š Fakes criam falsa oposiĆ§Ć£o entre quem atua no RS
#135: Nova leva de desinformaĆ§Ć£o sobre enchentes coloca Hang e exĆ©rcito em lados contrĆ”rios
Escrevo a abertura desta ediĆ§Ć£o da Lente do apartamento em que moro em SĆ£o Paulo enquanto, estarrecida, vejo na TV as imagens da inundaĆ§Ć£o no Rio Grande do Sul e tomo meu chimarrĆ£o diĆ”rio. O texto destrincha mais uma das desinformaƧƵes que assolam o estado: a disputa de narrativas em torno de quem ajuda mais a enfrentar a situaĆ§Ć£o trĆ”gica. Daqui, a sensaĆ§Ć£o de impotĆŖncia pela distĆ¢ncia Ć© grande. VĆ”rios gaĆŗchos trabalham na Lupa, todos comprometidos em combater a desinformaĆ§Ć£o, independentemente de onde estĆ£o. Em nome deles, eu, Marcela Duarte, gerente de Produto, me solidarizo com o povo rio-grandense.
A que serve alimentar a falsa oposiĆ§Ć£o entre quem atua no RS?
Assim como na pandemia de Covid-19, a desinformaĆ§Ć£o em situaƧƵes extremas, como a que vive o Rio Grande do Sul, vem em ondas. Em pouco mais de uma semana, jĆ” tivemos vĆ”rias:
Rompimento de barragens e abertura de comportas;
Desligamento geral de energia elĆ©trica nos municĆpios;
Ćgua contaminada;
DoaƧƵes retidas;
FiscalizaĆ§Ć£o de jet skis e barcos que atuam no resgate;
Chaves falsas de Pix para doaĆ§Ć£o.
A mais nova delas traz uma disputa de narrativas em torno de quem estĆ” ajudando mais o estado a enfrentar a situaĆ§Ć£o trĆ”gica. ComeƧou com conteĆŗdos questionando a aĆ§Ć£o do ExĆ©rcito. Em um vĆdeo que circula nas redes sociais, um narrador diz que āo ExĆ©rcito estĆ” ajudando quase nada. (ā¦) Mandaram 2 ou 3 helicĆ³pteros para atender todo o Rio Grande do Sulā.
No entanto, o ExĆ©rcito Ć© apenas um dos componentes das ForƧas Armadas a enviar equipamentos ao Rio Grande do Sul. E nĆ£o Ć© seu papel disponibilizar aeronaves. A coordenaĆ§Ć£o das aeronaves utilizadas nos resgates das vĆtimas das chuvas cabe Ć ForƧa AĆ©rea Brasileira (FAB).
De todo modo, desde 30 de abril, o ExĆ©rcito tem atuado no resgate, assistĆŖncia mĆ©dica e desobstruĆ§Ć£o de vias, empregando mais de 58 organizaƧƵes militares, com pessoal e equipamentos especializados, incluindo pelo menos seis helicĆ³pteros, alĆ©m de embarcaƧƵes e veĆculos.
A narrativa desinformativa de que o ExĆ©rcito nĆ£o faz nada ganhou um reforƧo de peso nos Ćŗltimos dias.
Agora, o empresĆ”rio Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamento Havan, aparece em peƧas que estĆ£o sendo compartilhadas nas redes sociais como responsĆ”vel por enviar, sozinho, mais helicĆ³pteros ao Rio Grande do Sul para resgatar vĆtimas das enchentes do que a FAB.
Ainda na semana passada, Hang enviou dois helicĆ³pteros de sua empresa para auxiliar a Defesa Civil do Rio Grande do Sul no socorro Ć s vĆtimas.
Naquele mesmo dia, ao menos dois helicĆ³pteros da ForƧa AĆ©rea e um aviĆ£o de carga jĆ” atuavam no estado, conforme boletim da FAB, publicado no YouTube em 3 de maio de 2024 (minuto 00:19 Ć 1:05).
Ou seja, a informaĆ§Ć£o de que āHang tem mais helicĆ³pteros que a FAB ajudando no RSā Ć© falsa.
TambĆ©m vale pontuar que aeronaves da FAB possuem tecnologia de resgate, a exemplo do modelo remotamente pilotado, RQ-900, que fornece coordenadas e sinalizaĆ§Ć£o a laser, que guiam os helicĆ³pteros aos locais de resgate. Mas essa jĆ” Ć© outra histĆ³ria.
Essa Ć© apenas uma das peƧas que circulam nas redes criando uma falsa oposiĆ§Ć£o entre quem estĆ” atuando para a superaĆ§Ć£o dos reflexos da maior enchente jĆ” registrada na histĆ³ria do Rio Grande do Sul.
Ć curioso notarmos que, atĆ© muito recentemente, o ExĆ©rcito e as ForƧas Armadas eram apresentados como aliados em disputas envolvendo a atuaĆ§Ć£o do governo federal. A que e a quem serve alimentar essa disputa?
Quando as Ć”guas do Lago GuaĆba comeƧaram a inundar as cidades da regiĆ£o metropolitana de Porto Alegre, na sexta-feira (3), a populaĆ§Ć£o rapidamente se organizou criando inĆŗmeros grupos no WhatsApp, que em menos de uma hora chegavam a ter mais de 900 membros. Nesses grupos, as pessoas informam onde Ć© preciso resgate e publicam fotos de parentes, amigos e animais de estimaĆ§Ć£o que estĆ£o desaparecidos. HĆ” tambĆ©m informaƧƵes falsas que vĆ£o desde brigas generalizadas em abrigos atĆ© a proibiĆ§Ć£o de usar barcos em cidades alagadas. Para combater a desinformaĆ§Ć£o, os usuĆ”rios respondem postando comunicados oficiais de Ć³rgĆ£os pĆŗblicos publicados nas redes sociais. [Maiquel Rosauro, repĆ³rter]
A cobertura jornalĆstica sobre mudanƧas climĆ”ticas Ć© cheia de desafios. Para nortear o debate, a professora Luciana Carvalho, da UFSM, publicou um minimanual sobre esse tema. Nele, Ć© possĆvel encontrar conselhos, fontes e verbetes que tratam sobre mudanƧas climĆ”ticas. AlĆ©m disso, a AssociaĆ§Ć£o de Jornalismo Digital (Ajor), em parceria com a AgĆŖncia Bori e a produtora Escuta Aqui, tambĆ©m dedicou um episĆ³dio do podcast Como Cobrir para falar sobre mudanƧas climĆ”ticas. Embora tenha sido publicado em 2022, as informaƧƵes ainda sĆ£o bem atuais,e ressaltam a importĆ¢ncia do jornalismo de soluƧƵes para esse tipo de cobertura. [Victor Terra, analista de EducaĆ§Ć£o]
Se assim como eu vocĆŖ passa muitas horas em frente Ć TV acompanhando o noticiĆ”rio sobre o RS, talvez esteja na hora de dar uma desopilada. A sexta temporada do programa "The Circle: EUA" chegou na Netflix. O reality show reĆŗne pessoas e permite que elas conversem apenas por meio de uma rede social, o "The Circle". Elas podem criar perfis reais ou falsos com o objetivo de conquistar popularidade e vencer o jogo. A sacada dessa nova temporada Ć© que os produtores programaram uma inteligĆŖncia artificial para entrar como participante. Essa IA analisou os dados das Ćŗltimas temporadas, aprendeu a conversar com os outros jogadores e a traƧar estratĆ©gias. Evitarei spoilers, mas o programa Ć© um interessante caso sobre interaĆ§Ć£o entre homens e mĆ”quinas. SerĆ” que uma IA pode criar laƧos com pessoas e vencer um jogo de popularidade? [NathĆ”lia Afonso, analista de Projetos]
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