🔎 Lente #5: Mais 6 meses para saber sobre Trump (e outros políticos) no Facebook
Boa sexta-feira, 7 de maio de 2021. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai ler sobre:
Conselho de Supervisão do Facebook cobra mais transparência no caso Trump
Já ouviu falar de QAnon? Documentário da HBO bomba ao mergulhar no mundo dos conspiracionistas
Paulo Coelho é atacado no Twitter após relacionar morte de Paulo Gustavo com desinformação
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Por regras claras nas redes de EUA e Brasil
O Conselho de Supervisão do Facebook decidiu na última quarta-feira (5) manter o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump fora dos ecossistemas do Facebook e do Instagram. O grupo também estabeleceu que o time de Mark Zuckerberg tem seis meses para repensar e anunciar sua política para lidar com políticos que abusam de suas plataformas, difundindo desinformação e/ou incitando violência.
Quem luta contra notícias falsas e aguardava o veredicto do Conselho com certa ansiedade - até para saber se ele seria aplicado no Brasil também - vai ter que esperar mais. Já se sabe que o Conselho foi crítico da decisão do Facebook de suspender por tempo indeterminado a conta de Trump. O grupo destacou que isso não está previsto em nenhum lugar dentro do regulamento da própria empresa e pediu que a plataforma estabeleça de forma transparente quando e como a conta de Trump poderá ser restaurada.
Isso quer dizer que a bola voltou para Zuckerberg. E o mundo espera que sua empresa torne mais clara a lista de ações que pretende tomar a respeito de usuários que se engajam em práticas proibidas pelas diretrizes da própria comunidade. É claro que as plataformas de redes sociais têm o direito de estabelecer suas regras de uso. São empresas privadas. Mas as regras não podem entrar em choque com dispositivos legais dos países onde essas empresas operam. Vem um bom debate por aí.
Mas o Conselho já disse que quer que o Facebook seja mais transparente. Que deixe mais claras as normas de conduta que aceita e o que fará quando precisar punir quem as desobedece. O mesmo vale para o Instagram.
E como tudo isso aterrissa no Brasil? Gerando mais expectativa - é claro. Vivemos tempos em que governantes de todas as cores e linhagens usam a desinformação e as plataformas como estratégia para se manter no poder. São os tecnocratas, explicados no livro "Engenheiros do Caos". Os políticos nesse grupo procuram evitar qualquer mediação ou filtro da imprensa e usam as redes sociais para mandar recados - nem sempre baseados em dados verdadeiros - diretamente para seus eleitores. Aí, quando confrontados com fatos, alegam exercício da liberdade de expressão.
Qualquer que seja a decisão do Facebook em seis meses, é importante que ela seja válida para todo o mundo. Aqui no Brasil, também queremos saber se os políticos estão sujeitos a suspensões como a que ocorreu nos EUA em janeiro e à classificação de posts como sendo falsos. Com mais de 400 mil mortes pela Covid-19, eu pergunto: o Facebook será permissível e classificará como liberdade de expressão conteúdos que adjetivam as máscaras como "frescura" ou que fazem apologia a "tratamento precoce", quando vindas do presidente?
Serão seis meses de expectativa.
Um grande abraço,
Gilberto Scofield Jr.
Diretor de Estratégia e Negócios
A falta de limite dos conspiracionistas
Absolutamente assustadora a série de seis episódios "Q: no olho da tempestade", sobre a rede de conspiradores conhecida como QAnon. No episódio da invasão do Capitólio - a sede do Congresso dos Estados Unidos, em Washington D.C. -, o infame "Q" que dá nome ao grupo estava em tudo quanto é lugar. Se você ainda não ouviu falar dos caras e quer entender o que, aparentemente, parece um bando de gente sem pé na realidade, vale acompanhar a série, disponível na HBO.
Nela você vai perceber que o QAnon é um agrupamento de pessoas que acreditam em conspirações que vão de governos compostos por satanistas pedófilos até a noção de que Donald Trump é o grande salvador da política internacional. O ditador norte-coreano Kim Jong-Un seria um dublê que trabalha para a CIA, e outras loucuras do tipo O documentarista Cullen Hoback acompanha o grupo desde 2018, quando os primeiros fóruns de discussão passaram a mencionar a sigla nos EUA.
A série pode despertar o riso, mas o assunto é sério. O FBI, aliás, já afirma que o grupo pode ser uma espécie de organização terrorista doméstica com ação principalmente na chamada deep web - ou internet profunda -, formada por fóruns que fogem dos mecanismos de indexação das grandes ferramentas de busca. No escuro, acha-se de tudo: de venda de drogas a armas e prostituição.
"Q: no olho da tempestade" chama a atenção do espectador brasileiro em um momento em que as teorias conspiratórias parecem ganhar espaço no debate público. A série joga luz sobre como nascem os grupos conspiratórios, gestados na cabeça de ressentidos com pouca educação formal, e mostra como eles são perigosamente cooptados por integrantes conservadores no poder. Não perca.
…no G-7: na quarta-feira (5), os ministros das Relações Exteriores do G7 - o grupo das sete maiores economias do mundo - anunciaram um mecanismo coordenado para que os países-membros possam responder rapidamente a eventuais ações estrangeiras de "desinformação e desestabilização das instituições democráticas". Nenhum país foi citado, mas, diante das críticas feitas por esses mesmos chanceleres a "desinformações sobre vacinas vindas de grupos russos", o destinatário do plano parece ter endereço certo.
…no Twitter: o escritor Paulo Coelho usou seu perfil nessa rede social para acusar aqueles que propagam desinformação sobre Covid-19 no Brasil como os verdadeiros responsáveis pela morte do ator e humorista Paulo Gustavo, ocorrida na terça-feira (4): "Assassinos de Paulo Gustavo: quem dizia 'é só uma gripezinha', 'não passa de 200 mortes', 'cloroquina resolve', 'gente morre todo dia', 'Lockdown destrói o país', 'máscara nos faz respirar ar viciado', 'eu obedeço o comandante'. E por aí vai. Canalhas da pior espécie". O conteúdo foi retuitado mais de 15 mil vezes e, segundo o TweetReach, o escritor foi chamado de "velho comunista" e "inconsequente".
…no Facebook: reportagem da jornalista Erin Burnett no canal da CNN na plataforma mostra que um dos grupos onde a desinformação sobre vacina é mais problemático nos EUA é o de mães. Nesses espaços há um bombardeio de notícias de riscos à saúde de grávidas e crianças que tomem vacinas contra a Covid-19. Textos sem evidência científica sobre abortos espontâneos e doenças após a vacinação são os conteúdos mais frequentes, chamando a atenção das autoridades de saúde dos EUA.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana