🔎 Era só um áudio no WhatsApp…
#158: Gravação provavelmente gerada por IA abala eleição em Fortaleza; veja o que a Lupa sabe
Oi!
Aqui Natália Leal, diretora-executiva da Lupa, trazendo a última edição da Lente nas Eleições 2024. Hoje, a Marcela Duarte nos conta como um áudio suspeito tumultuou a acirrada disputa de Fortaleza, no Ceará, confirmando nossas suspeitas de que as mensagens sonoras dariam uma baita dor de cabeça nessa campanha. Se você vai ou não às urnas neste domingo, o recado é o mesmo: desconfie sempre. Ou, como dizemos por aqui, antes de ter certeza, tenha dúvida.
Boa leitura!
O que os ouvidos não ouvem as urnas não sentem
Quando começou a campanha eleitoral, lá em agosto, pairava no ar um clima de tensão por conta do potencial danoso que a inteligência artificial (IA) generativa poderia causar no pleito. Mesmo antes da popularização da IA, em eleições de outros carnavais, já havia uma grande atenção em torno das deepfakes; e, no entanto, a nossa preocupação nunca se confirmou, especialmente pelo custo elevado (e também porque as cheepfakes funcionam e custam pouco).
Passada a eleição indiana – uma das mais relevantes dentre as mais de 60 eleições que acontecem neste 2024 –, respiramos ligeiramente aliviados com a avaliação de que o impacto da IA foi muito menor do que havia sido projetado. Ligeiramente aliviados porque se sabia que havia algo que poderia desequilibrar uma disputa eleitoral e que seria muito difícil de barrar: áudios falsos gerados por IA. E agora parece – parece – que nosso maior medo se confirmou.
Desde o fim de semana passado (19 e 20), um áudio atribuído ao candidato a prefeito de Fortaleza André Fernandes (PL) vem sendo muito compartilhado nas redes sociais e grupos em aplicativos de mensagens. No áudio, ele estaria supostamente alegando que é hora de “derramar dinheiro” para vencer a eleição.
A voz que seria de Fernandes fala que Evandro Leitão (PT), seu adversário na disputa pela prefeitura de Fortaleza, está à frente em uma pesquisa eleitoral, e que aquele seria o momento para comprar votos – uma grave fraude eleitoral.
“Acabei de ver uma pesquisa interna aqui da gente que os caras passaram, o Leitão tá na frente, 3 ponto percentual (sic) já na frente. E assim né, faltam só nove dias para a encerrar as eleições né. Daqui para domingo é derramar dinheiro na mão de pastor, líder comunitário, o que tiver.”
O áudio teria sido gravado em 18 de outubro. Como existem pesquisas internas que não são divulgadas para o público, não é possível garantir que tal levantamento existe ou não. No entanto, os dados coincidem com o da pesquisa Quaest em Fortaleza divulgada no dia 18, que mostra Fernandes e Leitão empatados com 43% das intenções de voto.
Pesquisa estimulada:
André Fernandes (PL): 43%
Evandro Leitão (PT): 43%
Indecisos: 4%
Branco/nulo/não vai votar: 10%
Fonte: Quaest
Na segunda-feira (21), Fernandes se disse vítima de uma deepfake e culpou Leitão pela disseminação do áudio em grupo no WhatsApp. O candidato do PL ainda afirmou que ingressou com ações no Ministério Público e na Polícia Federal. Já o petista disse que Fernandes não deveria se vitimizar já que é “conhecido como o rei das fake news”.
Mas e aí, o áudio foi gerado por IA ou não? O repórter da Lupa Maiquel Rosauro utilizou três ferramentas diferentes de detecção de IA, mas o resultado foi divergente: duas apontaram que é falso e uma, que é real, embora possa ser uma imitação.
O Hive indicou que há 99,9% de probabilidade de o áudio ter sido gerado por IA:
O TrueMedia também indicou que o áudio possui substanciais evidências de manipulação, com 100% de confiança de que o áudio foi gerado por IA.
Por fim, o Resemble Detect indicou que o áudio é real, mas que pode ser uma imitação.
O cientista de dados e pesquisador do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) Ergon Cugler comentou que cada ferramenta usa métodos e algoritmos diferentes de detecção, o que explicaria por que o resultado do Resemble Detect é o oposto do Hive e TrueMedia.
O recado que Fortaleza nos deixa com esse episódio é a importância de sempre desconfiar da veracidade de um conteúdo. A checagem é fundamental, mas ela tem método, tem processo, tem cuidado, diferentemente da desinformação, que é rápida e rasteira. Por isso, nem sempre a checagem vai chegar na velocidade da desinformação. Faltando menos de 24 horas para o início da votação em segundo turno em 51 cidades brasileiras, desconfie de tudo o que você receber e que for uma notícia bombástica ou que comprove de uma vez por todas tudo aquilo que você sempre achou de determinado político – especialmente em se tratando de áudios.
Foi muito polido e bastante qualificado o debate realizado na noite desta sexta-feira (25) entre os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que disputam a prefeitura de São Paulo. O Estadão classificou o evento como “morno” – claro, não teve nenhuma cadeirada. Os candidatos se acusaram mutuamente de “mentirosos”. Confira aqui a checagem feita pela Lupa, que também checou o debate de Porto Alegre. [Marcela Duarte, gerente de Produto]
Com a eleição presidencial nos EUA logo ali, uma investigação da Global Witness trouxe à tona um alerta sobre o compromisso das plataformas de redes sociais em combater a desinformação. Para testar as políticas do TikTok, Youtube e Facebook, foram enviados oito anúncios com alegações eleitorais falsas. E os resultados? O TikTok aprovou 50% dos conteúdos, violando suas próprias regras de conteúdo político. O Facebook aceitou um anúncio enganoso, com leve melhora em relação às eleições de 2022. Já o YouTube inicialmente aprovou 50%, mas bloqueou todos os anúncios, mostrando um esforço maior para evitar desinformação. [Evelin Mendes, editora-assistente]
Nesta campanha eleitoral, a Lupa publicou conteúdos verificados e informação de qualidade nas redes sociais, no lupa.news e em newsletters que foram consumidos mais de 3 milhões de vezes desde o dia 16 de agosto, quando a campanha eleitoral começou oficialmente. O que fizemos até aqui impactou a vida de milhões de pessoas. Tudo isso chega a você e a toda a audiência da Lupa de forma gratuita, e queremos que continue assim, para que não haja barreiras entre as pessoas e o conteúdo de qualidade e verificado. Para isso, precisamos que você considere apoiar o trabalho da Lupa. Clicando aqui você pode doar qualquer valor usando seu cartão de crédito. Se preferir, você também pode fazer um Pix com a chave contexto@lupa.news. Muito obrigada por estar ao nosso lado na luta contra a desinformação. [MD]
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