🔎 Lente #106: Chuvas no RS: A tragédia e a desinformação
Boa sexta-feira, 15 de setembro de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Chuvas no RS: Uma tragédia aumentada pela desinformação;
Caminho aberto para as fakes nas eleições;
O papel da desinformação nos ataques em Brasília, segundo o STF.
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Chuvas no RS: Uma tragédia aumentada pela desinformação
Até a manhã desta sexta-feira (15), o número de mortes no Rio Grande do Sul pelas chuvas já era de 47 pessoas. Outras nove continuavam desaparecidas e quase 21 mil, desalojadas. Mais de 354 mil gaúchos foram afetados. Os números mostram o tamanho da tragédia depois da passagem do ciclone extratropical na semana passada.
Os moradores das cidades atingidas precisam lutar para reconstruir casas, rotinas e vidas, e ainda conviver com a desinformação que segue circulando e, certamente, não ajuda em nada no atendimento às vítimas.
Um dos conteúdos falsos que talvez tenha causado mais impacto foi o que dizia que a abertura de comportas das três barragens no Complexo Energético Rio das Antas – região afetada pelas chuvas – teria acelerado a inundação. O jornalista Alexandre Garcia foi uma das pessoas que divulgou a informação. Em vídeo, ele disse que era necessário investigar a tragédia, que não teria sido ocasionada apenas pela chuva. A declaração é falsa. Não há evidências de que as barragens tenham influenciado no aumento da enxurrada. A Lupa consultou pesquisadores que atuam na região e explicou em detalhes ao verificar o vídeo.
Outra informação que circulou sem nenhuma comprovação e que só contribuiu para aumentar a preocupação de quem perdeu tudo na enchente em Lajeado foi a de que doações estavam sendo retidas para aguardar a visita do presidente Lula (PT) ao Rio Grande do Sul. Também é falso. E tem ainda as fakes que aumentam o pânico ao usar imagens de eventos catastróficos em outros lugares do mundo e associam ao que aconteceu no Rio Grande do Sul, como neste caso, novamente inverídico.
As mentiras envolvendo a tragédia podem virar caso de polícia, já que o ministro da Justiça Flávio Dino declarou que acionou a Polícia Federal para investigar algumas pessoas que espalharam “fake news” sobre as enchentes. O que aconteceu com os gaúchos exige muita atenção e responsabilidade das autoridades, mas não só delas. Exige também de todos que recebem esses conteúdos e os repassam sem pensar duas vezes. Neste caso, sem pensar em como eles vão aumentar a dor e a preocupação de quem já perdeu tudo.
Luciana Corrêa
Editora
Caminho aberto para a desinformação nas eleições
A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana dois textos com alterações que reformam a lei eleitoral. As propostas vão agora para o Senado e precisam ser aprovadas até o dia 6 de outubro para valer nas eleições municipais de 2024. A “minirreforma eleitoral”, como foi chamada, está sendo bastante criticada por aliviar punições a políticos e flexibilizar regras que policiam partidos e candidatos.
Além das críticas pelo que entrou, também há críticas pelo que ficou de fora do texto. Os deputados ignoraram medidas de combate à desinformação na discussão. Apesar de considerar o tema um “assunto grave”, nas palavras do relator da proposta, o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), o Grupo de Trabalho que elaborou a reforma e todos que a aprovaram resolveram seguir em frente sem propor medidas para limitar a distribuição de conteúdos falsos na internet durante a campanha eleitoral. “Não entrou. Esse debate da desinformação é tão importante que precisa ser feito à parte e específico, e não na urgência de uma minirreforma”, disse o relator à Lupa.
Antes de ser votada em plenário, a Sala de Articulação contra a Desinformação (SAD), uma iniciativa que reúne dezenas de organizações da sociedade civil com o objetivo de propor respostas à desinformação online no Brasil, enviou uma carta aos deputados assinada por 23 organizações, com sugestões para cobrar regras claras sobre a propaganda na internet durante a campanha eleitoral. Não adiantou.
A previsão é de que as eleições municipais envolvam a participação de cerca de 500 mil candidatos em todo o país em 2024. O número dá uma ideia do potencial de circulação de material falso pelas plataformas digitais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode, como prevê a Constituição, editar resoluções para disciplinar regras do processo eleitoral. Resta agora aguardar para ver se virá da Justiça eleitoral medidas que ajudem a coibir a desinformação – que certamente vai circular nas campanhas no ano que vem.
...no julgamento dos acusados pelos atos golpistas de 8/1: o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta semana os três primeiros réus nas ações penais que julgam envolvidos nos ataques em Brasília, em janeiro. Aécio Lúcio Costa Pereira, Thiago de Assis Mathar e Matheus Lima de Carvalho Lázaro foram punidos pelos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado com penas de 17, 14 e 17 anos de prisão, respectivamente, além de multa. Por diversas vezes no julgamento, ministros mencionaram como a desinformação influenciou nos ataques. Para o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso, o movimento antidemocrático que culminou com o 8 de janeiro é resultado de um falso discurso de fraude no processo eleitoral, como, por exemplo, no caso do código-fonte das urnas. Nos últimos cinco anos, a Lupa desmentiu 169 conteúdos falsos que colocavam em xeque a segurança das urnas, incluindo possíveis adulterações no código-fonte.
…na desinformação propagada por Lula: na última semana, na sua passagem pela cúpula do G20, encontro que reuniu lideranças das maiores economias do mundo em Nova Déli, Índia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, pelo menos, duas afirmações falsas. Sem qualquer comprovação científica, ele afirmou que as causas do terremoto no Marrocos estavam associadas a mudanças climáticas. Depois, disse que não conhecia o Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão do qual o Brasil é signatário desde 2002. Em 2003, quando Lula era presidente, a ex-desembargadora Sylvia Steiner foi eleita para a Corte. Segundo a juíza, foi por meio do empenho do ministro das Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, que ela foi escolhida. A Lupa reuniu outras declarações falsas feitas pelo presidente em viagens internacionais neste ano.
…nos “clones” criados por IA nos EUA para os presidenciáveis: a partir desta semana e com a ajuda de "clones presidenciais" desenvolvidos por inteligência artificial, todos poderão conversar com políticos que disputam a Casa Branca em questão de segundos. Basta iniciar uma bate-papo – totalmente gratuito – com os novos "chatbots presidenciais". Os 17 robôs inteligentes foram lançados pela startup digital Delphi e podem ser consultados também em português no site Chat2024.com. Os robôs foram expostos a centenas de horas de discursos e entrevistas concedidas por cada um dos políticos e, assim, "aprenderam" a responder como eles. A colunista da Lupa Cristina Tardáguila fez alguns testes muito interessantes perguntando a opinião dos “candidatos” sobre Lula, Amazônia e o combate à desinformação.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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