🔎 Lente #127: Ainda precisamos falar sobre ‘lugar de mulher’?
Boa sexta-feira, 8 de março de 2024. Veja os destaques desta edição da newsletter sobre desinformação da Lupa:
O que inteligência artificial tem a ver com "lugar de mulher";
Os Lupeiros, os novos melhores amigos dos seus filhos ou sobrinhos;
Dengue e “déjà-vu desinformacional”.
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Ainda precisamos falar sobre ‘lugar de mulher’?
As imagens geradas por inteligência artificial (IA) tendem a reforçar estereótipos de gênero. Testes conduzidos pela Lupa revelam que dois dos principais serviços de IA generativa somados reforçam esses estereótipos em 52,6% dos casos – o Copilot, da Microsoft, chegou a 58%, pior do que o MidJourney, de 52,6%.
No experimento, o prompt ou o comando para a ferramenta pediu imagens retratando tarefas domésticas ou de cuidado, vistas como trabalho de mulher (exemplo: “desenhe uma pessoa lavando roupas”); nestes nove pedidos, o Copilot reforçou o estereótipo em seis casos e o MidJourney, quatro. Mas o teste também contemplou tarefas consideradas trabalho de homem (“desenhe uma pessoa liderando uma equipe de trabalho”) e, em dez pedidos, o resultado foi estereotipado em 50% em ambas as IAs.
Esse foi o presentão de Dia das Mulheres com o qual as repórteres Gabriela Soares e Evelyn Fagundes se depararam ao testar as ferramentas. Tudo bem, a data não é para presente mesmo – quero acreditar que foi-se o tempo em que se davam flores e chocolates neste dia. A data serve para dar visibilidade às desigualdades sociais entre gêneros e, com isso, provocar a reflexão e a sensibilização. E quem sabe, assim, chegarmos a uma era em que ela não seja mais necessária e possa cair no esquecimento.
Muitos avanços foram feitos, incontestáveis – o direito ao voto, a frequentar escolas, o divórcio, a Lei Maria da Penha… Mas as imagens geradas por IA esfregam na nossa cara que ainda prevalece a ideia de que há lugares aos quais as mulheres estão confinadas e há lugares reservados apenas aos homens.
Isso acontece por múltiplos fatores. Sim, um deles é que a IA espelha a sociedade. Outro é que certamente não há mulheres suficientes trabalhando nas equipes que desenvolvem as inteligências artificiais. É lógico que nem todas as mulheres pensam da mesma forma e, óbvio, há discordâncias, mas a tecnologia é um ambiente marcado pelo sexismo e, se houvesse representatividade de gênero, o dano seria menor certamente.
O reforço de estereótipos é um tipo de narrativa desinformativa por criar a ideia de que algo não pode ser feito por determinado gênero (“homem não chora”, “cuidar da casa é tarefa de mulher” etc). O enfrentamento da desinformação de gênero também necessita de mulheres (claro que necessita de outros gêneros também, mas não vou alongar tanto a discussão) para que o tema esteja na pauta todos os dias do ano, e não só no 8 de março.
Precisamos de repórteres como a Gabriela e a Evelyn, mas de muitas mais, com suas particularidades, suas diferentes visões de mundo e em diferentes lugares: Catiane, Silviane, Carolina, Lulna, Nathália, Luciana, Mariana, Nycolle, Flávia, Mikhaela, Nathallia, Evelin, Lucilene, Carol, Natália, Camila, outra Carolina, Joyce, Cris e todas as nossas parceiras.
Tantos avanços sendo feitos, mas parece que é um passo para a frente, dois para trás. De um lado, a sensação de que vivemos em um filme futurista; do outro, uma corrente amarrada no passado que não nos permite andar na mesma velocidade rumo à equidade de gênero. E, em pleno 2024, precisamos ainda debater ao mesmo tempo inteligência artificial e “lugar de mulher”.
Marcela Duarte
Gerente de Produto
Lupa lança série de material didático: os Lupeiros
A Lupa lança, na próxima segunda-feira, dia 11, seu novo projeto de educação: os Lupeiros. Quem acompanha as redes sociais já conferiu os personagens que vão levar crianças e jovens a aprenderem como combater a desinformação. A iniciativa traz histórias com personagens heróis e vilões em contextos próximos ao das crianças, como a escola, o parquinho e o pomar. O objetivo é incentivar a educação midiática desde a base escolar, colaborando para a formação de senso crítico de crianças e jovens, a partir do ensino fundamental até o médio.
A série terá três eixos: um para o quarto e o quinto ano do ensino fundamental, quando os personagens ainda são crianças; outro para o sexto e o sétimo ano do ensino fundamental, quando os personagens já estão crescidos e viajam o mundo; e, por último, para o ensino médio, quando os jovens são apresentados a Luca, o avatar da Lupa.
Em todos os eixos, o material conta com diferentes mídias: podcasts, história em quadrinhos, cards para colorir e vídeos e que podem ser aplicados por professores e pela família. Fica o convite para conhecer nossos heróis e combater a desinformação!
…na desinformação reciclada: o aumento da circulação de fakes sobre dengue tem provocado um “déjà-vu desinformacional” no Brasil. É que as mentiras sobre a doença causada pelo mosquito Aedes aegypti repetem a mesma narrativa mentirosa vivenciada na pandemia de Covid-19. A conclusão é de levantamento feito pelo projeto Mídia e Democracia, da Escola de Comunicação da FGV. Dentre as publicações falsas, estão receitas caseiras sem eficácia para combater a doença, ataque às vacinas e teorias conspiratórias, como a de que a dengue seria um "experimento".
…na IA nas eleições: apoiadores de Donald Trump têm usado a inteligência artificial (IA) para criar imagens falsas do ex-presidente junto com eleitores negros. Reportagem da BBC revelou que o motivo é encorajar os afro-americanos a votar nos republicanos nas eleições de novembro. As fakes a partir de IA já são tendência da pré-campanha nos Estados Unidos, inclusive envolvendo o atual presidente, Joe Biden. Desde janeiro deste ano, Trump e Biden já foram alvos de pelo menos sete conteúdos mentirosos feitos por meio da tecnologia, enquanto a Suprema Corte começou a julgar duas ações que podem mudar a forma como as redes sociais moderam conteúdo no país.
… na Argentina: no primeiro discurso no Congresso desde a sua posse, o presidente Javier Milei falou sobre temas como ajuste fiscal e inflação e derrapou algumas vezes a ponto de propagar desinformação, como apontou checagem do Chequeado. Os erros ocorreram principalmente em falas sobre economia, que tem dominado o noticiário diante da crise enfrentada pelo país e pela pouca efetividade das medidas implementadas pelo presidente empossado em dezembro. Milei ainda reforçou no discurso que governará com ou sem o apoio do parlamento.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana
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