🔎 Lente #18: Junte-se à luta contra a desinformação
Boa sexta-feira, 6 de agosto. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai ler que:
Convidamos você a se tornar aliado na batalha contra as notícias falsas que fragilizam nossa democracia
Facebook bane pesquisadores da NYU que estudavam desinformação em anúncios políticos e conteúdos antivacinação na plataforma
A volta ao trabalho nos escritórios nos EUA, em muitos lugares, só com comprovante de vacinação
Vem cá: você conhece alguém que insiste em compartilhar notícias falsas e teorias conspiratórias? Então mande o link para essa pessoa assinar esta newsletter.
Contexto é um convite para a criação de uma frente nacional contra as ameaças da desinformação
Vocês devem ter visto que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes aceitou a notícia-crime enviada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e incluiu o presidente Jair Bolsonaro no inquérito sobre os ataques sem provas ao sistema de votação eletrônico do país. O próprio TSE foi a público para desmentir o presidente, que mentiu sobre o conteúdo de um inquérito da Polícia Federal para alegar que se tratava de indícios de fraude nas eleições. E o presidente reagiu um tom acima, dizendo que poderia responder à decisão de Moraes com uma ação que não está "dentro das quatro linhas da Constituição".
Essa crise entre os poderes com ameaças de viés autoritário é o que ocorre quando se usa a desinformação como estratégia política, colocando em risco a estabilidade de um país na luta pelo poder. Mas o mal da desinformação vai além: boa parte dos mais de meio milhão de mortos pela pandemia da Covid-19 foram vítimas das consequências políticas da desinformação, fundamental para minar boas práticas de combate à doença, como o isolamento social e o uso de máscaras. Há uma real ameaça desestabilizadora na desinformação. E é preciso, hoje mais do que nunca, estar atento e pronto para combatê-la. Foi com essa preocupação que a Lupa lançou na semana passada o seu programa de membros, o Contexto.
E é com a disposição de criar uma ampla frente de batalha contra a desinformação que gostaria de convidar vocês a participarem conosco dessa jornada: conhecer melhor como ocorre o fenômeno da desinformação, entender por que as pessoas acreditam no que querem acreditar (apesar das evidências), perceber como romper as bolhas e criar pontes entre os grupos com táticas de comunicação não-violenta, aprender como usar ferramentas grátis na internet para checar fotos e dados e quebrar aquela corrente de notícias inventadas ou insustentáveis no grupo de WhatsApp da família.
Ser membro do Contexto não é apenas estar na frente de batalha contra a desinformação. É também ajudar a Lupa a combatê-la, levando informação verificada e letramento digital e midiático onde a imprensa tradicional — e muitas vezes a educação formal — não chega.
Qualquer um pode participar do programa. O Contexto tem duas opções de planos, com pagamentos mensais ou anuais. No Plano 1, você tem acesso a grupos de discussão nas plataformas do Facebook e Telegram com conteúdos exclusivos e discussões mais profundas sobre estratégias de desinformação e manipulação de narrativas, bem como o que está por trás desses fenômenos e do próprio processo de verificação da Lupa. No Plano 2, além disso, o membro tem acesso a conversas mensais e ao vivo com especialistas de várias áreas do conhecimento, além de descontos de 20% na inscrição das oficinas mensais do LupaEducação.
Fazer parte do Contexto é colaborar com um movimento fundamental para a sobrevivência da nossa democracia. Nos vemos lá!
Um grande abraço,
Gilberto Scofield Jr
Diretor de Marketing e Relacionamento
Facebook bane pesquisadores de desinformação da plataforma, e críticos reagem
Na terça-feira (3), a doutoranda da Escola de Engenharia Tandon da Universidade de Nova York (NYU), Laura Edelson, escreveu em seu perfil no Twitter: "Esta noite, o Facebook suspendeu minha conta no Facebook e as contas de várias pessoas associadas à Cybersecurity for Democracy, nossa equipe na NYU. Isso tem o efeito de cortar nosso acesso aos dados da biblioteca de anúncios do Facebook, bem como ao CrowdTangle [ferramenta usada no monitoramento do tráfego de conteúdos na plataforma]". Num fio de quatro tuítes, ela explicou: "Nos últimos anos, temos usado esse acesso para descobrir falhas sistêmicas na biblioteca de anúncios do Facebook, identificar desinformação em anúncios políticos, incluindo muitos semeando a desconfiança em nosso sistema eleitoral, além de estudar a aparente amplificação da desinformação partidária na plataforma".
A notícia caiu como uma bomba entre os estudiosos das plataformas de mídia social, que enxergaram na medida um movimento que visa a silenciar pesquisas que tenham o poder de mostrar um lado nada amigável do Facebook. Os pesquisadores da NYU haviam lançado uma ferramenta no ano passado para coletar dados sobre os anúncios políticos que as pessoas veem no Facebook. Cerca de 16 mil pessoas instalaram a extensão do navegador. Ela permite compartilhar dados com os pesquisadores sobre quais anúncios são exibidos aos usuários e por que esses anúncios foram direcionados a eles.
O Facebook confirmou o bloqueio do acesso: "O projeto da NYU estudou anúncios usando meios não autorizados para acessar e coletar dados do Facebook, violando nossos termos de serviço", disse o diretor de gerenciamento de produto do Facebook, Mike Clark, no blog da empresa. Segundo ele, a empresa agiu "para impedir o roubo não autorizado e proteger a privacidade das pessoas".
Mas os pesquisadores afirmam que não estão coletando informações privadas sobre os usuários. A própria Laura disse que eles não coletam nada além dos anúncios e de dados já públicos. Damon McCoy, professor associado à NYU, também banido, afirmou: "Parece que o Facebook está tentando nos intimidar, e não apenas nós, mas estão tentando enviar uma mensagem a outros pesquisadores independentes que tentam estudar sua plataforma", disse ele. "Precisamos de transparência e responsabilidade."
É bom lembrar que os cientistas do Cybersecurity for Democracy encontraram anúncios políticos enganosos circulando livremente no Facebook em novembro de 2020, apesar das políticas da plataforma. Eles também descobriram falhas na divulgação de anúncios políticos na rede e rastrearam o grau de engajamento de desinformação de grupos de direita. O grupo também rastreava informações falsas sobre Covid-19 e vacinas na plataforma, um assunto que se tornou uma fonte de tensão entre o Facebook e a Casa Branca nas últimas semanas.
Segundo episódio do Reflexo, podcast da Lupa, traz filósofo Marcos Nobre para falar sobre Repactuação democrática e desinformação
No segundo episódio do Reflexo, conversamos com o cientista social, filósofo e professor de Filosofia Política da Unicamp, Marcos Nobre, sobre o impacto da desinformação na difícil tarefa de repactuação política de um país polarizado. Alguns highlights para vocês:
"Por que a ciência vem sendo desqualificada? Ao contrário da sua origem, a partir da Segunda Guerra Mundial, a ciência esteve a serviço do poder político e, portanto, na visão de algumas pessoas, a serviço de algo que a gente poderia chamar de "o sistema", ou seja, do 'establishment' daquilo que fez mal pra todo mundo nos últimos séculos. Então, você tem uma justificativa política para uma afirmação anticientífica, tá certo?...Mas a verdade científica nos importa. Então, é a relação entre política, entre o poder e as pessoas que têm que ser refeita. Nós temos que fazer uma repactuação política".
"Como é que eu vou fazer para democratizar as bolhas? Não no sentido que a pessoa vai deixar de pertencer àquela bolha, vai deixar de se informar daquela maneira. Mas como é que ela vai ser exposta a outras coisas? Como é que os terraplanistas vão ser expostos a outras pessoas? Vão ser expostos a outras opiniões a sério? Porque tem uma coisa de desqualificar simplesmente. Dizer: ah, essa pessoa é terraplanista, eu não converso com ela. Há uma falha do conjunto da sociedade para que uma pessoa se torne terraplanista. É o conjunto da sociedade que falhou. A falha não é daquela pessoa, certo? Então, essa é a falha que nós, coletivamente, temos de encontrar. E a solução é sempre mais democracia, não menos."
Lançado na quarta-feira, 28, o podcast Reflexo busca debater de forma aprofundada os efeitos da desinformação na sociedade brasileira, sempre com convidados especiais. O conteúdo tem a produção da Trovão Mídia. O Reflexo está disponível gratuitamente nas principais plataformas de streaming de áudio do país, como Apple Podcasts, Breaker, Castbox, Deezer, Google Podcasts, Pocket Casts, RadioPublic e Spotify.
...no Twitter: uma das plataformas menos ativas no combate sistemático à desinformação em seu ecossistema anunciou na segunda-feira (2) que está fazendo parceria com as agências de notícias The Associated Press (AP) e Reuters. O objetivo é parte de uma tentativa para reduzir o tráfego de desinformação na plataforma. Por meio do acordo, a equipe de Curadoria do Twitter poderá aproveitar a experiência das organizações parceiras para adicionar mais contexto às notícias e tendências que circulam no Twitter, bem como auxiliar no uso de anúncios de serviço público da empresa durante eventos de alta visibilidade, o uso de etiquetas de desinformação, entre outras ações. Esta é a primeira vez que o Twitter busca o conselho de verificadores de fatos profissionais em uma tentativa de melhorar seu ecossistema de informações.
...na Fátima: se, por um lado, o Twitter tenta reduzir a desinformação se associando a agências de notícias, no Brasil, a plataforma prestou um desserviço ao impedir o funcionamento do robô Fátima — perfil automatizado do "Aos Fatos" que usa inteligência artificial para detectar desinformação e enviar checagens a usuários da plataforma. Sem nenhuma explicação prévia, o Twitter bloqueou o acesso do perfil à sua API na última terça-feira (3). Na prática, isso impede totalmente o funcionamento desse “robô do bem”, que não viola regras da plataforma. Até as 16h desta quinta (5), a situação não havia se normalizado. Torcemos para que seja só um engano e que o acesso à API seja reestabelecido.
...no retorno ao trabalho vacinado: empresas — incluindo Google e Facebook —, universidades, governos estaduais e instituições americanas estão anunciando que só vão aceitar trabalhadores vacinados na volta aos escritórios pós-pandemia. Graças à confluência de negacionistas de vacinas com a variante delta do novo coronavírus, os casos de Covid-19 voltaram a crescer em muitas partes dos EUA. O presidente Joe Biden anunciou que 4 milhões de servidores federais americanos terão agora uma escolha: atestar o status de vacinação completo ou fazer o teste uma ou duas vezes por semana, usar máscaras e enfrentar restrições de viagem. “No momento, muitas pessoas estão morrendo ou vendo alguém que amam morrer”, disse ele.
...em TVs e canais de viés conservadores nas redes dos EUA: estudo recente do Annenberg Public Policy Center, da Universidade da Pennsylvania, descobriu que as pessoas que dizem depender de mídias conservadoras para se informar têm mais probabilidade de acreditar em conspirações sobre vacinas e deixar de se vacinar por conta disso.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana