🔎 Lente #28: Painel de cientistas da OMS volta a estudar as origens da Covid-19
Boa sexta-feira, 15 de outubro. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai ler que:
Novo painel de 26 cientistas da OMS recomeça a estudar as origens do vírus da Covid-19. O brasileiro Carlos Morel, da Fiocruz, faz parte do grupo
Regras mais frouxas no Telegram tornaram o aplicativo de mensagens o quinto mais popular do mundo
Pesquisa revela que a maioria dos jovens nos EUA tem iPhone, compra roupas, assiste à TV e encontra parceiros quase exclusivamente em seus telefones. O consumo de conteúdo e desinformação também é móvel
Sabe aquela pessoa do grupo de WhatsApp que insiste em mandar notícia falsa pelo aplicativo? Então, mande o link para essa pessoa assinar esta newsletter!
Brasileiro integra novo painel de 26 cientistas da OMS para reiniciar estudo de origem da pandemia
E a ciência vai de novo tentar entender como surgiu o Sars-Cov-2, o vírus da Covid-19, que é objeto de nove entre dez teorias conspiratórias sobre a nova pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na quarta-feira (13) uma nova equipe de cientistas de vários países que vão investigar as origens da pandemia de Covid-19. O Grupo de Aconselhamento Científico sobre as Origens de Novos Patógenos (conhecido como Sago) também terá a tarefa de mapear as origens de eventuais futuros surtos e epidemias, orientar os estudos de patógenos emergentes de maneira mais geral para que a humanidade não seja pega de surpresa e tentar reduzir a quantidade de desinformação que este processo gera.
O Sago é composto por 26 pesquisadores (11 são mulheres), cada um de um país. E um brasileiro: Carlos Morel, coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz. Seis também fizeram parte da equipe internacional que viajou à China no início deste ano para estudar as origens da pandemia com colegas chineses. O relatório da equipe anterior havia apontado para uma origem natural do Sars-CoV-2, chamando um possível vazamento de um laboratório em Wuhan, China, de "extremamente improvável". O diretor-geral da OMS disse mais tarde, no entanto, que era muito cedo para descartar essa hipótese. A desinformação ficou no ar, e a missão desta equipe é chegar a um veredito e tentar minimizar as conspirações.
Embora a China tenha desafiado o apelo para investigar a hipótese de vazamento em seu laboratório de Wuhan, a OMS incluiu um cientista chinês: Yungui Yang, vice-diretor do Instituto de Genômica de Pequim na Academia Chinesa de Ciências e um dos líderes do grupo no lado chinês durante a primeira missão das origens. O membro dos EUA é Inger Damon, diretor da Divisão de Patógenos e Patologia de Alta Consequência dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs).
“Este é um grupo de especialistas impressionante” com “gênero e representação geográfica relativamente bons”, diz Alexandra Phelan, advogada da Universidade de Georgetown, especializada em saúde global. Ainda assim, ela acrescenta: “Dadas as desigualdades históricas, grupos internacionais de especialistas como este deveriam ter como alvo mais de 42% de mulheres”.
Phelan observa que os termos de referência da Sago também incluem experiência em "ética e ciências sociais, ou outras atividades" relacionadas a surtos de doenças. O trabalho do grupo anterior da OMS ocorreu em meio a um emaranhado de posturas políticas, conflitos de interesse e teorias conspiratórias mal fundamentadas que eventualmente paralisaram a pesquisa.
Esses problemas ocorreram também em investigações anteriores de surtos, escreveram o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e dois altos funcionários da agência em um editorial na Science publicado na terça. “A cada vez, os cientistas da OMS e de outros lugares enfrentam desafios ― não apenas científicos, mas também logísticos e políticos”, escreveram. Vamos ver o que a gente consegue descobrir agora. E o melhor: tentar estabelecer processos comunicativos que reduzam ao máximo a desinformação sobre novos eventuais surtos na saúde pública, tão prejudiciais para as pessoas quanto a própria pandemia.
Um grande abraço,
Gilberto Scofield Jr.
Diretor de Marketing e Relacionamento
A desinformação no Telegram continua correndo solta
O Reuters Institute e a Universidade de Oxford analisaram o Telegram e chegaram à conclusão de que o jornalismo ― e o próprio app ― pode fazer mais para combater a desinformação na plataforma. Criado pelo empresário russo de tecnologia Pavel Durov para combater a censura e a propaganda de regimes autoritários, ele já enfrentou banimentos, ações legais e escândalos políticos.
A popularidade do Telegram cresceu rapidamente nos últimos dois anos em resposta aos esforços de outras redes para remover informações incorretas ou discursos de ódio e a uma mudança nas regras de privacidade do WhatsApp. Em julho de 2021, o Telegram tinha 550 milhões de usuários ativos em todo o mundo ― mais do que as bases de usuários individuais do Twitter, Snapchat ou Discord. É o quinto aplicativo de mensagens mais popular, depois do WhatsApp e Messenger, do Facebook, e do WeChat e QQ, que dominam o mercado chinês.
De acordo com o Digital News Report 2021 do Reuters Institute, o uso do Telegram dobrou em alguns países no ano passado. O app cresce em todos os mercados. Esse rápido crescimento aumentou a preocupação entre jornalistas e acadêmicos de que o Telegram está se tornando a mais recente fonte de desinformação viral. É mais difícil rastrear como as informações circulam nas chamadas "dark social", ou seja, em aplicativos de mensagens fechados e conversas privadas.
Enquanto o uso indevido do WhatsApp em lugares como Índia e Brasil obrigou a empresa a impor limites ao encaminhamento de mensagens, o destaque do Telegram é a capacidade de disseminar uma mensagem diretamente para os telefones celulares de centenas de milhares de pessoas por meio de “canais” e “mega- grupos”. O Telegram respondeu a algumas pressões de gigantes da tecnologia, como Apple e Google, para remover conteúdo violento no passado, mas resistiu à maioria das pressões para combater a desinformação desenfreada e teorias de conspiração e foi criticado por não responder a solicitações da mídia ou do governo.
De acordo com jornalistas e pesquisadores digitais da Ucrânia, Brasil, Alemanha, Canadá, Bielo-Rússia e Espanha que o Reuters Institute entrevistou sobre o Telegram, existem maneiras de abordar o assunto ― tanto dentro como fora da plataforma. Isso inclui investigar os movimentos do Telegram e seus interesses políticos ou financeiros, produzir um jornalismo mais responsável, obter uma comunicação mais clara dos governos e seguir os esforços contínuos de moderação em outras plataformas de mídia social.
Além disso, os meios de comunicação e as organizações públicas podem aproveitar as vantagens das funcionalidades de transmissão e chat bots do Telegram para alcançar públicos mais amplos e construir comunidades. É o feitiço virando contra o feiticeiro.
O estudo inteiro está disponível para download aqui.
...nos jovens e seus hábitos de consumo de conteúdo: nada menos que 87% dos adolescentes americanos têm iPhones, de acordo com uma nova pesquisa com 10 mil jovens do banco de investimento Piper Sandler. E por que isso é importante? A economia está se tornando móvel à medida que a próxima geração de consumidores compra roupas, assiste à TV e encontra parceiros românticos quase exclusivamente em seus telefones. Isso determina, também, a forma de consumo de conteúdo e o formato de compartilhamento de desinformação a partir dessa geração. Mais curiosidades: os adolescentes de hoje não são apenas mais avançados em tecnologia. Suas prioridades e hábitos de consumo também se desviam de seus predecessores milenares. Eles se preocupam com a sustentabilidade: 51% dos adolescentes compraram itens de segunda mão e 62% venderam coisas que possuem, de acordo com a pesquisa. 14% dos adolescentes consomem carne de origem vegetal. Eles gostam de assistir e compartilhar vídeos: os aplicativos de mídia social mais populares entre os adolescentes dependem de vídeos. 35% dizem que o Snapchat é seu aplicativo favorito, 30% dizem TikTok e 22% dizem Instagram.
...nos ataques cibernéticos e o efeito nas apólices de seguros: uma série de ataques de programas maliciosos está colocando o negócio de seguros cibernéticos em perigo. A AIG disse que suas taxas são até 40% maiores para seus clientes de seguro cibernético, e mesmo os aumentos de prêmios podem não ser suficientes para manter o negócio do seguro funcionando. Casos de programas maliciosos que infectam PCs saltaram de 55% dos sinistros de seguro cibernético em 2016 para 75% dos sinistros hoje, e a Fitch disse em abril que a relação entre perdas e prêmios foi de 73% no ano passado, que é quando as coisas começam a parecer não lucrativas. A reportagem é do CyberScoop.
...num estudo sobre mídia e desinformação da revista M/C Journal: a pesquisa sobre uso da mídia para desinformar sobre a pandemia foi publicada pela Revista Pesquisa Fapesp e traz dados assustadores. A análise de 20 endereços eletrônicos de reportagens brasileiras mais compartilhadas sobre a pandemia em 1.632 grupos no Facebook mostrou que em 43,8% deles os usuários só compartilharam textos cujos títulos poderiam reforçar algum tipo de informação distorcida. Eram manchetes como “’Desemprego é uma crise muito pior que o coronavírus’, diz Bolsonaro” ou “Anvisa suspende ensaio da vacina CoronaVac após ‘evento adverso grave’”. Ainda nesses grupos, 81,8% das mensagens escritas pelos usuários ao compartilharem os links dessas reportagens reproduziam algum tipo de desinformação minimizando a gravidade da pandemia, as medidas de contenção e as vacinas. Com isso, veículos de informação foram usados para reforçar ideias que não se apoiam em evidências científicas. O material foi coletado em março, junho e novembro de 2020.
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Obrigado pela leitura e até a próxima semana