🔎 Lente #125: O problemão dos áudios manipulados nas eleições 2024
Boa sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
O problemão dos áudios manipulados nas eleições 2024;
Dois anos de guerra e fakes entre Rússia e Ucrânia;
As fakes antes do ato de Bolsonaro em SP.
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O problemão dos áudios manipulados nas eleições 2024
Se campanhas políticas em ano eleitoral sempre foram motivo de tensão, talvez a que vamos vivenciar neste ano seja especialmente preocupante. E essa preocupação, para muitos, pode ser traduzida em duas letras: IA. O uso da inteligência artificial para desinformar sobre as eleições é tema constante nas falas do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que já defendeu cassar o candidato que usar IA para produzir fakes.
Recentemente, 20 empresas líderes em tecnologia, como Google, Amazon, OpenAI e Meta, firmaram um acordo para trabalharem juntas na detecção e combate a fake news geradas por inteligência artificial nas eleições de 2024. No dia 16 de fevereiro, durante a Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, elas divulgaram um comunicado que prometeu um "conjunto de compromissos para implantar tecnologia que combata conteúdo prejudicial gerado por IA destinado a enganar os eleitores".
Um dos objetivos é evitar a falsificação e manipulação de áudio, vídeo e imagens gerados por inteligência artificial para atingir candidatos e pessoas envolvidas no processo eleitoral.
Aqui no Brasil, a Lupa ouviu especialistas que se preocupam especialmente com um desses tipos de conteúdo: os áudios. A disseminação de gravações manipuladas com uso de IA já é realidade por aqui. Casos recentes aconteceram em cidades como Manaus (AM) e Maringá (PR) e são um alerta para as eleições municipais. Fatores como restrição no número de peritos nas cidades menores e a ausência de moderação de plataformas tendem a dificultar o cenário.
"Você tem às vezes ali um áudio que vai ser feito de um vereador de bairro que vão imputar para ele uma coisa que ele não disse. E aí você vai ter uma dificuldade de controlar [a disseminação]. Então, o efeito silencioso dessas práticas no âmbito dos currais eleitorais vai ser devastador", alerta o professor Filipe Medon, advogado especialista em Direito Digital.
O perito em computação forense Diogo Lopes, ainda pontua o avanço das ferramentas que podem entregar resultados falsos cada vez mais impressionantes. "Você pega esse áudio e você passa ele por uma inteligência artificial, que vai aprender os meus trejeitos de linguagem coloquial, linguajar do dia a dia, basicamente vai aprender a variação linguística. Isso é quase uma identidade da pessoa, meu padrão de fala. Por incrível que pareça, ela aprende até o ambiente em que a pessoa está falando", explica.
Não faltam motivos para que ações práticas sejam adotadas pelas empresas que produzem tecnologia e por quem tem a obrigação de garantir a integridade do sistema eleitoral. Até o dia 5 de março, devemos ter novidades com o TSE aprovando em plenário as resoluções para as eleições de outubro. Com certeza as duas letras que tanto preocupam os especialistas estarão lá.
Luciana Corrêa
Editora
Dois anos de guerra e fakes entre Rússia e Ucrânia
A guerra entre Rússia e Ucrânia completa dois anos neste sábado (24) sem perspectiva de fim e em meio a ondas de fakes. Enquanto em terra o rastro de destruição e violência só cresce, no ambiente virtual a estratégia consiste não só em criar narrativas falsas, mas também distorcer a realidade e atacar a reputação dos adversários.
Um dos principais alvos de informações falsas tem sido o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky – que, inclusive, foi alvo de uma campanha orquestrada pelo Kremlin, como revelou o jornal The Washington Post. Documentos obtidos pela reportagem mostraram que as ações tinham como objetivo dividir e desestabilizar a sociedade ucraniana, em esforços que o governo russo classificou como “operações psicológicas de informação”.
Embora distante dos conflitos armados, o Brasil se tornou um importador de desinformação russa, sobretudo via canais do Telegram em língua portuguesa. Em janeiro, a Lupa publicou outra reportagem mostrando que dez canais do Telegram no Brasil — com 237,2 mil inscritos — distribuem conteúdos fraudulentos que buscam disseminar a política promovida pelo Kremlin, com destaque para as insistentes publicações que buscam justificar a guerra com o intuito de desnazificar a Ucrânia.
Neste sábado (24), nova reportagem da Lupa, escrita pelo jornalista Maiquel Rosauro, mostrará como os ataques a Zelenski têm se acentuado neste segundo ano de batalhas, com mentiras que vão desde falsificação de documentos até vídeos com depoimentos fraudulentos e conteúdo jornalístico deturpado.
O teor desses conteúdos é muito mais complexo do que se constatou no primeiro ano de conflito, quando a Lupa desmentiu vídeos de cocaína sobre a mesa de Zelensky e do presidente cantando com a primeira-dama, Olena Zelenska, além de ter classificado como falsos posts que mostravam fotos de Zelensky no campo de batalha e na linha de frente.
A maior sofistificação e complexidade das recentes fakes sobre o conflito, associada a uma estratégia internacional de proliferação de conteúdos falsos que passa incólume pelas redes sociais e aplicativos de mensagem, traz uma constatação preocupante: dois anos depois, a guerra da desinformação também está longe do fim.
…nas mentiras às vésperas de ato pró-Bolsonaro: A manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para domingo (25), em São Paulo, tem gerado expectativas e, também, desinformação. Uma delas foi a suposta notícia de que a Infraero e a Anac confirmaram que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria um pouso agendado no Aeroporto Internacional de Guarulhos para o dia 25, o que é mentira. Outra fake foi a mobilização de torcidas organizadas de São Paulo que estariam planejando um ato pela democracia no mesmo dia. Além disso, conteúdos falsos sobre fraude nas eleições de 2022 — tema recorrente entre muitos apoiadores do ex-presidente — também circularam com força, como a de que o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, teria dito que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou as eleições de 2022 com 39% dos votos. Mais uma vez falso.
…na desinformação crescente sobre a dengue: Nesta sexta-feira (23), o Brasil passou de 740 mil casos prováveis de dengue e 151 mortes confirmadas pela doença. Até quarta-feira (21), pelo menos nove estados haviam começado a vacinação em crianças. E enquanto tudo isso acontece, não param de surgir na internet conteúdos que desinformam sobre a prevenção e o tratamento da dengue. Para facilitar o acesso às informações verificadas, a Lupa reuniu tudo que já foi checado até agora. Fica a dica para compartilhar o link nos grupos da família e ajudar a combater fakes sobre falsos tratamentos que prometem a cura em até três dias, meios de prevenção com fármacos sem comprovação científica e teorias conspiratórias sobre a vacina.
…na chegada oficial de Dino ao STF: Dois meses após ter sua indicação aprovada pelo Senado, Flávio Dino tomou posse oficialmente nesta semana como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A participação dele no terceiro governo de Lula (PT) na pasta da Justiça, principalmente na gestão da crise dos atos golpistas, gerou uma onda de fakes — muitas desmentidas pela Lupa — e segue alimentando especulações sobre como será a sua atuação na Corte, o que só será possível saber quando ele, enfim, começar a tomar decisões. Mas fato é que a chegada de Dino pouco muda o perfil do STF, como mostrou reportagem recente da Lupa. O levantamento, que mapeou os 134 anos de existência do órgão, constatou que o “novo” ministro repete padrões de gênero e idade históricos do Supremo.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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