🔎 Caminhões levam doações (e fakes) ao RS
#136: narrativa sobre retenção e multas domina pedidos de verificação e espalha caos nas redes
Hoje a equipe de Produto, formada por Flávia Campuzano, Marcela Duarte e Nathália Afonso, se debruça sobre uma das narrativas falsas mais compartilhadas sobre as enchentes do Rio Grande do Sul: a que diz respeito a caminhões com doações sendo detidos ou multados. Destrinchamos essa fake a partir da apuração do repórter Maiquel Rosauro. Boa leitura!
As doações que se transformam em desinformação ao chegar ao RS
Desde o dia 4 de maio, leitores vêm pedindo para a Lupa verificar publicações que falam sobre caminhões carregados com doações para o Rio Grande do Sul sendo barrados ou multados. Nos primeiros 12 dias deste mês, recebemos mais de 250 solicitações sobre esse tema enviadas pela audiência da Lupa no WhatsApp.
Desinformações de toda sorte envolvendo doações não param de chegar, cada vez na forma de uma nova narrativa. Nesta semana, ganhou força a história de que caminhões com doações estariam sendo confiscados em um posto de combustível na BR 290, em Gravataí (RS), município da Região Metropolitana de Porto Alegre.
No vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem não identificado relata que os veículos estariam sendo abordados no posto para que as cargas sejam desviadas, e afirma que abrigos não cadastrados pelo governo não receberão doações. Em um momento do vídeo, ele chega a afirmar que isso não seria uma “fake news”, já que ele estaria vendo acontecer – atenção, ele alega que estava VENDO aquilo acontecer.
Ainda no domingo (12), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi ao posto em Gravataí e não constatou qualquer ação.
No mesmo dia, a PRF enviou ao repórter Maiquel Rosauro um vídeo mostrando que não havia nenhuma abordagem no posto.
Além das evidências de que não havia abordagem a caminhões no posto, a Polícia Rodoviária Federal e a assessoria de imprensa da rede Postos SIM desmentiram o caso..
Em nota, o governo federal também confirmou que a informação não procedia.
Ou seja, era tudo falso.
A Lupa localizou um segundo vídeo publicado no TikTok que contém as mesmas informações falsas, mas desta vez com várias imagens aleatórias de caminhões em postos da Rede SIM.
Ao realizar uma busca reversa no Google, foi possível ver que as imagens foram feitas em locais e datas diferentes.
Uma das imagens, de um fotógrafo da Agência Brasil, publicada no dia 11 de maio, é acompanhada de uma legenda informando que 400 toneladas de donativos saíram da Base Aérea de Brasília com destino ao Rio Grande do Sul, embarcadas em uma aeronave KC-30 e em 20 carretas do Exército e de empresas voluntárias.
Ou seja, a foto foi usada em um contexto falso no vídeo, junto a várias outras imagens que se referem a outras situações. Tem, por exemplo, uma foto do Posto SIM de Santiago (RS), usada originalmente em um conteúdo que mostra a inauguração do local em fevereiro de 2023. Outra, é de uma carreta sendo abastecida com donativos em Sidrolândia (MS), em 11 de maio, quando os moradores da cidade se organizaram para ajudar o RS. O vídeo também mostra doações do Ministério JesusCopy, de Bragança Paulista (SP), com imagens de 9 de maio; doações de Concórdia (SC), em foto de 10 de maio; e uma carreta de Itapetininga (SP) que chegou a Novo Hamburgo com doações em 10 de maio.
Doações, portanto, que foram embarcadas em outros estados, seguiram viagem e chegaram ao RS sem relação com bloqueios ou multas.
Além da reportagem feita pelo Maiquel, já foram publicadas outros quatro conteúdos na Lupa que tratam do bloqueio ou de multas a caminhões com doações para os atingidos pelas enchentes no RS.
1. Caminhões não estão sendo retidos em postos fiscais
2. Caminhão não foi barrado por excesso de peso
3. O que se sabe sobre multas e restrições a caminhões
4. Vídeo de agressão a suposto fiscal é antigo
Esses cinco conteúdos desmentem informações falsas que dizem respeito somente a caminhões com doações. Porque ainda tem muitas outras fakes sobre doações, como as que envolvem a cantora Madonna, o Uruguai, Portugal, e outras.
O tema das doações mexe com as emoções das pessoas e vira uma questão de amor e ódio, típica da polarização incentivada pela desinformação. É assim que, de uma hora para a outra, uma campanha de solidariedade que mobiliza o Brasil todo vira uma guerra de narrativas. Enquanto as pessoas, nas redes, se confrontam ferrenhamente sobre o rumo das doações, a cortina de fumaça esconde a incompetência política para pôr em prática medidas que contenham a tragédia.
Os supostos entraves do governo às doações para o Rio Grande do Sul não param por aí. As justificativas de dois projetos de lei apresentados na Câmara dos Deputados usam desinformação sobre o tema. O PL 1.633/2024 – que criminaliza o impedimento de entrega de doações em casos de calamidade pública – cita relatos falsos ou distorcidos de que caminhões com donativos estariam sendo barrados na entrada do RS ou que o fornecimento de medicamentos teria passado por “óbices e embaraços para chegar a quem precisa”, o que não é verdade. Já a justificativa do PL 1.571/2024, que propõe um programa emergencial de incentivo a donativos, indica que as prefeituras teriam barrado doações e distribuição de alimentos por falta de nutricionista, informação já desmentida pela Lupa. [Carol Macário, repórter]
A OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, anunciou na segunda-feira (13) o GPT-4o, nova versão do modelo de inteligência artificial (IA). É o primeiro modelo da empresa criado para combinar textos, imagens e áudios em tempo real por conta própria. Segundo a OpenAI, o GPT-4o tem mais capacidade para entender esses conteúdos do que seu antecessor, o GPT-4, lançado em 2023 na versão paga. Usuários compararam esta versão com a assistente virtual do filme “Ela” (“Her”, título original). Segundo o G1, a atualização será liberada gradualmente para todos os usuários, inclusive para a versão gratuita. [Flávia Campuzano, analista de Produto]
O Google anunciou na terça-feira (14) que sua ferramenta de busca vai passar a incluir IA generativa. O sistema, usado por bilhões de usuários, vai receber respostas geradas pela IA no topo dos resultados da pesquisa, acima dos links.
A nova visualização trará pouca visibilidade para os conteúdos originais – e a preocupação é que isso dificulte o acesso à informação de qualidade. Entidades de jornalismo, como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), apontam que conteúdos jornalísticos podem ficar de fora dos destaques. A funcionalidade foi liberada nos Estados Unidos, mas não existe data para chegar ao Brasil. [FC]
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