🔎 Lente #122: Meta lucra com anúncios de golpe e ignora vítimas

Boa sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Meta lucra com anúncios de golpe já denunciado e ignora vítimas;
Bolsonaro erra e se contradiz em retorno às lives;
Falta de regulação aumenta pressão sobre as big techs.
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Meta lucra com anúncios de golpe já denunciado e ignora vítimas
Talvez tenha passado recentemente por você — embora não devesse — um anúncio que divulga smartphones à venda por R$179 na Havan. O motivo do preço incrivelmente baixo? Uma suposta determinação do Procon. A oferta não existe e se trata de um golpe, como muitos outros que se multiplicam na internet. Mas esse caso virou um grande exemplo de como a constatação do crime em uma rede social não é suficiente para impedir que ele circule e faça muitas vítimas.
A Lupa desmentiu a fraude no começo de dezembro de 2023. O golpe ainda foi denunciado à Justiça e publicamente divulgado através de reportagens em veículos de imprensa. Na internet, os relatos de vítimas seguem crescendo. Mas nesta sexta-feira (2), a Lupa revelou que mais de 100 posts similares ainda foram localizados na biblioteca de anúncios da Meta, responsável por plataformas como Instagram e Facebook. O que é preciso para que a plataforma impeça um golpe como esse de seguir lesando pessoas?
A rede de lojas tem adotado ações judiciais contra o Google e a Meta ao menos desde 2022. Inclusive há, segundo a empresa, uma liminar na Justiça desde novembro que ordena a Meta a tomar providências e bloquear conteúdos que usam como pano de fundo a Havan. Fábio Roberto de Souza, coordenador do setor de ouvidoria da empresa, afirmou à reportagem da Lupa que, por causa dessa fraude, diversos Procons pelo país estão abrindo procedimentos contra a Havan, exigindo esclarecimentos. "O triste é que os consumidores estão sendo vítimas e nós também", lamentou Souza.
A Lupa questionou a Meta sobre o golpe que segue no ar entre os seus conteúdos patrocinados, perguntou sobre o processo judicial da Havan e pediu informações sobre o número de posts retirados da plataforma com links de golpes envolvendo a varejista. Todos os questionamentos foram ignorados. Em nota, a empresa enviou apenas uma resposta padrão informando que atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas e recomendou que os usuários denunciem quaisquer conteúdos que acreditem violar seus termos de uso.
Apesar do retorno protocolar da Meta, o conteúdo em questão que engana e explora terceiros e já foi denunciado justamente por violar os termos de uso da empresa, continua circulando, ou seja, permitido pela plataforma. E a empresa ainda está lucrando com isso.
Luciana Corrêa
Editora

Bolsonaro erra e se contradiz em retorno às lives
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a fazer uma transmissão ao vivo no último domingo (28) — desta vez, acompanhado dos filhos Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Ao longo da transmissão, que durou mais de duas horas e meia, ele defendeu pautas que marcaram o seu governo, como o voto impresso e o acesso às armas de fogo.
A Lupa checou as declarações do ex-presidente durante a live e encontrou afirmações falsas sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao sugerir que a campanha do TSE para incentivar jovens entre 16 e 17 anos a votar favoreceu o PT em 2022, já que, segundo ele, “80% desses jovens votam na esquerda”, Bolsonaro afirmou que o mesmo não foi feito para incentivar pessoas mais velhas, com mais de 70 anos e que também não têm a obrigação de votar.
Mas ele errou duas vezes. O número de jovens que emitiram o título foi bem menor do que o dito por ele (2,1 milhões e não “em torno de 4,5 milhões”). E ao contrário do que afirmou o ex-presidente, o TSE realizou uma campanha que incentivou o voto de pessoas com mais de 70 anos nas eleições daquele ano.
A checagem ainda apontou que faltou contexto em falas de Bolsonaro sobre DPVAT, inquérito das fake news e violência em São Paulo. O ex-presidente ainda se contradisse em uma declaração sobre as eleições na Venezuela envolvendo votação eletrônica e impressa.

…na pressão sobre as big techs: A Polícia Federal concluiu que houve abuso de poder econômico das empresas Google e Telegram na tentativa de barrar o avanço do PL 2.630, o chamado PL das Fake News, no ano passado. De acordo com a PF, as big techs se valeram de "estratégias impactantes e questionáveis” em campanhas lançadas na internet contra o projeto de lei que, entre outras coisas, responsabiliza plataformas digitais. Na época, a Lupa mostrou a ofensiva das empresas contra o projeto. O parecer da PF foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que investiga as big techs. O relator é o ministro Alexandre de Moraes que, na quinta-feira (1), na abertura dos trabalhos da Justiça Eleitoral, voltou a se manifestar favorável à regulamentação das redes sociais e punições para as plataformas.
…nas falsas promessas de cura nas redes: Vídeos que prometem curar ansiedade e depressão através de chás e misturas caseiras se multiplicam nas redes sociais. Procurando nas plataformas TikTok e Kwai por “cura ansiedade” e “cura depressão”, a Lupa localizou centenas com desinformação sobre saúde mental. Cinco das postagens reúnem mais de 150 mil visualizações e mostram receitas que prometem ser a solução para esses transtornos. Uma das gravações, por exemplo, afirma que uma mistura feita a partir da banana verde cura depressão, ansiedade e insônia, o que não tem comprovação. “Não se pode falar em cura por um motivo muito simples: não se pode curar algo que você não sabe a causa”, explica Marcelo Allevato, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
…no descaso do X com fakes sobre vacina: Análise feita pela Lupa, com base em dados públicos extraídos do programa "Notas da Comunidade" , do X, mostra que a iniciativa não tem conseguido fazer frente à difusão de conteúdos anti-vacinas na rede. Entre 3 de março e 1º de dezembro de 2023, foram enviadas ao “Notas da Comunidade” 250 sugestões de correção ou adição de contexto sobre “vacina” em português. Deste total, 10 sugestões foram publicadas e anexadas a postagens que continham desinformação sobre o tema. Outras 10 foram rejeitadas, sem uma explicação clara. As 230 restantes — 92% das proposições — ainda estão pendentes no sistema. Enquanto isso, posts com conteúdo enganoso ou que precisam de contexto e teorias da conspiração seguem circulando pela plataforma sem qualquer alerta e impactando negativamente os programas de vacinação.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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