🔎 Lente #123: Desinformação como estratégia golpista
Boa sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
Aliados de Bolsonaro lideravam núcleo de desinformação que visava golpe;
Fakes sobre dengue disparam junto com a epidemia;
Raio-X da Câmara mostra que 54% dos projetos aprovados viraram lei em 2023.
Curte a Lente? Envie este link e convide seus amigos para assinarem a newsletter
De núcleo de desinformação à tentativa de golpe
O uso estratégico de desinformação por aliados próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para alimentar mentiras sobre o sistema eleitoral com o objetivo de dar um golpe de Estado é um dos pontos-chave da investigação da Polícia Federal (PF) que veio à tona nesta quinta-feira (8) — e de fato foi um estopim para os atos golpistas de 8 de janeiro, como a Lupa revelou recentemente.
A PF revelou que um dos propósitos da disseminação de fakes era estimular bolsonaristas a permanecerem em frente aos quartéis das Forças Armadas e "criar o ambiente propício para o golpe de Estado". Segundo as investigações, a organização criminosa ainda atuava nos moldes do intitulado “gabinete do ódio”, que se concentrava em espalhar conteúdos falsos e discurso de ódio contra opositores.
O envolvimento do ajudante de ordens Mauro Cid e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres levam a sanha golpista definitivamente para dentro do Palácio do Planalto. Tanto que a própria PF indica a participação direta de Bolsonaro nesse esquema e menciona, por exemplo, a live promovida por ele em julho de 2021 para denunciar supostas fraudes cometidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — sem comprovação alguma.
E tem mais: o relatório da PF ainda aponta que, em 5 de julho de 2022, o ex-presidente convocou uma reunião com a alta cúpula do governo para “coagir os ministros e todos os presentes para que aderissem à ilícita desinformação” (página 61). Bolsonaro também exigiu, segundo a investigação, que os ministros “deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público” (página 62).
Essa dinâmica orquestrada de ataques às urnas, às instituições e à Justiça, em especial ao Supremo Tribunal Federal (STF), servia para abastecer diferentes canais e influenciadores que apoiavam o ex-presidente, aponta a PF. E foi intensificada após o segundo turno das eleições de 2022 para alimentar a tese do golpe. O resultado todos viram semanas depois.
É crucial pontuar que os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral, às urnas e ao STF começaram muito tempo antes. A Lupa mostrou que isso já era comum desde 2018, e que o político fez ao menos 50 acusações nesse sentido. Acuado, o ex-presidente alega ser alvo de uma “perseguição implacável”, o que soa muito mais como um vitimismo fake diante de provas cada vez mais contundentes de que houve uma tentativa coordenada e permeada por desinformação para rasgar a Constituição.
Leandro Becker
Editor-chefe
Fakes sobre dengue disparam junto com a epidemia
O novo surto de dengue no Brasil, que em janeiro de 2024 registrou um número três vezes maior de casos em relação ao mesmo período de 2023, motivou uma onda de desinformação sobre a doença similar às ondas de “fake news” observadas durante a pandemia da Covid-19. O assunto é tema de reportagem da Lupa publicada nesta sexta-feira (9).
Embora não seja uma doença nova, teorias conspiratórias sobre a origem da dengue grave, falsos tratamentos que prometem a cura em até três dias e meios de prevenção com fármacos sem comprovação científica se espalharam pelas redes sociais — a Lupa já desmentiu algumas dessas fakes nos últimos dias.
Chama a atenção que certos conteúdos têm feito associações mentirosas entre a forma mais grave da dengue e as vacinas da Covid-19 — o que não é verdade. Além disso, promessas de cura em até três dias com chás e tratamentos milagrosos têm sido compartilhadas no WhatsApp – entre 1º de janeiro e 7 de fevereiro, ao menos 7.786 mensagens sobre a dengue circularam em grupos públicos monitorados pela Palver.
É importante ressaltar que não existe um tratamento específico para a dengue e as formas graves da doença. Médicos e especialistas em virologia e infectologia ouvidos pela Lupa explicam que, como não existe uma droga antiviral, o protocolo terapêutico em pessoas infectadas é o manejo clínico, hidratação e tratamento dos sintomas — como febre e dores abdominais, entre outros — com antitérmicos e analgésicos.
…nas leis que os deputados criam: Série de reportagens da Lupa mostrou que 54% dos projetos aprovados pela Câmara dos Deputados em 2023 viraram lei ou norma no Brasil. O levantamento analisou as proposições aprovadas em plenário e outras 2.465 validadas em comissões ao longo do ano passado. A análise ainda constatou que as audiências públicas consomem 74% do tempo dedicado pelos parlamentares nas comissões. Resta saber se essa produtividade se manterá neste ano, especialmente no segundo semestre, diante das eleições municipais — afinal, os deputados tendem a concentrar as atenções muito mais em suas bases eleitorais do que nas votações em Brasília quando há campanha política no horizonte.
…em mais um golpe disfarçado de oportunidade: uma nova narrativa tentando enganar pessoas Brasil afora tem circulado pelas redes sociais. Desta vez, o golpe é apresentado em um vídeo noticioso sobre o Valores a Receber, serviço do Banco Central que permite a consulta de saldos bancários a serem resgatados. O post inclui um link que redireciona para um site que simula um portal do governo federal. Para verificar se existe saldo, é solicitado que se informe o CPF e outros dados pessoais. Não caia nessa, pois é golpe. Acesse a verificação que a Lupa fez e aproveite para compartilhar o alerta com a família e os amigos.
…no alerta da ONU sobre fakes e IA: o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que a propagação de desinformação usando Inteligência Artificial (IA) já está criando riscos que exigem uma ação rápida para garantir proteção, ética e transparência. Ele ainda cobrou as plataformas a tomarem medidas de contenção tanto contra as fakes e, também, o discurso de ódio. “Estamos pressionando as empresas tecnológicas a assumirem a sua responsabilidade de parar de amplificar e capitalizar a propagação de desinformação tóxica e outros conteúdos nocivos”, declarou.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
Não sabe o que a Lupa faz com seus dados?
Conheça nossa Política de Privacidade aqui
Enviamos este email porque você assinou nossa newsletter.
Se quiser parar de recebê-la, clique aqui.