🔎 Lente #4: De que vale o nº de processos dos membros da CPI da Pandemia?
Boa sexta-feira, 30 de abril de 2021. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai ler sobre:
CPI da Pandemia tem relação direta com desinformação. Fique atento
New York Post fez manchete com notícia falsa e trocadilho infame
Biden não viajou 17 mil milhas ao lado do chinês Xi Jinping
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Números soltos viram ameaça à credibilidade da CPI da Pandemia
Se você usa WhatsApp ou Telegram é possível que já tenha recebido a imagem ao lado. Essa lista mostra os senadores que compõem a CPI da Pandemia e menciona o número de processos a que eles supostamente respondem.
Verdadeiros ou não (vale salientar que estamos checando as informações), os números tentam abalar a credibilidade da comissão que, neste momento, busca avaliar as ações do governo federal no combate à pandemia de Covid-19.
A tática de expor a quantidade de pendências judiciais da classe política brasileira não é nova. A Lupa já fez isso algumas vezes. Mas é indispensável inserir essas informações num contexto detalhado. Um número, por si só, não conta a história toda. Mesmo que verdadeiros.
"Processos" é um conceito jurídico muito amplo. Pode englobar causas mínimas, de cunho pessoal, até problemas judiciais que realmente impactam toda a sociedade. Por isso, mais do que saber a quantidade de processos, é necessário saber de que tratam e se têm alguma incompatibilidade com os objetivos da CPI da Pandemia.
Também não custa lembrar que nosso legislativo não é santo. Centenas de deputados e senadores têm pendências judiciais graves - mas todos, absolutamente todos, foram eleitos por nós. Portanto, o convite de hoje é para que você tenha cuidado extra com números absolutos que navegam pelas redes e aplicativos de celular sem nenhum contexto ou fonte de validação. É alta a chance de você estar sendo manipulado(a).
Ainda falando de CPI da Pandemia, queria compartilhar com vocês que, até quarta-feira (28), ao menos três requerimentos da comissão pediam acesso a dados relativos à desinformação. Investigações abertas no Supremo Tribunal Federal e no próprio Congresso. Na justificativa de um desses requerimentos, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) elencou sete notícias falsas que, segundo ele, impactaram os brasileiros na pandemia. Entre elas, que as vacinas contra a Covid-19 alteram o DNA ou inserem um microchip no corpo e a famosíssima mentira sobre termômetros infravermelhos.
Especialistas e médicos serão chamados a falar. Os senadores também pretendem investigar "tratamento precoce", cloroquina e uso de recursos enviados pelo governo federal a estados e municípios para ações contra a Covid-19. O TrateCov, aplicação que recomendava cloroquina como tratamento para a doença e que o Ministério da Saúde disse ter sido colocado no ar em ação hacker nunca esclarecida, também vai passar pelo crivo. Estamos aqui para acompanhar tudo isso.
A CPI da Pandemia terá ligação direta e deve mergulhar de cabeça no tema desinformação. E será assim não só porque quer investigar o que foi ou não feito na pandemia , mas porque mostra interesse em identificar redes de compartilhamento de conteúdo falso.
A comissão também sabe que a disseminação de boatos é arma poderosa de destruição de reputações e de crítica a dispositivos constitucionais. Mas são eles que ainda garantem a qualidade da democracia brasileira.
Esteja atento.
Um grande abraço,
Natália Leal
Diretora de conteúdo
Nos EUA, notícia falsa na manchete
"Kam on in", manchetou o jornal The New York Post no último sábado (25), provando que, infelizmente, notícias falsas também viram manchete nos Estados Unidos.
O trocadilho, que, em inglês, mistura o nome da vice-presidente Kamala Harris com a expressão "come on in", comumente usada para receber convidados em casa, é o mais novo símbolo da desinformação.
Com "reportagem" da jornalista Laura Italiano, o Post "informou" que, às custas dos contribuintes, a Casa Branca havia distribuído livros infantis escritos por Kamala a crianças detidas por imigração ilegal.
Na terça-feira (27), os checadores do The Washington Post derrubaram a "apuração", feita com base em uma única foto. O livro era a única edição presente no local que acolhe ilegais e tinha vindo de uma campanha beneficente promovida pela cidade de Long Beach.
Na quarta-feira (28), Italiano foi ao Twitter e anunciou sua demissão. "A história sobre Kamala Harris, uma história incorreta que fui ordenada a escrever e contra a qual não tive forças suficientes, foi meu limite".
…nas checagens sobre Biden: ao falar pela primeira vez diante do Congresso dos Estados Unidos, o presidente Joe Biden, deu aquela exagerada - e foi flagrado pelo The Washington Post Fact Checker. O democrata disse que "percorreu mais de 17 mil milhas" ao lado do presidente chinês Xi Jinping. Os checadores dizem que a conta não fecha. Biden também puxou para cima o número de empregos que poderão ser criados com seu plano de infra-estrutura e a porcentagem de imigrantes que vivem no país com vistos expirados.
…no TSE: e em seu plano de combater as notícias falsas de 2022. Em sua nova coluna no UOL, a jornalista e fundadora da Lupa, Cristina Tardáguila, conta que o tribunal pretende aniquilar a desinformação eleitoral adotando o chamado "plano 10-20-60". Com esse método, a Corte espera liquidar notícias falsas em até 90 minutos.
…na Justiça: depois de usar imagem enganosa para dizer que a Amazônia não estava em chamas e de defender "tratamento precoce" como método para reduzir o número de mortes e internações por Covid-19, a Revista Oeste conseguiu do Tribunal de Justiça de São Paulo uma decisão liminar que impede checadores de mencioná-la em suas verificações. Diante da censura imposta legalmente, o site Aos Fatos teve que editar duas de suas checagens.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana