeos com receitas milagrosas e que oferecem riscos aos pacientes seguiam online. Entre as postagens, estão fórmulas e produtos supostamente usados para “curar” ou prevenir câncer, autismo e outras condições. Para você entender o risco de alguns conteúdos, uma mulher ensina, em um vídeo, como fazer uma farinha de casca de limão supostamente “10 mil vezes melhor que quimioterapia” para tratar o câncer. É claro que não existe evidência de que isso seja verdade.
Em nota, o YouTube informou que ainda não tem um levantamento específico sobre quantos vídeos foram removidos após a reformulação da política e afirmou que o processo de remoção é contínuo.
Ao anunciar a nova política, o YouTube disse que aprendeu “lições importantes”, especialmente depois da pandemia do novo coronavírus, sobre “tópicos que representam sérios riscos no mundo real, como desinformação sobre Covid-19, vacinas, saúde reprodutiva, substâncias nocivas e muito mais”. É importante que, na prática, isso seja efetivo, pois ainda não pararam de circular desinformações sobre vacinas, especialmente as da Covid-19. E também porque, em agosto, o Brasil teve uma alta nos casos da doença.
...na novidade para detectar imagens criadas por IA: o Google começou a testar uma marca d’água digital para detectar imagens feitas por Inteligência Artificial. A ferramenta, chamada SynthID, foi desenvolvida pela Deepmind, divisão de inteligência artificial da empresa, e poderá ser usada para identificar fotos criadas pelo Imagen, gerador de imagem que também pertence ao Google. Para que essa marca d’água não seja também editada ou recortada, ela funcionará como uma espécie de “impressão digital”, invisível ao olho humano, mas identificada pelo software. Em julho, o Google e outras big techs assinaram um acordo com o governo dos Estados Unidos para ampliar a segurança no uso da IA, incluindo a criação de ferramentas para identificar conteúdos produzidos por IA e reduzir a desinformação.
…na verdade sobre os voos para África: no último sábado (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) errou ao dizer em sua conta no X (ex-Twitter) que não há voos diretos do Brasil para o continente africano. Uma busca em sites de companhias aéreas nacionais e internacionais mostra que há voos partindo do aeroporto de Guarulhos (SP), na região metropolitana de São Paulo, para vários países africanos. A Lupa checou a declaração e também foi atrás da explicação da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). Veja aqui.
…no que está por vir no dia 7 de setembro: a comemoração do Dia da Independência, na próxima semana, virou motivo de divergência em grupos bolsonaristas. A coluna de Cristina Tardáguila traz um monitoramento, realizado de forma anônima pela Palver em mais de 15 mil grupos públicos no WhatsApp, revelando que duas propostas diferentes circulam entre os apoiadores do ex-presidente. De um lado, o total boicote às festividades. Do outro, a total adesão. Até o momento, Bolsonaro não demonstrou apoio a nenhuma delas. Neste ano, a democracia é o tema do Desfile Cívico de 7 de Setembro em Brasília. De acordo com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), são esperadas 30 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.
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