🔎 Lente #113: Antissemitismo e islamofobia disparam no Brasil
Boa sexta-feira, 17 de novembro de 2023. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Antissemitismo e islamofobia disparam no Brasil dentro e fora das redes;
Fakes e ódio tornam indígenas vítimas da desinformação;
Batalha na Wikipédia marca a reta final da eleição na Argentina.
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Guerra faz antissemitismo e islamofobia dispararem no Brasil
A guerra que atinge diretamente Israel e Palestina tem efeitos no mundo todo, é claro. Só que para algumas pessoas o medo e a angústia são mais fortes e reais. Muçulmanos e judeus que vivem no Brasil estão tendo que lidar com uma nova onda de preconceitos agravada pela incompreensão e pela desinformação.
Na segunda-feira (13), a Lupa mostrou que, em outubro, o número de casos de antissemitismo disparou 961% em relação ao mesmo mês do ano passado. E relatos de islamofobia cresceram quase 900% no último mês. Os dados são da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e da Associação Nacional de Juristas Islâmicos.
A antropóloga Francirosy Campos Barbosa, professora da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes, explica que o conflito é uma espécie de "evento gatilho". "Infelizmente, as pessoas não conseguem diferenciar a religião do episódio”, diz Francirosy.
A reportagem da Lupa traz alguns exemplos disso. Lisete Karima, que infelizmente já se acostumou a ver muçulmanos sendo associados a terroristas, tem vivido no trabalho o aumento da islamofobia. Ela, que trabalha como caixa de um supermercado de Porto Alegre (RS), virou alvo de comentários odiosos de clientes. Em um dos casos, uma mulher a acusou de assassinar bebês — em referência a uma história viral, jamais confirmada, de que o Hamas teria decapitado 40 bebês.
Já a jornalista Suzane Halfoun ouviu um ataque antissemita durante uma reunião em uma empresa em que atua como freelancer no Rio de Janeiro. Um cliente chamou de “judeus porcos” as pessoas que seriam escaladas para o trabalho. Além de Suzane, outros três funcionários seguem o judaísmo. “Para nós, isso foi muito violento. Mas é dinheiro, ninguém está podendo perder trabalho”, comentou.
Pessoas estão com medo de sair de casa e expressar as suas crenças. Nas redes sociais, a violência é ainda mais recorrente. De acordo com Daniel Bialski, da Conib, a maioria dos casos reportados nos canais de denúncia da entidade nas últimas semanas vem do ambiente virtual. “As redes sociais estão inundadas de ofensas. Comparam, por exemplo, judeus com baratas, dizendo: ‘Temos que fazer com os judeus o que fazemos com baratas, matar todas’, exemplifica.
Importante lembrar que praticar, induzir ou incitar a discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é crime previsto na Lei Federal nº 7.716/1989, com pena de um a três anos de prisão e multa. Se, além disso, o agressor impedir ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas, a pena passa a ser de dois a cinco anos de prisão.
Se você é judeu ou muçulmano e sofreu algum tipo de violência, denuncie. E se você não é, mas já viu comentários assim nas redes sociais, faça o mesmo: denuncie e não permita que se reproduza aqui no Brasil violências que, à distância, tanto condenamos.
Luciana Corrêa
Editora
Fakes e ódio tornam indígenas vítimas da desinformação
A série especial da Lupa Vítimas da Desinformação chegou ao fim nesta sexta-feira (17), com uma reportagem que mostra como as fakes e o discurso de ódio escancaram a violência contra o povo xokleng do Território Indígena (TI) Ibirama-La Klãnõ, na região do Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
O fechamento de uma barragem construída dentro do território e a inundação da área (consequência do fechamento) deixou indígenas sem casa em SC. Para os xokleng, esse foi apenas o episódio mais recente da violência pautada na desinformação secular que é repetida até hoje. Quem aí nunca ouviu que indígenas são “selvagens”, “violentos” e não precisam de terra?
A repórter Carol Macário encontrou famílias inteiras, incluindo idosos e muitas crianças, vivendo de modo improvisado, precário, sem banheiro nem água encanada e com poucos mantimentos. Quando a Lupa esteve lá, viu crianças comendo apenas arroz cozido. Você pode ver e compreender essa realidade, também, na reportagem em vídeo.
Apesar de situações como essa, que não ocorrem apenas em Santa Catarina, nas redes sociais o que muita gente reproduz são comentários ofensivos, racistas e que incitam a violência contra os xokleng. “Índios de Iphone”, “borracha nessa corja” são alguns exemplos.
“A gente vê a reprodução de um modo de ver os indígenas como pessoas que não estão andando com o tempo, que não evoluem, que devem ficar sempre no cantinho, na aldeia, fechadas. Vemos a reprodução de um ‘índio’ muito estereotipado. Isso não é só com a gente, os xokleng, mas com todos os povos indígenas no Brasil. É uma tentativa de deixar a gente no passado, no esquecimento”, resume Txulunh Gakran, liderança feminina da comunidade.
Reforçamos o convite para conhecer essa história, assim como as duas outras reportagens da série especial: o caso do adolescente Thiago Menezes, assassinado aos 13 anos no Rio de Janeiro e taxado de criminoso pela polícia; e como as fakes alimentam a intolerância religiosa, que cresceu no Brasil.
…na desinformação das eleições argentinas: neste domingo (19), a Argentina define no voto seu novo presidente: Sergio Massa ou Javier Milei. Assim como no Brasil, a campanha tem sido marcada por muitas fakes, inclusive com narrativas similares sobre fraude nas urnas, como mostramos em uma reportagem recente. Mas a batalha de narrativas vai muito além das propostas ou dos desafios do país e chegou até mesmo à Wikipédia. A repórter Cris Tardáguila mostrou que, por lá, os defensores de Milei têm insistido nos argumentos para tentar suavizar a biografia do candidato e "proteger" sua imagem na reta final da eleição – e a desinformação, claro, está permeada neste enredo.
…na reciclagem de conteúdos falsos sobre a Covid-19: a pandemia já não assusta nem mata tanto quanto em 2020 e 2021, mas não houve até agora vacina para frear as fakes relacionadas ao assunto. Nas últimas semanas, o volume de conteúdos falsos sobre o coronavírus e os efeitos da vacinação voltaram a emergir com força nas redes sociais. A Lupa desmentiu ao menos quatro deles nos últimos 10 dias, incluindo explicações inverídicas sobre a demora na compra de vacinas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), falta de eficácia de imunização para a variante ômicron, riscos graves à saúde de quem se vacinou e até uma falsa onda de casos de mal súbito após a vacinação na cidade de Caraguatatuba (SP). Vale ficar de olho e, se houver dúvida, não hesite em conferir o que já checamos sobre o assunto.
...na punição de advogados que espalham mentiras: o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) aprovou regras para punir a produção e divulgação de fake news contra candidatos que disputam suas eleições internas. Além disso, definiu normas para enquadrar materiais que ofendam a honra ou provoquem violência política e de gênero durante o pleito. Reportagem do UOL detalha as medidas e destaca que elas foram anunciadas um ano antes da votação para minimizar os golpes "abaixo da cintura" durante o pleito. Será que vai funcionar?
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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