🔎 Lente #111: Governo repete erro ao tentar combater a desinformação
Boa sexta-feira, 27 de outubro de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Governo federal repete erro ao tentar combater a desinformação;
Eleição na Argentina é marcada por “replay” de fakes brasileiras;
Guia ajuda a lidar com casos de violência como ataque a escolas.
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Governo federal repete erro ao tentar combater a desinformação
Mais uma vez faltou transparência e critérios claros para o governo federal na tentativa de enfrentar de forma eficiente a proliferação das chamadas “fake news”. Apesar de a ofensiva contra a desinformação ser um propósito nobre e muito necessário no Brasil, o Saúde com Ciência, lançado nesta semana, não detalha pontos-chave de como a iniciativa vai, na prática, contribuir para frear a escalada de mentiras nas redes sociais.
O Ministério da Saúde informou que o programa “faz parte da estratégia para recuperar as altas coberturas vacinais do Brasil diante de um cenário de retrocesso”. Isso é louvável, levando em conta o negacionismo que se viu no governo de Jair Bolsonaro (PL) em relação ao tema. Aliás, este é um assunto que, infelizmente, ainda segue em voga. Basta uma pesquisa rápida no site da Lupa para encontrar centenas de conteúdos falsos sobre vacina, especialmente sobre a Covid-19.
Por outro lado, há perguntas que não foram respondidas pelo governo federal ao lançar a iniciativa – e a Lupa reuniu em uma reportagem essas dúvidas. Uma delas é sobre o espaço que foi aberto para receber denúncias de conteúdos falsos enviados pela população. O formulário disponível no site afirma que “a equipe do Saúde com Ciência” vai analisar e pede que o usuário “fique de olho” no site para “conferir a resposta depois”.
O usuário, entretanto, não é informado sobre quem é a equipe que fará a triagem e conferência desses pedidos. E o mais importante: nem que critérios serão usados para isso. Outro ponto é a ausência de uma metodologia clara – um dos princípios do fact-checking sério – para garantir que essa “resposta” seja dada com isenção e transparência.
Vale dizer que não é a primeira vez que uma ação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem falta de informações transparentes de monitoramento e checagem de desinformação. O Saúde com Ciência segue a mesma lógica de outro programa lançado em março pelo Planalto, o 'Brasil Contra Fake', cujo objetivo é desmentir conteúdos falsos envolvendo a atual gestão. Mas o projeto também não deixa claro qual é a metodologia utilizada para seleção de conteúdos nem quais critérios são usados para avaliar a veracidade de um fato envolvendo as autoridades federais.
Em nota enviada à Lupa, o Ministério da Saúde destacou que o programa está voltado à defesa da vacinação e não se trata de um projeto de defesa da atual gestão. Informou que os conteúdos publicados têm teor técnico e já estão disponíveis, inclusive para consulta das agências de checagem. E reiterou que os estudos e referências utilizados na produção dos textos que desmentem os boatos passarão a ser publicados. A resposta da pasta aos questionamentos que fizemos está publicada na íntegra em nossa reportagem.
Na nota, o ministério declarou ainda que “a proliferação de fake news está entre os fatores para maior hesitação vacinal no país”. E, de fato, não há como discordar da existência do problema e da necessidade de combater a desinformação. Mas há de se esperar, também, que esse enfrentamento seja feito com máxima clareza e transparência, sob pena de que a boa intenção vire motivo para alimentar mais polarização e novas fakes.
Leandro Becker e Luciana Corrêa
Editores
Eleição na Argentina é marcada por “replay” de fakes brasileiras
No dia 19 de novembro, os argentinos voltarão às urnas para eleger o novo presidente do país: Sergio Massa ou Javier Milei. Quem vai ganhar é uma incógnita, mas se o 2º turno repetir o primeiro, uma coisa é certa: os checadores terão muito trabalho.
Assim como aconteceu no Brasil em 2022, a campanha eleitoral na Argentina foi marcada pela disseminação de conteúdo falso nas redes sociais. O uso dessas narrativas tem muitas similaridades com posts que foram compartilhados durante as eleições brasileiras, principalmente no que diz respeito a temas polêmicos.
A Lupa identificou os principais boatos desmentidos por agências de checagem na Argentina no 1º turno. Fraude nas urnas, pesquisas falsas de boca de urna, resultados falsos de votação no exterior e montagem com ataques a candidatos estão entre as táticas usadas lá e que já foram vistas aqui.
Mas se você acha que a relação entre os dois países parou nas semelhanças das fakes, está enganado. No Brasil, a eleição do país vizinho também virou informação falsa que está circulando nas redes, alimentada pela já arraigada polarização política.
Em tom conspiratório, publicações brasileiras acusam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de ter doado US$ 1 bilhão para interferir no resultado da eleição argentina. Além disso, o petista é criticado por, supostamente, ter enviado a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, para garantir um desempenho positivo para a esquerda no país vizinho. Os conteúdos foram verificados pela Lupa e são falsos.
…no guia para lidar com casos de violência: a semana teve mais um ataque de atirador em escola no Brasil – o oitavo registro no ano. Desta vez, o episódio ocorreu no bairro de Sapopemba, zona leste de São Paulo. Já nos EUA, um atirador matou ao menos 18 pessoas na cidade de Lewiston, no Estado do Maine. A violência explícita e os efeitos que ela causa exigem atenção. A Lupa preparou um breve guia para ajudar você a lidar com essa violência de forma objetiva e humanizada. As instruções vêm de especialistas em casos de 'mass shooting' (tiroteio em massa).
…nas novas estratégias da “guerra” de fakes: uma postagem feita pelo perfil oficial do Exército de Israel trouxe uma nova camada de complexidade à verificação de informações sobre a guerra entre Israel e Hamas. O conteúdo, publicado no X (antigo Twitter), descreveu uma suposta imagem cruel do conflito em formato de texto – o que, aparentemente, impede que seja verificada por checadores de fato. A colunista da Lupa Cris Tardáguila foi atrás da história e mostrou como isso trouxe mais confusão e tensão entre os dois lados da disputa.
...na desinformação sobre o conflito Israel-Hamas: a escalada de mentiras sobre a guerra no Oriente Médio não para. As fakes vão desde ataques contra civis até supostas manifestações de personalidades, como o jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que atua no mundo árabe. A Lupa tem desmentido quase todos os dias ao menos um conteúdo falso sobre o assunto. Para conferir todas as verificações que já fizemos desde o início do conflito, em 7 de outubro, clique aqui.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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