🔎 Lente #121: As big techs fogem das suas responsabilidades
Boa sexta-feira, 26 de janeiro de 2024. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
IA e eleições: Big techs fogem da responsabilidade;
Ivermectina e cloroquina em alta no ‘zap’ dos bolsonaristas;
Os deslizes de Haddad no Roda Viva.
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IA e eleições: Big techs fogem da responsabilidade
O uso de Inteligência Artificial (IA) na produção de conteúdos falsos e enganosos é uma das principais preocupações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições deste ano — e foi tema de discussão em um ciclo de audiências realizado pela Corte nesta semana, com a presença de partidos políticos, organizações não-governamentais e cidadãos.
Para tentar frear o uso de IA por candidatos que queiram se aproveitar da tecnologia para manipular o processo eleitoral, o TSE elaborou uma série de propostas que poderão se transformar nas resoluções da Corte para as eleições deste ano. É dessa forma que o tribunal atualiza a regulamentação eleitoral, uma vez que o Congresso não aprovou, na minirreforma votada em 2023, regras específicas a respeito do assunto.
O TSE cobra uma maior responsabilidade das plataformas digitais no compartilhamento de conteúdos durante as eleições. Contudo, big techs como Meta e Google, que participaram da audiência, afirmam que a responsabilização pelo impulsionamento de conteúdos desinformativos, incluindo aqueles com uso de IA, deve ser direcionada aos partidos e candidatos. Na prática, fogem da responsabilidade de monitorar conteúdos que possam interferir no processo.
A ministra Cármen Lúcia, vice-presidente do TSE, cobrou mais celeridade das big techs para que “as redes sejam mesmo sociais e não antissociais, e que sejam instrumentos da melhor política e não contra a política democrática”. O mesmo tom foi adotado por organizações da sociedade civil, que pediram mais transparência das plataformas e uma sinalização mais clara no texto da minuta do TSE sobre o que deve ser considerado lícito ou ilícito envolvendo o tema.
Agora, a ministra Cármen Lúcia vai elaborar e revisar, a partir de centenas de propostas recebidas, as instruções para as eleições, que o TSE deve votar até 5 de março. Até lá, é interessante observar como as big techs vão se comportar e quem vai se antecipar às possíveis futuras determinações.
Nesta semana, testes feitos pela Lupa nos dois sistemas de IA mais populares do Brasil – o ChatGPT, da OpenAI, e o Bard, do Google – revelaram que ambos têm restrições relevantes ou entregam respostas problemáticas quando incitados a falar sobre política e eleição. As duas empresas anunciaram recentemente que fariam restrições em seus sistemas no que diz respeito ao tema. Os testes mostram não só que algumas dessas medidas já foram implementadas como também diferem entre idiomas.
Ítalo Rômany
Repórter
Ivermectina e cloroquina em alta no ‘zap’ dos bolsonaristas
Quatro anos depois do início da pandemia, mensagens enganosas afirmando que remédios como ivermectina e cloroquina curam a Covid-19 continuam circulando em grupos bolsonaristas do WhatsApp, apesar de haver diversos estudos científicos negando categoricamente qualquer eficácia desses medicamentos.
Muitos desses conteúdos reforçam a tese de que a vacina é "experimental", prometendo receitas falsas para “reverter” o efeito dos imunizantes. A Lupa mostrou que mensagens falsas como a de que a ivermectina evita os danos provocados pelas vacinas de RNA mensageiro foram compartilhadas em ao menos 170 grupos do WhatsApp entre dezembro e janeiro, alcançando quase 45 mil usuários.
Também chama atenção como a narrativa falsa agora vem acompanhada de um “bônus”: os medicamentos também seriam uma alternativa para para quem quer "limpar" o corpo de supostas toxinas deixadas pelo imunizante, como uma espécie de detox. Tudo falso. O ápice da pandemia ficou para trás, mas a crença na ciência, para muitos, ainda engatinha.
A prova é que agora circula também nas redes a defesa do uso da ivermectina para a prevenção e o tratamento da dengue – o que também é falso. Embora exista uma série de estudos que testa e discute o uso do medicamento como alternativa para tratar algumas doenças, isso não significa que algum deles tenha comprovado qualquer benefício contra a dengue.
…nos deslizes de Haddad no Roda Viva: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, escorregou em algumas declarações durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (22). A checagem feita pela Lupa mostrou que ele exagerou dados sobre a matriz energética brasileira e errou a quantidade de reservas internacionais do país. Além disso, Haddad ignorou a oscilação constante no preço dos combustíveis ao dizer, de forma genérica, que o valor da gasolina caiu no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação a toda a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
…nas fakes sobre eleições via WhatsApp: o aprimoramento de funcionalidades em canais do aplicativo de mensagem da Meta pode facilitar a propagação de desinformação nas eleições de 2024. A avaliação é de especialistas consultados pelo jornal Folha de S.Paulo. Eles alertam que, apesar de trazer facilidades de comunicação, o sistema não sinaliza mensagens comprovadamente falsas. Outro problema é a falta de clareza para prevenir a proliferação de mentiras, em especial de deepfakes, em que a adulteração de imagem ou voz e o uso de inteligência artificial tornam a desinformação mais sofisticada e difícil de ser identificada.
…na desinformação russa no Telegram: Nazismo, LGBTfobia e genocídio estão entre os temas de desinformação russa que têm sido disseminados no Brasil a partir do Telegram. Reportagem da Lupa revela que ao menos 10 canais — com um total de 237,2 mil inscritos — distribuem, entre outros conteúdos, informações falsas que vão desde uma tentativa de justificar a guerra na Ucrânia, que está prestes a completar dois anos, até alimentar o discurso contra a população LGBTQIA+.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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