🔎 Lente #17: Faça parte do Contexto
Boa sexta-feira, 30 de julho. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai ler que:
Lupa lança seu programa de membros com o objetivo de trocar informações, experiências e conhecimento sobre desinformação
Publicidade programática também nos divide e nos isola, impedindo-nos de apontar os anúncios aos quais nos opomos
Estudo mostra que a desinformação sobre vacinas contra a Covid-19 tem método e processo
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Lupa lança programa de membros para quem quer trocar informações, aprofundar conhecimento e compartilhar saberes sobre desinformação
A Lupa lança na terça-feira (3) seu programa de membros, com o objetivo de aumentar o engajamento nos debates e iniciativas de combate à desinformação no Brasil e no mundo. Uma Comunidade de Membros é formada por pessoas interessadas e engajadas em um tema ou causa em comum, com o objetivo de trocarem informações, experiências e compartilharem conhecimento.
Diante de um cenário no qual a desinformação tomou proporções alarmantes, como no Brasil, o programa tem objetivos claros: aprofundar o debate sobre o fenômeno da desinformação e como combatê-la; mobilizar as pessoas com conteúdo que pode ser facilmente replicado e, com isso, tornar as pessoas agentes ativos nessa batalha.
"Com o Contexto, queremos convidar as pessoas a participarem ativamente do combate à desinformação, discutindo o tema e tendo acesso a ferramentas que permitam que elas passem o conhecimento sobre ele adiante. Queremos que essas pessoas se tornem verdadeiros mobilizadores em seus círculos de confiança e vamos apoiar essa mobilização com conteúdos exclusivos, eventos e acesso aos bastidores do que fazemos na Lupa", diz Natália Leal, CEO da empresa. "Fazer parte do Contexto é também uma forma de apoiar o que a Lupa faz com excelência desde 2015 e contribuir para que possamos continuar fazendo nosso trabalho de forma transparente, apartidária e independente", completa.
Qualquer pessoa pode participar do programa. São duas opções de planos com pagamentos mensais ou anuais. O Plano 1, que custa R$ 9,90 por mês ou R$ 99,90 por ano, dá acesso a grupos de discussão nas plataformas do Facebook e Telegram com conteúdos exclusivos e debates aprofundados sobre estratégias de desinformação e manipulação de narrativas, bem como o que está por trás desses fenômenos. E o Plano 2, que custa R$ 19,90 mensais ou R$ 199,90 por ano, dá acesso aos mesmos grupos de discussão e a eventos mensais ao vivo e descontos de 20% na inscrição das oficinas mensais do LupaEducação.
O lançamento será marcado por uma live às 17h, no canal da Lupa no YouTube, com Ronaldo Pilati, professor de Psicologia Social da Universidade de Brasília e autor do livro "Ciência e Pseudociência: Porque acreditamos apenas naquilo em que queremos acreditar", e Sibele Aquino, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Rio, pesquisadora no Laboratório de Pesquisas em Psicologia Social (L2PS) e mestra em Psicologia Social, numa conversa mediada pelo diretor de Marketing e Relacionamento da Lupa, Gilberto Scofield Jr. Os convidados vão debater questões como: por que algumas pessoas são seduzidas mais facilmente por pseudociências, fake news, teorias da conspiração e pelo negacionismo científico; quais as características psicológicas e neurológicas que predispõem os indivíduos a negarem a verdade dos fatos; e se os mecanismos psicológicos que levam alguém a comprar um sapato funcionam da mesma forma para alguém que compra uma ideia.
A gente já percebeu que, sem a ajuda de vocês, os grupos que criam e propagam desinformação vão ganhando terreno entre aqueles que valorizam opinião em detrimento de fatos, privilegiam interesses pessoais a coletivos, que acham que a construção da verdade é um processo que prescinde de anos de aprimoramento em metodologias científicas, que relativizam a verdade achando que consensos científicos e o bem comum podem ser atropelados por vantagens particulares.
Tudo isso está em jogo, e é isso que pretendemos debater no nosso programa de membros. Fique atento ao lançamento nesta terça-feira e veja como você pode se tornar uma parte desse importante movimento contra a manipulação da verdade e no resgate de um debate público pautado por informações verdadeiras e confiáveis, livres de narrativas manipuladas e interesses de grupos.
Um grande abraço,
Gilberto Scofield Jr
Diretor de Marketing e Relacionamento
Mídia Programática: só publicidade automatizada ou manipulação de percepção?
A mídia programática, aquela publicidade intermediada e elaborada a partir de algoritmos, vem sendo alvo de críticas desde pelo menos o escândalo da Cambridge Analytica, especialmente com a revelação de que o formato, quando usado politicamente, não serve apenas para entregar o que a pessoa quer, mas para moldar a sua percepção de mundo. Desde então, todos aprendemos como esses anúncios direcionados podem criar bolhas ideológicas e câmaras de eco, suspeitas de dividir as pessoas e aumentar a circulação de desinformação prejudicial à percepção de um mundo diverso e plural.
O curioso é que acreditava-se — até agora — que a maior parte da programática nas redes sociais e internet, de cunho puramente comercial — o tal e-commerce — tinha como indesejável o incômodo (para dizer o mínimo) ou o ilegal (para ser mais preciso) do compartilhamento não autorizado de dados pessoais, uma preocupação de nove entre dez governos em todo o mundo.
Bem, não é exatamente assim. Um estudo sobre segmentação online publicado no jornal científico "Nature Machine Intelligence" mostra que a publicidade direcionada online também nos divide e nos isola, impedindo-nos de sinalizar coletivamente os anúncios que possam trazer conteúdos inadequados ou mesmo impróprios. Primeiro, porque os anúncios são vistos individualmente e não coletivamente. E segundo, porque os anúncios trazem conteúdos voltados para as percepções e personas captadas pelos algoritmos, tornando mais difícil — como num conteúdo desinformativo em rede social — a percepção de que aquela mensagem pode embutir, por exemplo, um viés preconceituoso. A percepção de um anúncio inapropriado ocorre no mundo físico (talvez quando vemos um anúncio em um ponto de ônibus ou no metrô, por exemplo) e podemos alertar os reguladores sobre esse conteúdo prejudicial. Mas os consumidores online estão isolados porque as informações que veem se limitam ao que é direcionado a eles.
Ou, como diz o resumo do estudo: "A segmentação online isola consumidores individuais, causando o que chamamos de fragmentação epistêmica. Esse fenômeno amplifica os danos da propaganda e inflige danos estruturais ao debate público. As estratégias naturais para enfrentar o problema de regulamentar a publicidade direcionada online, aumentando a conscientização do consumidor e estendendo o monitoramento proativo, falham porque até mesmo consumidores individuais sofisticados são vulneráveis isoladamente, e o conhecimento contextual necessário para um monitoramento proativo eficaz permanece amplamente inacessível a plataformas e reguladores externos".
...no estudo da Graphika sobre vacinas contra a Covid-19: com o apoio da empresa de pesquisa Graphika, a NPR analisou o surgimento de um conjunto persistente de mentiras sobre as vacinas contra a Covid-19: que elas afetam a fertilidade feminina. As ferramentas de análise de dados da Graphika permitiram que a empresa rastreasse os pontos-chave nos quais uma informação é compartilhada ou ampliada. Isso ilustra como muitas dessas mentiras se tornam virais. E qual é o ciclo da mentira? 1) comece compartilhando um fragmento de verdade: depois de receber a vacina Covid-19, "muitas mulheres notaram períodos menstruais intensos", disse Alice Lu-Culligan, Ph.D. na Universidade de Yale que estuda o sistema imunológico e saúde reprodutiva. O que é absolutamente normal, mas vendido como "fora da curva"; 2) Encontre um influenciador para espalhar dúvidas e perguntas. Manjado, né?; 3) Traga outros mitos relacionados, como que algumas mulheres vacinadas podem passar os efeitos colaterais das vacinas para mulheres não vacinadas (???); 4) faça barulho na mídia convencional: dias depois de negacionistas começarem a mentir sobre vacinas e fertilidade, outros influenciadores começaram reproduzir o conteúdo e alguns sites de clickbait escreveram notícias falsas. Taí o desastre.
...no Projeto Pegasus: um dos maiores escândalos de quebra de privacidade digital por governos foi revelado esta semana. Trata-se do projeto Pegasus, capaz de infectar dispositivos Android e iOS em smartphones para realizar ações de espionagem, como copiar mensagens, mapear localizações, gravar chamadas, ativar microfones e câmeras, tudo isso sem que a vítima tenha a menor noção. O grupo israelense NSO, responsável pela tecnologia, afirma que o produto tem como objetivo “coletar dados de dispositivos móveis de indivíduos específicos, suspeitos de estarem envolvidos em crimes graves e terror”. Só que o consórcio Forbidden Stories descobriu que, ao contrário do que o NSO Group alegou por muitos anos, incluindo em um relatório de transparência recente, este spyware foi amplamente mal utilizado. Os dados vazados mostram que pelo menos 180 jornalistas foram selecionados como alvos em países como Índia, México, Hungria, Marrocos e França, entre outros. Os alvos potenciais também incluem defensores dos direitos humanos, acadêmicos, empresários, advogados, médicos, líderes sindicais, diplomatas, políticos e vários chefes de Estado.
Primeiro episódio do Reflexo, o podcast da Lupa, traz Paula Cesarino para falar sobre o Jornalismo e o impacto da desinformação
A Lupa lançou na quarta passada (28) o podcast Reflexo, que vai debater os impactos da desinformação em várias áreas. E você está convidado para ouvi-lo. Numa linguagem simples, os programas trazem discussões aprofundadas sobre como o fenômeno contamina o debate público em temas como diversidade, jornalismo, política, meio ambiente, ciência, entre outros. Neste primeiro episódio, falamos com a jornalista Paula Cesarino, ex-editora de diversidade e ex-ombudsman do jornal "Folha de S. Paulo" sobre o impacto da desinformação no jornalismo. Alguns highlights para vocês:
"Eu acho que tem um momento simbólico nos Estados Unidos, que foi o dia seguinte da posse do Trump, em que a assessora de imprensa dele usou aquela expressão que viria a ser famosa, que é a de "fatos alternativos". O Trump falou que a audiência da posse dele tinha sido a maior audiência da História, o que era absolutamente insustentável. Era só ver as fotos do Obama, né? E aí ela falou isso: 'são fatos alternativos'. Quer dizer, como se existisse a possibilidade de um fato não ser um fato".
"2018 como ponto de inflexão? Totalmente. Uma coisa é antes e outra coisa é depois. Nós tínhamos uma indústria da informação e nós passamos a ter uma indústria da desinformação. Isso passou a ser uma estratégia política. Isso passou a ser uma estratégia de poder".
O conteúdo será oferecido pela Lupa e a produção feita pela @trovao_midia. O podcast está disponível gratuitamente nas principais plataformas de streaming de áudio do país, como Apple Podcasts, Breaker, Castbox, Deezer, Google Podcasts, Pocket Casts, RadioPublic e Spotify.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana