🔎 Lente #120: O alerta dos dados a 9 meses das eleições municipais
Boa sexta-feira, 19 de janeiro de 2024. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
O alerta dos dados a 9 meses das eleições municipais;
Saúde enfrenta uma ‘pandemia de desinformação’ longe do fim;
Uso político da inteligência artificial provoca ação e reação.
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O alerta dos dados a 9 meses das eleições municipais
Homens, brancos e casados. No caso dos prefeitos, geralmente cinquentões que fizeram faculdade. Entre os vereadores, a maioria na casa dos 40 anos com ensino médio completo. Talvez esses perfis não surpreendam, mas dados públicos mostram que isso não é mera impressão. É uma realidade que merece, no mínimo, reflexão.
As constatações são da série de reportagens Lupa nas Eleições, que publicamos nesta semana, com um raio-X dos candidatos a prefeito e vereador eleitos no Brasil desde 2000, bem como quem são os mais de 152 milhões de eleitores aptos a votar no dia 6 de outubro – dado que ainda mudará porque o prazo para alistamento eleitoral vai até maio.
Entre os achados das reportagens de Francisco Amorim, estão pontos que merecem ampla atenção. Um deles é que o perfil do prefeito eleito no Brasil mudou pouco ao longo dos últimos 20 anos e contrasta com cor e gênero predominantes na população e eleitorado nacional. Outro é que a presença de mulheres e negros na gestão municipal cresceu pouco e segue em descompasso com a realidade social brasileira.
Apesar de o número de mulheres eleitas ter dobrado em duas décadas, apenas 12,1% das prefeituras ficaram nas mãos delas nas eleições de 2020. Além disso, entre os eleitos, 67,1% se autodeclararam brancos no momento do registro da candidatura, enquanto 30% eram pardos e somente 2% pretos. Entre os vereadores, as mulheres representaram 16,1% dos eleitos em 2020, enquanto pardos e pretos conquistaram 44,7% das vagas.
Também chama atenção como o Brasil está cada vez mais repleto de “políticos profissionais”. Um quarto dos prefeitos eleitos declarou ainda no registro de sua campanha em 2020 que sua ocupação é ser prefeito. Nas disputas de 2000 e 2004, esse número era bem menor – 5,1% e 5,7%, respectivamente. Já nos legislativos municipais, um em cada cinco eleitos há quatro anos declarou que sua principal atividade profissional era ser vereador.
A falta de diversidade e representatividade entre os prefeitos e vereadores eleitos, na comparação com os indicadores de cor, raça e gênero da população brasileira, é um importante sinal de alerta. Primeiro, por mostrar que os espaços de poder ainda mantêm um histórico e triste desequilíbrio. Segundo, por reforçar que a política não visa só servir à população, mas também permite a perpetuação dos mesmos o máximo possível no poder.
É cedo ainda para cravar o que as urnas vão “falar” nos 5.570 municípios brasileiros no dia 6 de outubro. Mas esta “evolução” desde os anos 2000, que a análise dos dados deixa evidente, é um bom ponto de partida para os eleitores começarem a avaliar desde já para quem vão delegar o poder de administrar e definir as leis da cidade onde vivem.
Leandro Becker
Editor-chefe
Saúde enfrenta uma ‘pandemia de desinformação’ longe do fim
Todo o mundo lembra quão difícil e triste foi viver durante o ápice da pandemia de Covid-19. Só no Brasil, foram mais de 700 mil mortes. E a ciência e os indicadores de saúde estão aí para mostrar o quanto o “novo normal” só voltou a ser tão parecido com o “antigo normal” graças à eficiência das vacinas contra o coronavírus.
Mas, quase quatro anos depois do primeiro caso da doença ser confirmado no país, o negacionismo ainda sobrevive. A mais recente onda de falsas narrativas é que a vacina traz riscos às crianças. Isso se acentuou principalmente desde 1º de janeiro deste ano, quando o Calendário Nacional de Vacinação passou a incluir a versão pediátrica do imunizante para a faixa etária de seis meses a quatro anos e 11 meses.
As redes sociais são o principal palanque para esses discursos que negam a ciência propagados por pessoas que não são especialistas da área da saúde — inclusive políticos. Além disso, têm ganhado tração outros conteúdos falsos afirmando, por exemplo, que a vacina da Covid-19 foi produzida para “reduzir a população”, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai exigir cartão de vacina para trabalhar no Brasil e que não há vacina disponível para proteger contra a nova variante XBB. Tudo foi desmentido pela Lupa.
É importante ressaltar que a ciência e especialistas são categóricos em dizer que não há motivo para temor, como mostrou reportagem publicada quinta-feira (18) pela Lupa. E a vacinação é ainda mais importante considerando que, apesar de já existirem há pelo menos três anos imunizantes seguros e capazes de evitar mortes e hospitalizações pela Covid-19, 135 crianças menores de 5 anos morreram no país até outubro de 2023 devido à doença.
Se os hospitais lotados e milhares de mortes por dia ficaram para trás no Brasil, fato é que a pandemia da desinformação sobre a Covid-19 ainda resiste, principalmente nas redes sociais e aplicativos de mensagem. Então, se você se deparar com algum conteúdo sobre isso circulando, não deixe de dar uma olhadinha no que já checamos sobre o assunto.
…no combate às fakes na eleição municipal: O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou que o Poder Judiciário terá de agir para conter o avanço da desinformação durante as eleições de 2024 se o Congresso se omitir em aprovar leis contundentes sobre o assunto. "O problema é que às vezes o Congresso não atua, aparece um caso concreto, a gente tem que atuar e dizem que a gente está judicializando a política, mas a verdade é que o Supremo não pode dizer não julgo porque não tem lei", declarou o ministro, em entrevista à CNN. Mas o alerta não está só no discurso de Barroso. A Lupa mostrou recentemente que o TSE já abriu consulta pública para definir regras para a campanha deste ano, em especial no que se refere ao uso de inteligência artificial (IA) pelos candidatos
…no uso de IA e ChatGPT na política: o avanço da desinformação criada por inteligência artificial e o temor de como isso será usado nas eleições já movimentam as empresas de tecnologia. A OpenAI, criadora do ChatGPT, anunciou que não permitirá que sua tecnologia seja usada em campanhas políticas. Também prometeu direcionar os usuários para sites autorizados no caso de perguntas sobre regras da eleição nos Estados Unidos, por exemplo. Vale lembrar que, recentemente, o CEO da OpenAI, Sam Altman, informou ao Congresso americano que a integridade eleitoral é uma "área de preocupação significativa" e apelou à rápida regulamentação do setor. Resta saber se as barreiras serão suficientemente fortes para barrar o mau uso da tecnologia.
…na investigação sobre o Kwai: o Ministério Público Federal abriu um inquérito para apurar a conduta da rede social Kwai no Brasil. Reportagem da piauí revelou recentemente que a big tech chinesa cometeu irregularidades como clonar o perfil de usuários de outras redes sociais e contratar agências terceirizadas para produzir conteúdo viral como notícias falsas sobre vacinas e as eleições de 2022, além de impulsionar candidatos à Presidência da República. Ainda é cedo para saber como esse caso acabará, mas não há dúvida de que é mais um capítulo na discussão sobre a responsabilidade das plataformas, tema central do enfraquecido projeto de lei 2.630 – mais conhecido como “PL das Fake News” – no Congresso.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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