🔎 Fakes de vacinas ganham novo fôlego
#177: Postagens enganosas alegam que a vacina da Covid-19 está sendo misturada à da gripe para que a população seja imunizada sem saber
Oi, Jefferson Puff, editor da Lupa por aqui. A Lente desta semana aborda um tema que passou a fazer parte do nosso cotidiano em 2020 e nunca mais desapareceu: os ataques contra a vacina para a Covid-19, que foram ganhando novas roupagens, novos formatos, mas mantiveram o mesmo objetivo, desacreditar o imunizante. Para além das mentiras, pânico e confusão, a disseminação desses conteúdos desinformativos tem impactos concretos e reais, como a redução significativa da cobertura vacinal no Brasil e mortes por consequência. Por isso, o repórter Ítalo Rômany nos mostra como nunca é demais revisitar a temática e esclarecer o que é falso e o que é verdadeiro quando se fala em vacina. Boa leitura e um bom fim de semana.
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Sem qualquer evidência científica, postagens nas redes voltam a disseminar desinformação sobre imunizantes com foco em desacreditar vacina da Covid-19
Já se vão mais de cinco anos de pandemia de Covid-19 e as fakes contra as vacinas no Brasil seguem em ondas — vão e vêm, passam por picos, mudanças, mas nunca param. Nas últimas semanas, grupos no WhatsApp têm disseminado áudios antigos que espalham alarmismo sobre um suposto aumento de casos repentinos de mortes por Covid-19 e de efeitos colaterais graves da vacina.
Com o início da campanha de imunização contra a gripe, iniciada na segunda-feira (7), os áudios ganharam ainda mais amplitude. Isso porque, segundo uma das gravações, empresas farmacêuticas como a Pfizer estariam inserindo doses da vacina contra a Covid-19 no imunizante da gripe, com o objetivo de imunizar a população contra o SARS-CoV-2 sem o devido consentimento ou comunicação prévia.
A gravação diz o seguinte:
“Jean, não deixe ninguém da sua família tomar a tal da bivalente para Covid, tá? Que já tá sendo aplicada e não deixe nenhum idoso tomar nenhum, ninguém, ninguém, ninguém. Não tome a vacina da gripe. Como as pessoas não querem tomar a vacina da Covid, eles vão enfiar a vacina da Covid dentro da vacina da gripe. E todas duas vão ser fabricadas pela Pfizer. O objetivo é exterminar 50% da população do mundo. Avise a todos os seus contatos”.
O conteúdo dessa gravação é falso. E você pode até achar engraçado. Mas, na prática, desmentir boatos como esse têm sido como enxugar gelo nos últimos anos. Apenas entre janeiro de 2024 e março de 2025, a Lupa checou ao menos 33 conteúdos enganosos sobre vacina, por exemplo, como a alegação de que imunizantes de RNA mensageiro (mRNA) estavam sendo retirados do mercado e que sua aplicação era contraindicada em humanos, o que é falso.
Atualmente, não há nenhuma vacina combinada de gripe e Covid-19 disponível no Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, as imunizações contra Covid-19 e gripe possuem composições distintas. A vacina contra gripe usada atualmente no Programa Nacional de Imunização (PNI) é do Instituto Butantan.
Ou seja, tomar a vacina da gripe não te protege contra a Covid — e o contrário também vale. Além disso, ninguém está te enganando: ao se vacinar contra a gripe, você não está, sem saber, recebendo a vacina da Covid. Isso é simplesmente impossível de acontecer.
A farmacêutica Pfizer – responsável pelas vacinas bivalentes contra a Covid-19 que são atualmente utilizadas no Brasil – negou que produza imunizantes que ofereçam proteção combinada contra o vírus da Influenza.
Para além das vacinas, os áudios compartilham uma velha mentira já desmentida milhares de vezes: a de que o tratamento precoce tem eficácia. Sim, cinco anos depois, ainda há gente que acredita que um coquetel de medicamentos sem comprovação científica é mais eficaz contra a Covid do que vacinas.
A gravação segue: “Porque as vacinas estão deixando muito mais sequelas do que a própria doença. Os que sobreviveram à doença, tiveram e sobreviveram, estão bem. As vacinas têm um mundo de sequelas. Ele disse que ele não tomou vacina nenhuma, não vai tomar e usou o tratamento precoce para todos os pacientes de Covid que ele atendeu, como eu também usei. Só que ele, eu não perdi nenhum paciente”.
Não dá para saber maiores detalhes dos áudios — quem gravou e por onde foi disseminado. Entretanto, o discurso é velho, reciclado, e recheado de “convicções pessoais” que ignoram completamente a ciência e dão credibilidade a um roteiro de filme de conspiração.
Além disso, apesar de a Covid-19 continuar presente no Brasil, os números mostram que cada vez mais as mortes e os casos vêm caindo. Até a 13ª semana epidemiológica de notificação — que vai até 29 de março deste ano —, o país registrou 168.217 casos de SARS-CoV-2. A título de comparação, no mesmo período de 2024, o país registrou 533.054 casos. Bem longe dos 22,2 milhões de casos ocorridos em 2021.
Em relação aos dados de óbitos, a queda também é significativa. Entre 1º de janeiro e 29 de março de 2025, foram registradas 1.092 mortes por Covid-19. Já no mesmo intervalo de 2024, foram 2.742. Isso representa uma redução de 60,1%.
Os dados podem ser até otimistas, diante do negacionismo que vitimizou mais de 700 mil pessoas na pandemia. Na prática, mentiras como essas disseminadas por esses áudios carregam um preço — e custaram vidas.
Vale reforçar que os dados científicos mostram a eficácia dos imunizantes. Em julho de 2022, pesquisadores do Imperial College London publicaram um estudo que calculou os benefícios das vacinas Pfizer, AstraZeneca e Moderna nos primeiros 12 meses de uso. Eles concluíram que os imunizantes salvaram 19,8 milhões de vidas em 185 países entre 2021 e 2022.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apareceu ao lado do Zé Gotinha na segunda-feira (7), em ação que deu início à campanha de imunização contra a gripe. A meta do governo é vacinar 90% do público-alvo. A presença do símbolo clássico das campanhas de vacinação no Brasil é um resgate à memória afetiva e à tradição de um país que já foi referência mundial em imunização. Apesar das mentiras, devemos continuar fazendo o que sempre fizemos de melhor: proteger nossa gente — vacinada da desinformação.
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