🔎 Lente#32: Na COP26, Brasil fica isolado, é visto como desinformador e voz dissonante na proteção ao meio ambiente
Boa sexta-feira,12 de novembro. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai saber que:
COP26 mostra como a desinformação exerce um papel nefasto nas negociações sobre aquecimento global
“Os checadores de fatos não vão desistir”, afirma diretora da Lupa em premiação internacional
Serviço para assinantes Twitter Blue permite editar os tuítes enviados
Zero paciência com pessoas enchendo seu WhatsApp ou Telegram com conteúdos falsos e teorias conspiratórias mirabolantes? Peça para a criatura assinar esta newsletter.
COP26: Brasil faz feio nas discussões climáticas, e planeta percebe o quão desinformados estamos sobre o assunto
A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) termina hoje (12). Foi mais de uma semana de discussões sobre o aquecimento global entre líderes mundiais e poucos avanços até agora, para a frustração de muitos. A participação brasileira foi marcada pelo constrangimento, desinformação e isolamento, que já era o tom do Brasil no encontro anterior à COP26, a cúpula do G-20, em Roma.
Bolsonaro não participou da abertura da conferência da COP26 na segunda-feira (1) com 117 líderes mundiais e preferiu enviar um vídeo de 5 minutos apresentado em evento paralelo dedicado ao Brasil. Nele, disse que o país "faz parte da solução para superar esse desafio global", ignorando suas políticas sobre o tema que vão justamente na contramão da proteção tanto ao meio-ambiente ― leniência sobre garimpos ilegais, agronegócio e madeireiras em áreas de proteção, etc ― como aos indígenas, defendidos pela jovem Txai Suruí.
No segundo dia, o presidente fez um discurso de 30 segundos no Evento da Cúpula dos Líderes Mundiais sobre Florestas e Uso do Solo, um momento que foi cedido ao Brasil em troca da assinatura brasileira da Declaração de Florestas, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. Os britânicos afirmaram que não faria sentido dar palco para um país que não estivesse disposto a assumir compromissos climáticos. A dissimulação na narrativa do governo foi tão explícita que o presidente ganhou o prêmio irônico de "Fóssil do Dia", dado pelos ambientalistas aos líderes e países que prejudicam as negociações das conferências climáticas da ONU.
Na quarta-feira (10), a Lupa checou o discurso do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Ainda que mais discreto e ponderado que seu antecessor, Ricardo Salles, Leite apresentou uma boa dose de mistificação e exageros em sua fala, de cerca de cinco minutos e meio. Para ficar apenas em uma das falácias, o ministro afirmou falsamente que o país anunciou metas climáticas “ainda mais ambiciosas”. Na verdade, o governo desfez um retrocesso na meta anterior, de 2020 ― o que devolveu a ambição brasileira para 2030 aos mesmos patamares indicados em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff (PT).
Apesar dos discursos e belas intenções sempre mais discutidos do que efetivamente transformados em compromissos durante encontros desse porte, a movimentação nas redes sociais e no próprio noticiário traz à tona o quanto as pessoas ainda desconhecem e mistificam o tema do aquecimento global e das mudanças climáticas. A CBSNews fez um apanhado dessas teorias conspiratórias, algumas velhas e outras novíssimas, claramente surfando na onda da pandemia de Covid-19. Confira:
Isolamentos pela mudança climática estão chegando
Conteúdos desconhecidos têm como alvo públicos que se reúnem em plataformas sociais para protestar contra os isolamentos e bloqueios (lockdowns) da Covid-19 com conspirações de que os governos mundiais irão introduzir "isolamentos pelas mudanças climáticas" e "anunciar uma nova era de controle social e tirania política em nome da proteção ambiental".
A criptomoeda é "neutra em carbono" e regulá-la é uma tentativa autoritária de controle
No início de junho, a senadora democrata dos EUA Elizabeth Warren pediu políticas que reduzam o impacto de "criptomoedas que prejudicam o meio ambiente". Isso provocou uma série de postagens enganosas que rejeitaram as preocupações ambientais bem documentadas sobre a energia necessária para minerar bitcoin e rotularam as declarações de "autoritárias".
A mudança climática é exagerada e não é causada por humanos
Mais de 14% das postagens de mídia social mostradas pelo Blackbird.AI parecem minar aos poucos, em vez de atacar diretamente, o consenso científico de que os humanos têm desempenhado um papel na mudança climática, aparentemente um esforço para semear confusão e dúvida. Em vez de negar o fenômeno, por exemplo, a desinformação antes da COP26 desafiou os modelos matemáticos que vinculam as mudanças climáticas à atividade humana.
A mudança climática é o resultado de experimentos secretos do governo
Uma das conspirações mais criativas que circularam nas redes sociais durante o evento COP26 da ONU é a falsa noção de que a mudança climática é causada por um programa financiado pelo estado chamado High-Frequ Active Auroral Research Program (Haarp). Esta é uma variação da teoria da conspiração "chemtrails", ou "trilhas químicas", que asseguram que substâncias químicas são pulverizadas nas nuvens para alterar as condições atmosféricas. Essa tese também foi usada para justificar a contaminação da Covid pelo planeta.
Um grande abraço,
Gilberto Scofield Jr.
Diretor de Marketing e Relacionamento
O Contexto, nosso programa de membros lançado em agosto, passou por uma reformulação e agora tem vários novos benefícios em um plano só, mais barato. Para falar sobre programas de membros, Larissa Bispo e Marcela Duarte, coordenadoras da Lupa, receberam nesta quinta (11) a editora de Relacionamento da Ponte Jornalismo, Jessica Santos. Elas trocaram várias experiências e fizeram um apanhado do que já rolou tanto no Contexto como no Tamo Junto, programa da Ponte. Confira a live no canal da Lupa no YouTube. E não esqueça de fazer parte do Contexto clicando aqui.
Diretora da Lupa recebe prêmio internacional e afirma em discurso que “os checadores de fatos não vão desistir”
Aqui na Lupa ficamos todos emocionados com o discurso da Natália Leal, nossa diretora-executiva, ao receber na noite desta terça-feira (9) o Prêmio Knight Internacional de Jornalismo de 2021. A honraria é entregue pelo Centro Internacional Para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês) em reconhecimento ao trabalho de jornalistas que se destacam por seu impacto na vida de pessoas em seus países ou regiões.
Na sua fala de agradecimento, ela destacou as dificuldades de se trabalhar com checagem de fatos e fez questão de compartilhar o prêmio com todos os checadores do Brasil. Muito importante também, ao falar com jornalistas do mundo todo, ela ter dado ênfase ao trabalho das mulheres jornalistas, que diariamente precisam lutar contra a misoginia e o machismo.
Melhor do que resumir, aqui está o discurso (que tanto nos emocionou) de Natália Leal na íntegra:"Receber este prêmio é um dos grandes momentos da minha carreira de jornalista. Gostaria de agradecer ao Centro Internacional para Jornalistas [ICFJ] por considerar meu trabalho fundamental nestes tempos estranhos.
Ser uma checadora de fatos não é fácil. Todos os dias, alguém questiona nossos métodos, nossa ética e nossa imparcialidade. Vemos abusos contra a imprensa por parte de governos e do movimento de extrema direita. Eles alegam defender a liberdade de expressão e os direitos individuais, mas na maioria das vezes estão lutando contra nossos direitos fundamentais e ameaçando um dos bens mais valiosos da humanidade: a democracia.
No Brasil, jornalistas e checadores de fatos sofrem assédio virtual todos os dias ― do governo, do presidente e de seus apoiadores. Quero dizer para meus colegas checadores brasileiros que esta honraria é um reconhecimento ao trabalho árduo feito por eles.
Nunca pensei em ganhar um prêmio como este. Minhas habilidades de jornalismo sempre foram destinadas a apoiar equipes e dar aos meus colegas tudo que precisam para fazer seu melhor trabalho.Vejo este prêmio como um reconhecimento a todo o trabalho que os jornalistas fazem nos bastidores. É também um reconhecimento ao trabalho realizado pela minha grande equipe na Lupa no Brasil. É uma honra lutar com vocês contra a disseminação da desinformação.
Há muitas pessoas a agradecer nominalmente, mas preciso destacar minha mãe, minhas amigas e outras líderes mulheres que me incentivaram a perseguir meus sonhos. Cada jornalista mulher em uma redação sabe como é difícil lutar contra o machismo e a misoginia. Eu sou quem eu sou porque elas estiveram lá antes de mim.
As pessoas me perguntam por que checar fatos se isso pode ser tão difícil e desagradável. Minha resposta é simples: precisamos lutar contra a desinformação. Este prêmio aumenta nosso comprometimento, meu comprometimento. Os checadores de fatos não vão desistir, não importa o que aconteça".
Assista a cerimônia no canal do ICFJ no YouTube.
...nas mudanças no Twitter: a "The Verge"publicou uma matéria sobre o novo serviço em teste do Twitter, o Twitter Blue, para assinantes. A empresa está adicionando novos recursos enquanto se expande para novos países e plataformas. O serviço foi lançado em junho passado no Canadá e na Austrália para iOS, mas a partir de terça-feira (16) estará disponível nos EUA e na Nova Zelândia, para Android e web. Talvez o recurso mais útil do Twitter Blue seja o botão desfazer, que permite recuperar os tweets e editá-los antes de reenviá-los (posso pensar em algumas vezes que isso teria me salvado de um erro de digitação embaraçoso ou ter que deletar e reescrever tudo de novo). Outros recursos no lançamento inicial incluíram um modo de leitor para tópicos de tweet, pastas de favoritos, a capacidade de criar um tema para o aplicativo do Twitter e para o ícone do aplicativo e um programa que permite que os assinantes experimentem alguns recursos do Twitter com antecedência. Vamos ver quando chega ao Brasil.
...no cirurgião-geral dos EUA dr. Vivek Murthy: o principal médico da Casa Branca lançou um kit de passo a passo na terça-feira (9) para ajudar as pessoas a combaterem a desinformação sobre as vacinas contra a Covid-19 em seus círculos próximos. "Precisamos de pessoas em comunidades em todo o nosso país que tenham essas conversas", disse ele em uma entrevista ao ABC News. "Não é apenas o governo que precisa se envolver nesses debates. No mínimo, são os indivíduos que têm pessoas em quem confiam suas vidas e que têm grande poder quando se trata de ajudá-los a mover nossas taxas de vacinação na direção certa", Murthy disse. O guia, em inglês, fornece um roteiro para pessoas vacinadas conversarem com pessoas não vacinadas que aderiram a teorias da conspiração ou mentiras que se espalharam na internet sobre as vacinas contra a Covid-19.
Dicas? Correções? Escreva para lupa@lupa.news
Obrigado pela leitura e até a próxima semana
Não sabe o que a Lupa faz com seus dados?
Conheça nossa Política de Privacidade aqui
Enviamos este email porque você assinou nossa newsletter.
Se quiser parar de recebê-la, Clique aqui.