🔎 Lente #34: A Lupa errou, e os erros precisam ser corrigidos
Boa sexta-feira, 26 de novembro. Veja os destaques da Lente, a newsletter sobre desinformação da Lupa:
A Lupa errou, e os erros precisam ser corrigidos
Pesquisadores de Harvard ajudam a entender o funcionamento de campanhas de manipulação midiática
Diretor do Instagram vai testemunhar no Senado americano sobre efeito da plataforma em adolescentes
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A Lupa errou, e os erros precisam ser corrigidos
Checador não pode errar. Mas a Lupa errou.
No sábado (20), Dia da Consciência Negra, fizemos uma publicação em redes sociais indicando a origem de expressões consideradas racistas, com a intenção de alertar e conscientizar sobre elas. Essa publicação, em parceria com o portal Notícia Preta, continha erros. Veiculamos explicações equivocadas sobre a origem de alguns termos e falhamos ao não informar que, em outros, há mais de uma origem possível. Também não indicamos as fontes consultadas para essa publicação.
Alertados por muitos dos nossos leitores, refizemos a apuração. Enquanto ela não era concluída, não nos manifestamos, mesmo com críticas em redes sociais e em colunas em portais de notícias. Com a reportagem concluída e publicada em nosso site, fizemos uma nova postagem, enquanto a original foi apagada. Explicamos em detalhes o que ocorreu no editorial publicado nesta sexta, que você pode ler clicando aqui.
O erro é um assunto muito presente, mas também muito controverso no jornalismo. "Infelizmente, o jornalismo brasileiro é avesso às correções. Para a maior parte das redações, as erratas são um atestado de fragilidade, incompetência ou fracasso. Isso é uma bobagem! Todos os principais meios de comunicação já erraram e não estão livres de repetir isso", considera Rogério Christofoletti, professor e pesquisador do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em ética jornalística, transparência, privacidade e crise no jornalismo, além de membro do Conselho de Ética da Lupa. "Ninguém gosta de errar em público. Mas sempre que isso acontece e é percebido, é necessário sim fazer as devidas correções e, às vezes, até se retratar", completa.
Christofoletti indica duas formas de lidar com o erro no jornalismo. A primeira é reduzir a margem para que ele aconteça, apurando, verificando e garantindo explicações corretas. Na Lupa, sempre seguimos esse padrão e, neste caso, não foi diferente. Como signatários do Código de Conduta da International Fact-checking Network (IFCN), seguimos à risca o compromisso de ter uma política de correção bem explicada e aplicá-la. Somos auditados anualmente e sempre reconhecidos por cumprir este e todos os outros requisitos.
A segunda forma de lidar com o erro jornalístico é corrigi-lo o mais rápido possível. Nós erramos. Nossa resposta foi lenta e tímida. Demoramos três dias para levar ao público a informação mais precisa e, ao fazê-lo, não expressamos abertamente que se tratava de uma correção. As expressões usadas (por exemplo dizer que as explicações que compartilhamos foram "alvo de contestações") abriram espaço para que algumas pessoas entendessem que estávamos tentando disfarçar o erro. Isso não é verdadeiro. Toda a equipe da Lupa teve consciência desde o primeiro momento que tínhamos cometido um erro e que precisávamos trabalhar para corrigi-lo. Se não o fizemos de forma mais ágil foi por entender que era necessária uma apuração ainda mais criteriosa, cuja falta já era a origem do erro.
A audiência nem sempre compreende os processos envolvidos na produção jornalística. E não há motivos para culpá-la por isso. Como lembra o nosso coordenador de Educação, Raphael Kapa, "de acordo com a OCDE, 67% dos jovens brasileiros não sabem diferenciar fato de opinião. Isso é ausência de uma educação midiática, que causa mazelas até a fase adulta”. Kapa considera que "isso se desdobra quando acontece um episódio em que um erro jornalístico é confundido com sites propagadores de desinformação de forma intencional. Entender como é a produção jornalística é uma forma de elevar o nível de debate e de crítica quando acontece um erro jornalístico e também ser incisivo no combate à desinformação”.
A busca por um jornalismo de mais qualidade é um pilar da Lupa, assim como zelar pela credibilidade que conquistamos em seis anos de atuação contra a desinformação no Brasil. Por isso, nossos processos estão em constante atualização. Não temos vergonha em assumir erros. Nos inspiramos no que diz Christofoletti: "Ao assumir erros, jornalistas e meios demonstram maturidade e compromisso com a qualidade da informação. (...) Manter um dado equivocado ou distorcido é ter um compromisso com o erro”.
Buscamos sempre evoluir os nossos procedimentos técnicos em consonância com as mudanças sociais e sob a luz da nossa missão: entregar informação verificada e de qualidade para que todas as pessoas tomem melhores decisões para si e para a sociedade em que vivem. Nosso trabalho se pauta pela qualificação da informação e pelo fortalecimento do pensamento crítico. Sempre soubemos — e ensinamos — que o erro é parte do jornalismo e, por isso, também é parte da checagem de fatos. O fundamental é que estejamos prontos para que, quando eles ocorram, sejam corrigidos de forma célere e transparente.
Nossa metodologia, disponível no nosso site, contempla o erro e nos indica o que fazer diante dele. Nossos profissionais estão abertos a críticas, sugestões e discussões. Sempre. É nisso que acreditamos. Aprendemos muito nesse processo e seguimos trabalhando para corrigir as falhas.
Porque checador não pode errar. Mas vai. E os erros precisam ser corrigidos.
Um abraço,
Natália Leal
CEO da Lupa
Pesquisadores de Harvard ajudam a entender o funcionamento de campanhas de manipulação midiática
A desinformação, chega às redes sociais de forma orquestrada, com finalidades específicas. Pesquisadores do Shorenstein Center, instituto vinculado a Harvard, observaram que as campanhas de manipulação midiática seguem determinados padrões, e desenvolveram uma metodologia para estudá-las. Lançado no ano passado, o Media Manipulation Casebook (Livro de Casos de Manipulação da Mídia, em português) é um ótimo recurso para quem estuda estratégias desinformativas e outras formas de manipulação do discurso público através de ações amplificadas pelas redes sociais. Os textos estão disponíveis gratuitamente.
A metodologia é baseada no chamado ciclo de vida da manipulação midiática (MMLC, na sigla em inglês). Os pesquisadores da equipe da pesquisadora Joan Donovan observaram que ações desse tipo costumam ocorrer em cinco etapas. Começam com o planejamento e a estratégia da ação, depois passam à disseminação das informações em plataformas online (e também offline). A terceira fase é a mais crítica: quando há uma resposta da mídia, que amplifica e dá visibilidade à ação — ainda que de forma crítica. Em uma quarta etapa, há o que se chama de mitigação por parte da própria mídia e das instituições. E, por fim, esses grupos se adequam a essas mudanças e voltam à primeira etapa. Mais detalhes neste guia (em inglês).
No site, é possível consultar 28 estudos de caso que se enquadram nesse ciclo. Em um deles, um médico americano, cuja licença havia sido cancelada em 2009, usou um complexo esquema de notícias falsas, perfis automatizados em redes sociais, publicidade em veículos locais pouco visados e apoio de subcelebridades para vender tratamentos sem eficácia, usando células-tronco, para inúmeras doenças, incluindo Covid-19. Outro, mostra como um grupo de usuários antissemitas do fórum 4Chan criou uma rede de perfis falsos de judeus para publicar opiniões controversas ou absurdas e fazer com que elas viralizassem.
É importante pontuar que nem todos os casos tratam da veiculação de informações falsas e/ou com objetivos reprováveis. Em alguns, o uso dessas estratégias acaba servindo para driblar regimes autoritários e a concentração midiática em diversos países. O objetivo da pesquisa é entender como essas campanhas são realizadas.
Até o momento, nenhuma delas ocorreu no Brasil. Não é, seguramente, por falta de assunto...
...no Instagram: o diretor da plataforma, Adam Mosseri, deve depor ao Senado dos Estados Unidos daqui a duas semanas, segundo o jornal The New York Times. Um dos documentos vazados por Frances Haugen, ex-funcionária que denunciou diversas ocorrências preocupantes sobre a Meta (nome atual do Facebook), falava de uma pesquisa feita pela própria empresa que mostrava efeitos negativos do Instagram sobre adolescentes. O levantamento foi ignorado pela direção da companhia.
O Contexto, nosso programa de membros lançado em agosto, passou por uma reformulação e a gente queria convidar você a fazer parte deste novo programa, mais barato e com mais benefícios. A primeira mudança é que o Contexto passa a ter apenas um plano, mais econômico, de R$ 9,90 por mês ― e agora existe a opção para quem quiser contribuir com valores maiores. A lista de recompensas aumentou, ou seja, são mais benefícios por um preço menor:
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