🔎 Lente #33: "Facebook Papers" revela bastidores embaraçosos da Meta e seus efeitos na percepção da realidade
Boa sexta-feira,19 de novembro. Nesta edição da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa, você vai saber que:
"Facebook Papers" continua a crescer enquanto Frances Haugen abastece os veículos sobre "o que falam os funcionários da Meta quando ninguém está olhando"
Lupa lança seu programa de trainees focado em jornalismo e educação como pilares de combate à desinformação tendo as eleições de 2022 como horizonte
Barulhos de notificações de celular afetam sua concentração e percepção dos conteúdos que consome
Zero paciência com pessoas desinformadas, negacionistas e conspiratórias? Pois peça para a figura assinar esta newsletter.
"Facebook Papers": será que a rede social será a mesma depois das revelações do consórcio?
Em setembro, sob o título "Os arquivos do Facebook", o Wall Street Journal começou a publicar uma série de artigos bombásticos com base em documentos internos do Facebook que um denunciante (então anônimo) vazou para o jornal, para Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários americana) e membros do Congresso dos EUA. Uma das reportagens citou uma pesquisa não publicada feita pela própria empresa sugerindo que “o Instagram é tóxico para meninas adolescentes”; outra contou como, mesmo quando Mark Zuckerberg prometeu usar o Facebook para ampliar “informações confiáveis sobre Covid-19”, as postagens eram seguidas por comentários antivacina.
No mês seguinte, em uma entrevista ao programa de TV dos EUA "60 Minutes", descobriu-se que a pessoa que vazou os documentos ao Journal se chamava Frances Haugen e era uma ex-funcionária do Facebook — hoje rebatizado de Meta. Ainda em outubro, Haugen testemunhou perante uma subcomissão do Senado, onde contou o que a mídia americana costuma resumir como "aquilo que os funcionários do Facebook/Meta conversam entre si quando ninguém está olhando".
Haugen disse ao Congresso americano, entre outras coisas, que o Facebook trabalha com algoritmos que incentivam discórdia e que isso muitas vezes mata; que suas ferramentas são projetadas para criar dependência e aumentar o consumo; que pouco fazem para controlar o crime organizado e que é mentira que tratem igualmente seus mais de 3 bilhões de usuários. E confirmou a angústia e os pensamentos suicidas de adolescentes nas plataformas da empresa.
Insatisfeita com a repercussão, Haugen vazou os documentos para outros jornalistas — repórteres de cerca de duas dúzias de organizações de notícias tão diversas como a Associated Press, CNN, Le Monde, Reuters, The New York Times e, no Brasil, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, entre outros. Este consórcio, batizado de "Facebook Papers", segue recebendo um fluxo aparentemente interminável de documentos em sua pasta no Google Drive. Na revelação mais recente, em entrevista à Folha, Haugen disse que os sistemas de inteligência artificial que detectam conteúdos nocivos e potencialmente virais no Facebook não funcionam em outras línguas que não inglês, francês e espanhol. E que não é à toa que o Brasil é classificado como "lugar sensível" para estes tipos de conteúdos. "Desconfio que o português do Brasil não seja bem amparado pelos sistemas de segurança", afirmou.
Para quem estiver curioso sobre os bastidores dos "Facebook Papers", o portal Protocol decidiu publicar tudo o que já saiu a respeito em inglês. São várias reportagens, incluindo relatos desde casos em que a Meta tomou decisões baseadas no humor da política do Hemisfério Norte até a dificuldade do Facebook de contratar engenheiros. A revista The New Yorker fala da dificuldade do consórcio manter suas promessas de publicações conjuntas e fala até no fim da parceria, mas os artigos continuam saindo. A revista Wired faz até um pedido: que o consórcio seja integrado por mais veículos de países emergentes e pobres, onde a influência do Facebook pode até eleger presidentes.
Nick Clegg, um político britânico que virou porta-voz da Meta, faz uma provocação em defesa do Facebook como plataforma de comunicação. Ao jornal The Wall Street Journal, ele diz: "Como acontece com qualquer fenômeno cultural generalizado, os "Facebook Papers" ocasionaram uma reação negativa ou, pelo menos, uma pequena rodada de reconsiderações. O Instagram é realmente mais tóxico do que a TV ou as revistas, ou os tamanhos de amostra dos estudos são muito pequenos para fazerem sentido? É realmente culpa de Zuckerberg que suas postagens pró-vacina tenham sido invadidas por comentários antivacina ou isso é um subproduto necessário para capacitar todos a participarem do mercado de ideias? A mídia social está sendo responsabilizada por questões que são muito mais profundas na sociedade",
Quando Zuckerberg anunciou o novo nome da empresa, seu metaverso e a realidade alternativa como o futuro da companhia, Haugen voltou a alertar sobre os perigos de uma realidade 100% virtual e seu poder de roubar dados pessoais e distorcer ainda mais a visão de mundo das pessoas.
E você? O que acha da participação das redes sociais na percepção das pessoas a respeito da realidade? Ou da verdade?
Um grande abraço,
Gilberto Scofield Jr.
Diretor de Marketing e Relacionamento
Lupa lança programa de treinamento em checagem de fatos de olho nas eleições em 2022
A Lupa lançou nesta quarta-feira (17) o Mirante, seu programa de treinamento em checagem de fatos com foco na cobertura eleitoral de 2022. No programa, que terá duração de três meses, os trainees aprenderão técnicas de combate à desinformação em contextos eleitorais, além de conhecer de perto a rotina de produção da Lupa no Jornalismo e na Educação, que são os dois principais pilares da plataforma na construção de soluções contra conteúdos falsos.
Serão 15 vagas para treinamentos que envolvem capacitação em técnicas jornalísticas de combate à desinformação, checagem de fatos, monitoramento de conteúdos falsos, noções sobre os mais importantes bancos de dados, sobre como funciona um processo eleitoral e iniciativas de distribuição de conteúdo verificado em plataformas digitais, assim como ações de educação midiática com foco no desenvolvimento do pensamento crítico.
"O Mirante é a materialização de um princípio há muito defendido pela Lupa: a solução para a desinformação passa pela educação e pelo fortalecimento do jornalismo. Queremos que nossos trainees tenham uma formação completa em verificação de fatos e educação midiática, para que possam estar ao nosso lado na luta contra a desinformação", diz Natália Leal, diretora-executiva da Lupa.
O Mirante é aberto a estudantes e profissionais de todas as áreas que tenham interesse em construir soluções de combate à desinformação explorando práticas de Jornalismo e a Educação. Além da formação teórica e da vivência prática na Lupa — participando ativamente na elaboração de checagens e projetos especiais — os selecionados terão noções de desenvolvimento de modelos de negócio e operação de empresas jornalísticas. No fim, irão construir um produto de combate à desinformação com foco na Eleição 2022.
O treinamento é totalmente gratuito e será feito remotamente. A partir dessa formação, parte dos selecionados irá atuar na redação da Lupa durante a cobertura eleitoral do próximo ano. As inscrições podem ser feitas aqui e vão até 28 de novembro. E aqui se encontram os detalhes do regulamento do programa. Os selecionados serão conhecidos em 13 de janeiro de 2022.
...nas notificações que você recebe no celular: elas afetam sua produtividade e concentração, inclusive sua capacidade de focar em um conteúdo informativo com a devida propriedade. Um artigo no The Wall Street Journal mostra que as notificações digitais estão embaralhando a mente moderna, com pessoas alternando entre diferentes telas em média 566 vezes por dia, cerca da metade das quais devido ao tipo de interrupções provocadas por toques e bipes de notificações. Embora os intervalos sejam bons, quando as pessoas se afastam de uma tarefa em que estão trabalhando por muito tempo, a mesma pesquisa sugere que as interrupções constantes são piores para a concentração e produtividade porque a pessoa leva em média 25 minutos e 26 segundos para voltar à tarefa original no foco que estava. Os especialistas em produtividade tendem a recomendar a eliminação de notificações além do absolutamente essencial, para que não fiquemos enlouquecidos por uma espécie de prisão sônica de barulhinhos que a gente mesmo programa.
...no chifrudo acima que invadiu o Capitólio dos EUA: as imagens de Jacob Chansley — também conhecido como o "Xamã do QAnon" — usando um chapéu com chifres de búfalo viralizaram pelo planeta em 6 de janeiro. Elas viraram uma espécie de atestado de como as teorias da conspiração sobre fraudes nas eleições americanas entre os seguidores de Trump foram capazes de mobilizar as pessoas até para o crime. Chansley invadiu e vandalizou o Congresso americano baseado numa tese que nunca se conseguiu provar. Nesta quarta-feira (17), um juiz americano condenou o "xamã" a mais de 3 anos de prisão pelo ato. Os detalhes constrangedores do julgamento você lê aqui nesta crônica do El País.
...no relatório final da Comissão sobre Desordem da Informação: essa comissão foi criada pelo Instituto Aspen e composta por um grupo de jornalistas medalhões nos EUA para analisar o impacto da desinformação na sociedade. No domingo (14), a comissão entregou o seu relatório final com conclusões bem pessimistas. Na introdução do relatório, o grupo diz que a desordem de informação atrasa nosso tempo de resposta em questões como mudança climática, e também "mina a democracia [e] cria uma cultura na qual ataques racistas, étnicos e de gênero são vistos como soluções, não problemas." Pior: no passado, eles escrevem, havia a crença de que, para combater as informações ruins, tudo o que precisávamos era de mais informações boas; no entanto, "não apenas elevar o conteúdo verdadeiro não é suficiente para mudar nossa percepção atual." Em alguns casos, a promoção de informações corretivas envolvendo boatos ou teorias da conspiração pode até mesmo agravar o problema.
O Contexto, nosso programa de membros lançado em agosto, passou por uma reformulação e a gente queria convidar você a fazer parte deste novo programa, mais barato e com mais benefícios. A primeira mudança é que o Contexto passa a ter apenas um plano, mais econômico, de R$ 9,90 por mês ― e agora existe a opção para quem quiser contribuir com valores maiores. A lista de recompensas aumentou, ou seja, são mais benefícios por um preço menor:
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