🔎 Lente #3: O que aprendemos no episódio Leda Nagle?
Boa sexta-feira, 23 de abril. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai ler sobre:
Leda Nagle não foi a primeira, mas poderia ser a última a cair em perfis falsos, né?
O fim da Lei de Segurança Nacional pode impactar no combate à desinformação
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As lições do caso Leda Nagle e Paulo MaiurinoÂ
O Clube da NotÃcia, espaço virtual fechado em que a apresentadora Leda Nagle comenta o noticiário do dia, ficou famoso nesta semana por ter disseminado notÃcia falsa.
No último sábado (17), diante de um grupo ainda indeterminado de pessoas, Nagle leu um tuÃte falsamente atribuÃdo ao delegado da PolÃcia Federal Paulo Maiurino, alertando sobre um suposto plano para matar o presidente Jair Bolsonaro. A história saiu do cÃrculo privado e virou tendência nas redes.
Para fazer frente ao barulho virtual, na segunda-feira (18), Nagle veio a público para contar o que havia ocorrido. Disse que o vÃdeo de dois minutos em que ela aparece lendo sobre o suposto plano envolvendo o ex-presidente Lula cresceu nas redes sociais antes mesmo que ela "tivesse voltado com a checagem completa da informação". Na mesma nota, publicada em suas redes sociais, a eterna apresentadora do Sem Censura lamentou o ocorrido.
Nós também.
Não existe jornalismo sem checagem - mesmo se feito entre quatro paredes virtuais e para um grupo de amigos. Não pode. Não dá.
Mas a ideia aqui é ressaltar as lições aprendidas. Essas sim têm o potencial de evitar novos constrangimentos como este.
Então atenção aos grupos privados. Eles continuam sendo bolhas que reúnem indivÃduos e pensamentos semelhantes. Não importa a plataforma. É preciso saber que a desinformação tende a prosperar nesses lugares pelo simples fato de que neles são poucas (ou nulas) as vozes e as visões dissonantes. Identifique seus grupos-bolha e mantenha um saudável pé atrás quando receber conteúdo deles.
É super difÃcil lidar com o viés de confirmação, aquele impulso que nos faz buscar evidências para comprovar aquilo que já pensávamos, acreditávamos ou desejávamos. No falso tuÃte que leu sobre o plano para matar Bolsonaro, Nagle chegou a dizer a seguinte frase: "Quem quiser pensar que é falsa a informação, fique à vontade". Mas nem ela fez isso.
Sejamos humildes para aceitar que qualquer um é suscetÃvel a esse erro. Em fevereiro de 2019, o Jornal Nacional atribuiu ao general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, uma ameaça à Venezuela. O texto citado pelo apresentador William Bonner, no entanto, vinha de uma conta que não era de Heleno. Teve correção e tudo.
E, para concluir, é bom conhecer o tamanho desse problema. Já foram noticiados perfis falsos do ministro Paulo Guedes, da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de diversas celebridades. De acordo com o Facebook, 5% de todos os usuários ativos na plataforma no quarto trimestre de 2020 eram contas falsas. São 135 milhões de fakes entre as 2,7 bilhões de contas ativas no Facebook naquele perÃodo. No Twitter, não é nada diferente.
A luta é grande. Estarmos atentos é o mÃnimo que podemos fazer.
Um grande abraço,
Natália Leal
Diretora de Conteúdo
Atenção à 'Lei do Estado Democrático de Direito'Â
Que a Lei de Segurança Nacional é um "entulho autoritário" não há dúvidas. Mas o açodamento em torno de sua substituição traz preocupação. Na terça-feira (20), a Câmara dos Deputados aprovou o requerimento de urgência e levará a chamada "Lei do Estado Democrático de Direito", projeto apresentado pela deputada Margarete Coelho (PP-PI), ao plenário.
E o que isso tem a ver com desinformação? Tudo. O texto, que já não passará pelas tradicionais comissões da Casa, é, nas palavras do presidente da Câmara, Arthur Lira, "um recado para quem faz notÃcia falsa".
Para o pavor de especialistas em direito digital, a proposta de Margarete deve sugerir prisão de até cinco anos e multa para quem usar robôs para disparos em massa, difundindo notÃcias falsas capazes de afetar o processo eleitoral no paÃs.Â
A questão é: o que é uma notÃcia falsa? Que critério será adotado? Ninguém sabe. Ninguém viu.
Atenção redobrada aqui. Não há legislação possÃvel sem uma definição adequada.
… em Cingapura: por determinação do Ministério da Saúde cingalês, o Facebook deverá marcar como sendo falsas postagens que sugerem que as vacinas contra Covid-19 provocam derrame e morte. O alvo da ação governamental, que faz uso da lei anti-fake news vigente em Cingapura, é (claro) o partido de oposição. A "checagem" feita pelo ministério está disponÃvel aqui, em inglês.Â
Â…em Cuba, Nicarágua e Venezuela: jornalistas desses três paÃses participaram de um evento promovido pelo ICFJ para contar como cobrem a pandemia em regimes autoritários. A falta de dados é uma constante. Em Cuba, os jornalistas dependem de informações vindas do exterior. Na Nicarágua, podem pegar até oito anos de cadeia se divulgarem dados vazados. Na Venezuela, não há um plano de combate à Covid-19 por escrito. Resumo: a imprensa dos três paÃses está quase à s cegas.
Â…no YouTube: na terça-feira (20), a plataforma removeu, pela primeira vez, um vÃdeo que o presidente Jair Bolsonaro publicou em seu canal. Feita em 14 de janeiro, a gravação mostrava o presidente defendendo o uso da hidroxicloroquina no combate à Covid-19. Para o YouTube, no entanto, o vÃdeo agora viola as novas regras da comunidade, anunciadas em 16 de abril. O mesmo conteúdo, porém, segue disponÃvel no Facebook. Em março, mostramos que Bolsonaro infringiu as polÃticas do Facebook para conteúdo sobre Covid-19 pelo menos 29 vezes e que não foi punido nenhuma vez.
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